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quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Muito e muito pouco.

Era para atender aquele pedido, um suplício, uma incontrolável tentativa de sobrevivência. Vinha lá de dentro, do inconsciente, onde minha mente se encontra com o concreto - o retrato da vida.

O pedido de ajuda foi feito por mim mesmo; uma parte de mim já não aguentava tanta injustiça, tanta desigualdade. Não conseguia mais conviver com aquilo. Os olhos que observavam o mundo já não estavam só. Na verdade, a mente enxergava mais que os próprios olhos. E incomodava... Era preciso fazer algo, deixar a inércia para os outros; eu precisava agir de alguma maneira.

Comecei com a senhora que fica pedindo esmolas na avenida principal, faça sol ou chuva. Resolvi conversar, saber o que havia acontecido e o que ela precisava para mudar. A vida daquela mulher era uma grande catástrofe, perdeu tudo e todos; ficando na miséria.

- Do que a senhora precisa para recomeçar? - tive a ousadia (será esse o termo?!) de perguntar.
- Simplesmente...TUDO. - ela disse.

Parei. O que fazer com essa resposta? Passou pela minha cabeça a idéia de fugir, sair em disparada sem uma palavra. Mas não tive coragem, minha mente não me perdoaria... Lembrei que na carteira tinha uns trocados.

Enquanto abria a carteira, aquela senhora ficou me observando, com uma esperança tremenda, que quase me fez desistir novamente. Analisei o que tinha: Uma nota de dez reais, duas notas de dois reais, uma moeda de um real e o papel do extrato do banco - estava devendo 20 reais aos pobres banqueiros.

Olhei para aquela senhora - que me devolvia um olhar carregado de expectativas - e puxei tudo o que eu tinha, só deixando uma nota de dois, o suficiente para voltar pra casa.

Como que pagando uma dívida comigo mesmo, entreguei aqueles treze reais e falei para ela aproveitar aquele dinheiro e fazer, pelo menos, uma boa refeição. Ela respondeu que há dias não almoçava e me agradeceu com uma bênção de uma avó órfã de netos e de carinho.

Saí dali contente e angustiado. Sabia que aquele dinheiro não resolveria o "simplesmente....tudo" daquela senhora. De qualquer maneira, pelo menos por enquanto, me orgulhei daquele extrato negativo do banco. O dinheiro que seria mais um nos enormes cofres bancários, foi mais um também; só que num bolso vazio de quem - com sua miséria - sustenta a riqueza de poucos e se torna invisível pra muitos.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Ficha Olímpica!

Dia 6 de junho eu escrevi nesse blog sobre a expressão tão usada hoje em dia: "Minha ficha ainda não caiu", depois que alguém é surpreendido por algum resultado inesperado. Com o fim das Olimpíadas o que não faltou foi essa frase batida. Veio de tudo quanto é lado, principalmente das mulheres brasileiras que brilharam (se é que podemos dizer que o desempenho do Brasil foi bom) em Pequim. No atletismo, no vôlei, no judô...
Devo ser chato mesmo, mas como é enjoada esta ficha que não cai nunca.
Se sou o repórter, quando recebesse essa resposta, devolveria da seguinte maneira: - Ah, sua ficha ainda não caiu? Então depois que cair, você me avisa que a gente faz a entrevista, ok? - desligaria o microfone e daria as costas para o ficheiro brasileiro. (Não faria nada disso, é claro, mas - ahhhhh - que expressão cansativa!!!!!!!)

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Costurado.

Por um dia gostaria de ter este poder: costurar as pessoas às suas qualidades, a todos os seus atos de bem. Pegaria cada indivíduo, analisaria sua vida por um instante e separaria tudo o que fez de bom - os defeitos estão fora de cogitação. Para não cometer equívocos e injustiças, começaria esta experiência comigo mesmo.


No entanto, olhando para mim, fica claro como é difícil fazermos avaliações de nós mesmos, separando o bom do ruim. É complicado termos posições críticas em relação as nossas atitudes, sermos juízes isentos de atos (e porque não idéias) praticados por nós mesmos. Afinal de contas, pelo menos teoricamente, sempre fazemos o melhor, o que julgamos mais correto, a perfeição mesmo (sem rodeio, pois nunca achamos que estamos errados).


Então - com agulha e quilômetros de linha na mão - comecei a separar meus atos "de bem", de homem direito, perfeitamente adaptado a rotina do ser consciente, humano, preocupado com o meio ambiente e eticetaras da boa conduta da vida em sociedade.


Quando olhei para o lado, a pilha de qualidades (vamos chamar assim, ok?) já atingia umas três vezes a minha altura. Resolvi parar e tentar entender o que eu estava fazendo.


