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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

De Plástico ou de verdade?

Hoje resolvi republicar um texto ESCONDIDO aqui em julho de 2010. Para aqueles que não tiveram a oportunidade de ler, espero que gostem! Aí vai:

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As vezes me sinto empoeirado, como uma planta de plástico invisível na mesa de jantar. Preciso me transformar em natureza verdadeira, receber água que garantirá a vida, ganhar cor, respirar ares de um novo viver.

A vida da planta é curta, um rápido tiro de conseqüências belas. Afinal, de que adianta viver muito se num breve existir ela exala perfume e inspira amores?! Prefere manter-se breve, mas intensa.

Plastificá-la significaria eternizá-la na mediocridade, transformá-la num infinito sem vida nem cheiro, ela não escolheria esse caminho.

Nesse mesmo devaneio, me questiono sobre esse louco dia-a-dia que nos metemos. Enlouquecemos na rotina enfadonha, tudo em nome de alguns reais que garantirão a sobrevivência. Somamos dívidas, somamos bens, sonhamos com luxos imaginativamente perfeitos. Mas esquecemos de momentos fundamentais: Assim como as plantas, precisamos criar raízes para sobreviver por mais tempo, para nos solidificar no terreno que pisamos, nas relações que mantemos e até nos sonhos que sonhamos.

Só que a raiz não fica visível. Apesar de fundamental, ela está enterrada, colocada sob a terra, escondida dos olhos dos outros. Assim é nossa vida, devemos nos preocupar com o que vai além do olho alheio, além do julgamento pela aparência física, que um dia envelhecerá e será só marca do tempo. O mais importante, ou melhor, o mais substancial está enraizado, invisível aos  olhos. Mas essa invisibilidade é o que define nossos valores, é a nossa impressão digital, o que nos encanta e nos faz ser motivo de encanto pelos outros.

Admirar alguém, ou uma planta, por exemplo, é isso. É olhar aquela pessoa e perceber o que vem além do que os olhos alcançam, é se encantar por uma beleza escondida naquele interior, é não ter uma explicação por  tamanha admiração, mas somente senti-la. Amizade é isso, amor verdadeiro também.

Afinal, quantos sentidos não são aflorados nos momentos em que estamos com a(s) pessoa(s) especial(is)? E, além daquela flor que enfeita o jardim, que recebe fleches de várias máquinas fotográficas, há outra ao lado (conseguem ver?). Essa última é muito menos exuberante, muito mais defeituosa, muito mais simples; mas, para alguns ou para alguém, ela será motivo de encanto, receberá o fleche mais importante e se transformará de um simples adereço de plástico, numa maravilhosa flor inspiradora de um grande buquê.


segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

SOS TERESÓPOLIS 2.

Ouvindo Casuarina - O Canto do Trabalhador - pra driblar das notícias.. Relembrando os momentos maravilhosos que essa cidade me proporcionou, os amigos que me permitiu fazer, os amores que desenharam forte na minha pele... redescobrindo Teresópolis, mesmo no meio de tanta coisa, tanta tragédia.

Mas os dias estão sendo longos, verdadeiros teste de resistência. Mas nós daremos conta, reconstruiremos belos vales nas montanhas serranas, muitas histórias se escreverão nesse agradabilíssimo ar puro, no verde triste, mas forte...

Pequena passagem pelo ESCONDIDIN, só para refletir, só para não dizer que não passei por aqui, só para redesenhar o mapa interior de Tere. Estamos por aqui, a cidade não está entregue não.


Outra hora eu volto.

(Imagem de arquivo pessoal)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

SOS TERESÓPOLIS.

Anestesiado, olhos arregalados, cabisbaixo, cansado, triste, com medo, mas lutando... Parece um cenário perfeito de um personagem de filme, mas trata-se do semblante da população de Teresópolis depois dessa tragédia que atingiu a cidade. 

