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terça-feira, 30 de março de 2010

Páginas amarelas.

Abri o livro, mas não li as palavras. Comecei a colocar minha história naquele imenso recanto das idéias. Passei por páginas que retratavam um passado amargo, feliz e meu. Saltei folhas em busca de respostas para o futuro, mas essas, diferentemente do livro original, estavam em branco. Claro, o que nos aguarda não pode estar pronto, visto que não se conhece. Peguei a caneta e ameacei traçar meu futuro com minhas próprias mãos, mas percebi a tolice de tal gesto. Escolhi o recolhimento, o reviver os momentos passados. Voltei muitas páginas e fui no começo de tudo. Eu estava ali, descrito do início, do primeiro choro, a primeira palavra... Troquei uma forte relação com aquele objeto tão... tão meu. Percebi que com o passar das páginas, eu ia envelhecendo junto com o amarelar do papel. Gostei do cheiro de velho, o aroma da experiência mostrando que o caminho passado está registrado, mas é preciso tocar as novas folhas a serem escritas.
Sorri como sempre fiz nessa trajetória, mesmo nos momentos difíceis achei lacunas e espaços para ser feliz. Interessante como muitas pessoas estão tatuadas nessas linhas, pessoas que ainda fazem parte do meu hoje e muitas, não menos especiais, que já não estão no convívio. Olhei pra frente e percebi que uma pequena criança me observava. Ela é pequena, tem uns dois anos e ainda não sabe o valor dessa minha história. Tentei imaginar páginas tão novas desse ser tão novo para o mundo. Quantas páginas já terá escrito?
Perguntas e devaneios me trouxeram para esse mundo. Conto essa minha história com meu álbum de infância aqui ao lado. Não é um livro, não têm linhas, nem páginas numeradas. Mas o amarelo das fotos está ali, junto com o cheiro do tempo que se foi e com as páginas em branco esperando novos retratos....

quinta-feira, 18 de março de 2010

Espaço Cultural Praça da Liberdade - Belo Horizonte/MG (por Rafael Horta).

Caros amigos!

Finalmente nossa cidade receberá um espaço cultural e promete ser muito interessante. No final do ano passado fui em uma exposição na própria praça que mostrava como seria o Espaço Cultural Praça da Liberdade. O projeto recebeu influência de vários centros culturais que existem pelo mundo e está sendo realizado em parceria com empresas privadas. No domingo teremos várias atrações, como os shows dos artistas mineiros descritos na reportagem abaixo e inauguração dos dois primeiros espaços.

Quando morei no Rio em 2007/2008, percebi o "abismo" cultural que existe entre estas duas cidades. No Rio a valorização para teatros, shows, exposições, livros, músicas é muito maior que aqui, isso por um lado me deixou encantado com a cidade mas por outro me deixou um pouco triste pela cidade que moramos, com minha ida à Europa ano passado vi um contraste ainda maior sob este aspecto.

Como cidadãos belorizontinos temos sim que apoiar, incentivar e cuidar para que o espaço não seja apenas uma "propaganda" das empresas que estão financiando o projeto. Porém as parcerias me parecem bem sérias e não acredito que instituições como a UFMG entrariam em uma "barca". Belo Horizonte, que domingo "comemorou" o fim do Bar Brasil, acabou de fechar o "Music Hall", tem agora um local para mostrar que mais importante que ter boa comida, mulheres bonitas ou muito minério de ferro é divulgar a cultura e conhecimento de nosso povo, de nossa cidade.

Nos vemos domingo!

(Rafael Horta)


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Segue matéria do jornal Estado de Minas (retirada do portal UAI) falando um pouco mais sobre esse novo espaço cultural de BH.
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Domingo vai ser dia de festa na Praça da Liberdade. Será inaugurado o Espaço Tim UFMG do Conhecimento, na antiga sede da reitoria da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), a primeira a sofrer transformação para integrar o Circuito Cultural da Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul da capital. Apesar de aberto ao público somente na terça-feira, uma grande festa para brindar o novo espaço está sendo preparada para domingo. A partir das 14h, na praça, haverá exposições científicas e, às 18h30, show de Milton Nascimento e Lô Borges, com Fernanda Takai, Rogério Flausino, Wagner Tiso, Marina Machado e Telo Borges.

