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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Enxurrada de perdas...

O olhar se perdia como a pipa que não tem mais contato com as mãos da criança, que se entrega aos ventos e tem destino incerto. A tristeza batia no peito, roubando o ar, sendo cruel, dura, real. Era preciso recomeçar, era necessário olhar para frente com esperanças, mas tirar da onde? O certo era sua solidão, não havia mais casa, não tinha mais os pais, nem a irmã; perdera o chão.

As chuvas levaram toda história, em poucos segundos destruiu anos de vida. Nunca houve luxo, nunca faltou nada. E agora, o que restou? Somente os olhos perdidos, o entregar da dor vencendo a luta diária. Os amigos estão por perto, mas não sabem como ajudar. As pessoas estão ali, mas a solidão é interior, é fria...

Ele levanta do que restou da casa e pega um porta-retrato com o vidro trincado. Ali estavam eles: O rapaz, o pai, a mãe e a irmãzinha. Mas eles estão só ali, eternizados, sem movimentos naquela foto. E o rapaz foi o que restou. O choro voltou ao rosto, por que fui o único poupado? - se perguntou. Parecia não ter forças para conviver com aquele turbilhão...

Esfregou os olhos tentando conter os soluços, paralisou seus movimentos em busca de resposta. Olhou ao redor, percebendo cada semblante das pessoas que ali estavam. Viu que não estava abandonado, mas o momento era dominado pela dor. Correu em direção ao irmão de seu pai e o abraçou com força, com raiva. Sufocou uns longos minutos naquele abraço, ambos mudos, ambos juntos na dor. Era dali que reconstruiria sua vida, a cabeça agora estava borbulhando, muita perda para entender sua dimensão. Até esboçou um sorriso, mas se puniu, com lágrimas tomando conta novamente...

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Caminhando.... Sonho.

"Caminhavam lado a lado pela estrada. Deserta, quente, de uma paisagem perdida, não ligava a outra estrada, não tinha começo nem final. Era como um rio que não desagua no mar, um rio que simplesmente existe para compor uma paisagem. Mas as duas estavam ali, tendo que procurar sobreviver naquele ambiente desagradável. Nada falavam, só ouviam os passos aleatórios, só gostavam de ter a companhia uma da outra, de não estar sozinhas.

A água já estava acabando, comida não havia mais, era tudo um cenário perfeito de últimos suspiros. De onde viria o resgate, de onde sairia o carro capaz de encontrá-las, se aquela estrada não dava em lugar algum!? Uma resolveu parar e olhar a paisagem em todos os seus cantos, tentar descobrir o que era aquilo, tentar lembrar de um passado que as estivessem levado até ali; mas nada. A outra ameaçou falar algo, pensou em perguntar o nome da outra mulher, tinha certeza que não a conhecia. A reflexão foi sincronizada. Elas se encararam, uma com os olhos cheio d'água; outra seca, mas incrédula.

O céu compunha uma cor forte, um laranja azulado, como um pôr-do-sol hipnotizante. Era diferente, era assustador... As duas fecharam os olhos ao mesmo tempo, forçavam uma busca, uma explicação. Ao voltarem para si e para o mundo, se depararam com um jovem rapaz caminhando em direção a elas...

Ele as encontrou com um sorriso, desses espontâneos. Falou que era um prazer recebê-las nesse mundo novo. Disse que as duas precisariam demais uma da outra a partir daquele momento. Não explicou muito, só pediu que o seguissem. Elas não tinham outra escolha. O rapaz era confiável, parecia, pelo menos. Caminharam mais umas três horas pela estrada, todos em silêncio. Chegaram num imenso portão, separando o mundo que estavam de um belo jardim florido. As duas se olharam, aquele lugar parecia mágico. Nem esperaram pelo convite do jovem e já entraram, confiantes. 

Lá havia uma enorme quantidade de pessoas trabalhando, caminhando, todos sérios, mas pareciam felizes. O jovem as convidou para entrarem numa casa simples e as serviu um banquete delicioso. Aquele lugar, explicou o jovem, era a colônia dos sonhos. Ali se trabalha com os sonhos vindos dos sonos das pessoas na Terra. Daquele portão para dentro não entrava pesadelo, eram só rosas e maravilhosos desejos. Elas estavam sendo convidadas para fazer parte daquele mundo, trabalhar nos sonhos, garantir aos que dormem os mais belos desejos, a fuga da realidade.

As duas se assustaram. Saber que estavam mortas era uma dor desconhecida. E as causas? E as famílias que ficaram para trás? Tinham muitas perguntas a fazer. - Com o tempo as respostas vão aparecendo - garantiu o sorridente jovem, como que adivinhando os pensamentos delas. Elas não tinham escolha: Ou aceitavam fazer parte desse novo mundo real dos sonhos, ou voltavam para a estrada deserta, infinita. Resolveram trabalhar naquele novo mundo, escolheram largar a estrada desconhecida e assustadora. Apostaram no novo e encantado mundo..."

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Acordei assustado, suado. Esse mundo que se criou em minha mente, contado nessas linhas, foi um fruto de um sonho. Não sei se eu era o jovem, ou se fazia parte dessa colônia, mas foi tudo tão real... Será que construíram meu sonho nesse lugar? Muitas perguntas, muitas divagações e o dia pela frente. Deixa eu voltar a realidade, ou seja lá o que isso significa.

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