Fomos surpreendidos pela intensidade das chuvas na madrugada de terça-feira, fomos vítimas de uma força descomunal da natureza e de uma força de menos dos homens detentores do poder, nossos políticos. Agora todos choram, todos lamentam e tentam encontrar respostas e forças para reagir. 

A solidariedade impressiona, a união de pessoas de várias classes socias separando alimentos, separando roupas, brinquedos, artigos de primeira necessidade; separando dor e tentando encontrar uma fórmula de trazer um pouco de recomeço.

Ontem me arrepiei, tive que parar para respirar depois que vi uma criança chorando porque queria voltar para casa e a mãe tentava acalma-la: - Meu filho, não temos mais casa. Vamos tomar um banho e dormir no abrigo. Nossa, eu tenho casa, eu tenho tudo e sou impotente. Por mais que erga as mangas, por mais que ajude de todas as formas a impotência é minha, o sentimento de culpa compartilho com os responsáveis.

Conforta mesmo, e chega a rasgar um sorriso no meu rosto é ver uma senhora, que mesmo desabrigada, e com dificuldade de se levantar enquanto toma um cafezinho, me responde na maior doçura: - Esse cafezinho está ótimo. - Essa noite a senhora terá um sono de paz, né? - perguntei e ela me respondeu, com um sorriso de arrepiar: - Com a graça de Deus, meu filho, com a graça de Deus... - segurei o choro e sorri pra ela, apaixonei-me por ela, na verdade. Não sei seu nome, seu bairro, sua história de dificuldade, mas o que aprendi nesses minutos de conversa levarei para sempre comigo...

Dois meninos, um de 4 anos e um de 6 chegaram acompanhados do pai me pedindo umas roupas para eles colocarem depois do banho no abrigo. O mais novo, sorridente demais, estava pelado e se divertia com a brincadeira do povo. O baixinho de 6 anos, chamado Lucas, me perguntou: - Tio, não tem uma camisa do Flamengo não? Sorri pela espontaneidade, lembrei das minhas várias camisas rubro-negras no armário, mas ali não tinha nenhuma. Conseguimos uma do Brasil, a 10 do Ronaldinho. Falei: - Viu, não tem do Flamengo, mas tem a do novo craque do mengão. Ele saiu todo bobo em direção ao banheiro, de mãos dada com o irmão peladão...

Esses momentos são fundamentais para colocarmos nossos pés no chão, vermos que perdemos muito tempo dando valor a coisas não muito importantes, preocupados em consumir, em trocar de celular, em comprar Tv de plasma, em comprar e comprar....Mas a vida é tão simples, o sorriso é tão barato, é tão sincero e ensina tanto... Não precisamos abrir mão de boas coisas da vida, de não usufruir dos confortos dignos do suor do trabalho; mas isso é pequeno, isso se perde, isso a chuva leva. Já os sentimentos, os laços, as amizades e o sorriso não há catástrofe que abale. Ontem tentei ajudar, hoje fui lá outra vez, mas o maior beneficiado fui eu. Guardo para mim o sorriso daquela senhora e acredito demais na solidariedade do ser humano. Teresópolis precisa de ajuda - e nós também.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Causo do pernilongo.

Essa história é real, ou melhor, é realmente baseada numa história real; mas é ficção.
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Trabalho nesse prédio há quinze anos. Já vi cada coisa nas dependências do condomínio que Deus até duvidaria dessas palavras tão fiéis. Mas é verdade, de namoros proibidos a ladrões tentando invadir essa área; de tudo um pouco já passou pelos olhos desse humilde servo de Deus.