Arte, ciência e história também têm destino certo em outros cinco prédios históricos, que abrigavam órgãos estaduais. As mudanças, com apoio da iniciativa privada, foram divulgadas em março de 2005, mas até a semana que vem o
governo do estado deve anunciar qual será o futuro de mais quatro imóveis.

Na segunda-feira, dando sequência às inaugurações, o Museu das Minas e do Metal abre suas portas. Ele ocupará a ex-sede da Secretaria de Estado de Educação e foi construído em parceria com o Grupo EBX, que contribuiu com R$ 20 milhões. O espaço vai abrigar o acervo do Museu de Mineralogia, hoje em funcionamento no prédio conhecido como Rainha da Sucata, também na Praça da Liberdade, além de peças e documentos que ajudam a contar a história da exploração do ouro e de minerais no estado, em espaços interativos com imagens cenográficas.

Um único dia de visita ao Espaço Tim UFMG do Conhecimento será insuficiente para desvendar os segredos da
astronomia e da evolução da vida humana. Os cincos andares do centro – construído em parceria entre a empresa Tim, que investiu R$ 13,6 milhões, e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que elaborou a exposição – devem receber cerca de 100 mil visitantes. E a capital vai ficar mais perto do céu: no 5º andar, um planetário – uma espécie de cinema de 180 graus, com imagens digitais e tridimensionais de estrelas, planetas e fenômenos astronômicos – e telescópios de última geração vão aproximar o público dos mistérios do universo.

Os 2º, 3º e 4º andares serão espaços para mostras temporárias e experimentos interativos com temas ligados às ciências, às artes e às tecnologias. Com muita interatividade, alunos e professores de todas as áreas de conhecimento da UFMG elaboraram a exposição de estreia: Demasiado Humano. A origem do universo, o surgimento da espécie humana e o povoamento da Terra, o papel da escrita e ação do homem em relação à biodiversidade são os temas exposição.

Quem provavelmente vai enlouquecer com o espaço é a criançada. “A intenção dessas atrações é despertar a curiosidade de todos para os assuntos retratados. As escolas poderão agendar visitas para os alunos verem o conteúdo da sala de aula de uma maneira diferente”, explica a curadora do espaço, Patrícia Kauark. A Teoria da Evolução vai ser demonstrada em uma mesa sensível ao toque que simula o ambiente em que organismos disputam espaço. Um dos andares é dedicado à relação do homem com o ecossistema. Em um painel giratório, o público perceberá as consequências do consumo irresponsável.

Telefonia


“É como se fosse um supermercado. O cliente escolhe uma geleia e, quando gira o painel, descobre como o consumo desse produto pode prejudicar o meio ambiente”, explica a curadora. Aprender a importância da coleta seletiva também é motivo para as crianças brincarem: em um tapete computacional sensível às pisadas, o visitante passeia pela cidade recolhendo o lixo. Quem pegar mais ganha o jogo. Outro destaque é o crânio de um homem que viveu em Minas Gerais há mais de 11 mil anos. Ele seria integrante dos primeiros grupos humanos caçadores-coletores do estado e companheiro da jovem Luzia (cujo esqueleto é considerado o fóssil humano mais antigo das Américas), achado na região de Lagoa Santa, na Grande BH. No primeiro andar, há o Espaço Tim em que os visitantes vão conhecer um pouco da história da telefonia celular.

A reforma e restauração dos prédios que integram o circuito cultural, a maioria em estilo neoclássico e construídos nas décadas finais do século 19 e no início do século passado, estão orçadas em R$ 90 milhões. Cerca de 95% dos investimentos são de empresas privadas e o restante, do governo estadual."

FONTE: http://www.uai.com.br/htmls/app/noticia173/2010/03/18/noticia_minas,i=151992/CIRCUITO+CULTURAL+DA+PRACA+DA+LIBERDADE+INAUGURA+ESPACOS+DE+LAZER+EM+BH.shtml

quarta-feira, 17 de março de 2010

Saudade do que não vi.

Peguei aquela foto antiga do Pelé. Não sei ao certo o jogo e muito menos o ano da foto, mas o rei estava vestido com a camisa da Seleção e preparava-se para mais um voleio.

Parei no tempo junto com a foto, tentei entender o que se passava no mundo naquele momento, as situações sociais, políticas, as angústias da população que via desfilar um rei pelo gramado e, mesmo que só por aqueles minutos, se esqueciam de seus problemas e aflições.