Parei... Comecei então a analisar cada pedaço que formava aquela pilha. Será mesmo que eu era dono daquilo tudo?


Percebi que as coisas não são bem assim, que não é possível pegar um ser humano e tentar extrair dele - puro e simplesmente - atos ou sentimentos que são constituídos de forma muito complexa. Não se pode, na verdade, utilizar uma estatística exata para avaliar e classificar as atitudes de uma pessoa, pois muita coisa está envolvida neste jogo.


Para cada atitude que julgo correta, que tenho certeza de ter feito da melhor maneira, posso ter atingido alguém, ter passado por cima de alguma regra para me sentir bem; consciência mais que limpa.


Comecei, então, a desfazer aquela pilha, a descosturar o que já havia começado e a entender que cada parte daquilo pertencia a um mundo complexo, ligado a outros fatos, a outros indivíduos.
Não foi difícil, mesmo depois desse trabalho, observar os defeitos que eu não percebia antes. Eles borbulhavam aos montes, como que querendo me dizer que estão comigo a todo momento. Entendi o recado; percebi a necessidade de possuí-los também, na mesma proporção que minhas virtudes. Só não ousarei - mais uma vez - em separar esses dois irmãos tão diferentes. Não tenho esse direito. Por isso, posso dizer que hoje, me orgulho das minha qualidades, mas não abro mão dos meus defeitos.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Castelo.

Na nossa vida temos várias formas de expressar o que pensamos. Alguns, cheios de talentos, desenham um mundo repleto de sonhos ou uma vida cheia de dificuldades. De qualquer maneira, através dos traços, eles falam o que pretendem dizer do mundo.
Eu, por outro lado, só sei me expressar através de palavras. Essas que vão saindo de forma voluntária e, muitas vezes, involuntariamente. Mas elas são minha arte, meu modo de ver, fotografar e reorganizar o mundo e meu interior. Ocorre que por algumas circunstâncias, as palavras se embaralham na minha cabeça, formam um caleidoscópio e parecem não dizer nada.
No entanto, por mais que me esforce em não concordar com o que vai sendo escrito, essas linhas me formam, vão me consumindo sem um final pré-definido.
Gostaria de ter o poder de desenhar as outras pessoas através de minhas palavras. Mas aí eu formaria diversas pessoas com um mesmo estilo. Cada um seria um retrato dos meus vícios e, por sua vez, cada um seria um retrato de mim mesmo. Isso não estaria correto. Seria um grande exercício de vaidade...

É, eu não seria capaz de fazer isso. Então, me imagino como um desenhista do mundo. Mesmo sem aptidão para desenhar, eu faria um castelo, daqueles medievais! A diferença é que construiria de areia, pois assim, poderia destruir e reconstruir quando não retratasse o verdadeiro mundo!

Sorte!

Não falo de nenhuma sorte especifica. Não tive nenhuma sorte para falar para vocês. Agora... tampouco sou um cara sem sorte.
A verdade é que a sorte (ou a falta dela) muitas vezes é uma defesa para ocultarmos nossos defeitos. Nos apoiamos nos "se" da vida, tentando entender aonde poderia ser diferente, aonde a sorte não apareceu.
Pode-se chamar também de destino. Isso mesmo, chegar a algum lugar - mesmo sem intenção - pode ser obra do destino. Estamos vivendo, fazendo escolhas e indo para lugares pré-determinados para cada um de nós. Mas não sei se acredito nisso, sinceramente, não sei!
Acredito em luta, suor e ação.
Quem lê assim imagina um enredo perfeito, de uma pessoa completa, cheia de metas e definições; quase impecável! Mas não é nada disso. Estou longe de atingir o objetivo que pretendo, de sorrir por ter chegado ao ápice (não estou falando de dinheiro, ok?, porque dinheiro não é objetivo, dinheiro é conseqüência), mas estou tentando construir esse caminho.
Sei que as vezes é preciso ser meio invisível de si mesmo. Procurar, de verdade, um lugar que me caiba junto com meus sonhos e anseios. Sei que este lugar existe. Estou a procura...
O que não posso é parar no tempo. Olhar para o amanhã como uma repetição cansativa e tediosa. É preciso movimentar - principalmente a mente.
Daqui a pouco começo minha caminhada, entro no trilho mais seguro, paro de patinar em idéias e ações que não me deixam caminhar para frente. Mas esse momento é inevitável. É preciso aprender, aprender e aprender.
Este é um desabafo, de mim para mim. Do meu pensamento com minha atitude. Continuo na luta, que nunca para. Daqui a pouco vou rir desse momento de devaneio e introspecção - mas ele é inevitável.
A caminhada continua...

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