Mas outro dia... ah esse outro dia foi incrível! Se não sabem, moro num quartinho que fizeram aqui embaixo, coladinho com os carros – eles aqui costumam chamar de quartinho da garagem. Lá vivo com Lurdes, a flor mais formosura que o Homem lá de cima colocou na minha vida. Estamos juntos há 22 anos, não temos filho porque é barriga demais pra alimentar e temos espaço de menos pra criar um cabritinho novo. Mas vivemos bem, ela cuida da faxina de uns apartamentos do prédio e o resto, todo resto da estrutura imobiliária (faxina e serviço de jardinagem) sou eu o responsável – qualquer problema é só me procurar: Zé Pedro às ordens.

Pois bem, deixa eu contar logo esse caso do domingo da outra semana já que logo-logo volto pros meus afazeres. Olha – coçada nervosa na cabeça – era um domingo, por essa luz que ilumina que o que eu vi foi verdade. Tem um senhor que mora sozinho num apartamento aqui do prédio. Ele vive dando umas fugidas no fim de semana e só retorna no domingo – já se falou muito aqui pra onde ele tanto vai nos fins de semana, mas intrometo não, minha relação é profissional com os moradores... A verdade é que nesse dia saí de casa (meu cantinho e da Lurdes) no intervalo do fantástico, aquele programa da televisão, para molhar umas plantas secas de sede... Esse morador de nome meio americano - acho que é seu Iná, mas não sei pronunciar - estava encostando o carro na garagem...

Ao estacionar percebi que ele demorou demais para sair do carro; melhor ainda, isso tenho que dizer com toda humildade é que sei observar sem ser observado. O homi de nome das Américas parecia incomodado com a presença de um mosquito dentro do carro. Jesus, a briga do homi com o inseto estava ficando séria... Ele batia no vidro, tentava pegar o bicho com a palma das duas mãos e nada. Vich, lembrei na hora do conselho de minha velha mãe quando mudei pra cidade grande pra ganhar a vida: - Filho, esse povo de cidade fica meio bitolado. A gente não consegue compreender as coisas que eles fazem não – sábias palavras de mamãe (que Deus a tenha...) eram essas diante dessa cena tão inusitada.

Lurdes estranhou meu atraso e veio atrás de mim – é ciumenta a garrucha (apelido nosso), viu? Expliquei a situação e ela me ajudou a tentar compreender. Naquele momento da chegada de minha garrucha, o homi estava pulando de um banco para o outro do carro, já tinha aberto os dois vidros da frente (num complexo botãozinho preto) e nada de sair, ou melhor, e nada do tal do pernilongo entrar no carro e do homem das Américas sair de lá... Ele já estava com a testa suada, cara de brabo que só e o pobre do bicho parecia zombar do poderoso do 301.

Lurdes ria que era sem parar. E eu brigava com ela: - O muié, nós não podemos rir dos patrões não. A situação ali é séria, viu? – franzindo as sobrancelhas. Quase que tomei frente à situação, ia lá ajudar o pobre do homi, mas tive medo de ser chamado do enxerido, deixa seu América se resolver por lá...

As portas do motorista e do carona já tinham sido batidas em tentativas frustradas de sair de lá. O senhor das Américas estava em posição de ataque, quieto, como que olhando para a presa esperando o melhor momento do ataque.Lurdes mordia os panos de prato pra não soltar o riso. Pronto, depois de muito tempo, de muita luta e muito suor, o homi conseguiu sair do carro sem deixar o inseto entrar. Eu já ia em direção ao meu quartinho, quando Lurdes chamou minha atenção, vermelha que só, para o carro novamente: - Oiá lá, bem...

Num é que o homi tranquilamente se encaminhava para o porta-malas, pra pegar um troço qualquer lá, mas – juro por essa luz, meu Deus – todo o trajeto era observado de perto pelo inseto. Já relaxado e assoviando aquele tal do Peixe Vivo, Iná abriu o porta-malas, colocou a mochila nas costas e quando foi bater a porta, foi surpreendido pelo astuto do pernilongo. O bicho conseguiu entrar no carro, olhou pro homi do 301 e riu – juro que riu, Lurdes também viu, por essa luz que me ilumina!

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