Olhei aquele repórter atrás do gol, com cara de espanto, como mais um sujeito impressionado com as artimanhas de Pelé. Como deve ter sido bom ver esse sujeito jogar - pensei, com inveja.

Percebi que próximo a outros jornalistas havia uma criança, isso mesmo, um menino de uns 12 anos, com as duas mãos no rosto, como quem vai pela primeira vez num parque de diversões e se encanta com os brinquedos, seus tamanhos e suas cores. Mas, esses objetos de diversão estão sintetizados num homem (homem ou extraterrestre?). A criança está batizada, aquele rosto amparado pelas mãos é o resultado do encanto, de quem presenciou um conto de fadas sendo narrado na sua frente, ao vivo.

Imaginei esse menino, lá pelos anos 1960, chegando em casa e contando sobre o jogo para os parentes e amigos. Imaginei o exagero real, as invenções de qualquer criança sendo contadas com um aumento justificado por mais uma exibição de gala de Pelé. Desejei ser aquele menino, trocaria muitos objetos pessoais com ele para estar naquele jogo, faríamos um acordo que ultrapassa o tempo real, escreveria uma história encantadoramente vivida por mim. Mas, infelizmente, não tenho esse poder. Só me resta criar a sequência daquela jogada e daquele jogo.

...Foi um belo jogo, uma goleada brasileira pra cima do adversário, com dois gols de Pelé - sendo um de voleio. E eu estava lá, atrás do gol, presenciando cada movimento do maior jogador de todos os tempos. Agora posso contar, estive lá. Sou testemunha dos lances, dos gols, dos dribles...

Pronto, estou realizado, espalharei para os amigos que se escondem nesse blog mais essa aventura vivida no mundo concreto da minha mente. Que jogo, que noite, que atuação do Pelé! Se vocês vissem o tanto que nossa Seleção jogou.... Aí que saudade do que não vivi!

terça-feira, 9 de março de 2010

No embalo do Chico.

Estava aqui sem muitos afazeres e comecei a procurar umas músicas do Chico Buarque. Só que - até para variar um pouco - troquei a sonoridade das músicas pelas letras mudas, secas e poéticas. Isso mesmo, minha busca foi sem áudio, da forma mais simples e mais completa de se fazer poesia. Li algumas músicas sem tentar associar com suas melodias. E, para minha (ingênua) surpresa, pude constatar mais uma vez, quanto esse Chico Buarque é talentoso, certeiro, poeta.

Comecei com a músicas "O Velho", uma poesia que lá pelas tantas nos diz:
"O velho vai-se agora
Vai-se embora
Sem bagagem
Não sabe pra que veio
Foi passeio
Foi passagem".

Esse velho que de tanto ir-se indo, acabou partindo e deixando a poesia na voz de quem podia. Viva Chico! E mais, continuo em busca de outras dessas pérolas e encontro logo aqui a música "Linha de Montagem", onde o poeta brinca com os momentos de folga dos operários:
"As cabeças levantadas
Máquinas paradas
Dia de pescar
Pois quem toca o trem pra frente
Também de repente
Pode o trem parar".

E esse operário, descansado e pronto para a batalha do dia-a-dia também se fortalece na labuta, como em "Construção":
"Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina".

E, tijolo pós tijolo, Chico vai me encantando ainda mais, numa espécie de admiração edificante, principalmente quando cria poesias como em "Eu quero Um Samba":
"Essa moça tá decidida
A se pós, pós-modernizar
Ela só samba escondida
Que é pra ninguém reparar".

E essa moça, de brilho único e samba apaixonante não cansa de aparecer em suas músicas. Aqui e ali ela dá o ar da graça e nos faz encantar. É o caso de "Divina Dama":
"Tudo acabado e o baile encerrado
Atordoado fiquei
Eu dancei com você, divina dama
Com o coração queimando em chama".

Cansado, não; surpreso, sim. Mas agora, caros amigos, vocês me dão licença que preciso ouvir essas canções. Elas já falaram sem ser ouvidas, mas meu sentido mais curioso precisa ser presenteado. Vou-me ao encontro dessas músicas. Saio de cena das letras para ser presenteado pelo som. Convido-os a me acompanhar. Vamos?

Pessoas pelo mundo que passaram por aqui:

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