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sábado, 17 de agosto de 2013

Aprecie com moderação.

Uso ferramentas modernas para recuperar sentimentos para lá de antigos. Navego por redes artificiais, não palpáveis, em busca de algo concreto, que dê sentido. 

De manhã acordei assim, nostálgico de mim. Vontade de sair um pouco desses fios invisíveis que nos metemos, dessa conexão atordoante que a vida (pós)moderna  nos colocou, de dar um salto para longe da areia movediça que a conexão instantânea me afundou. Cansado!

O mais desafiador é usar uma ferramenta típica da sociedade virtual para postar minha nostalgia. Mas aqui me apego e é como se estivesse tecendo letras em papel envelhecido, pautado, com cheiro...

Escrever é um desafogo, um alento das concretudes cada dia mais virtuais na nossa rotina. As pessoas já caminham olhando para baixo, mirando o celular, sem se preocupar, muito menos perceber as coisas que acontecem ao redor (me incluo nessa triste constatação). Hoje, o mais próximo é que está longe, a questão do tempo entrou em colapso, e tenho dificuldade de compreender isso com clareza.


(Imagem retirada do site: http://goo.gl/cLs3QJ)

Me deparo com uma cena que me angustia: Se estamos com alguém e o celular toca, o aparelho vira, naquele momento, o objeto mais importante do mundo, mesmo que se saiba que a ligação em si não tenha tanta importância. O interlocutor fica a deriva, esperando a ligação acabar para ter novamente a atenção da pessoa. Somos celular/dependentes!?

Na linha das novidades do mundo tecnológico, acrescento como as máquinas digitais - assim como os celulares usados como máquinas - ocupam o lugar dos olhos. Basta ver qualquer atrativo turístico para perceber: as pessoas tiram foto até do que nem imaginam, e muitas vezes, e essa é a principal questão, deixam de olhar, de vivenciar aquele momento, tudo em busca de ter um cem número de imagens que, em breve, serão despejadas nas redes sociais, numa espécie de demarcação de território, um jogo de conquistas que determina por onde já se passou.

Mas, obviamente, sei de todos os ganhos que tivemos com esses avanços e não sou nenhum xiita que é contra os avanços tecnológicos, radical contra qualquer tipo de inovação. Só me preocupa a intensidade com que nos apoderamos das ferramentas, como se fossem vitais, como se se tratassem de verdadeiros instrumentos de sobrevivência contemporâneos. Acredito que não, temos que usá-las a nosso favor, mas sempre sem se esquecer dos encontros reais, das paisagens com vento no rosto, num por-do-Sol belorizontino, num livro infantil contado para uma criança, numa conversa, onde os principais agentes são aqueles que estão trocando ali vivenciando as expressões, gestos e experiências. O telefone é ferramenta; e poderia ser aquele antigo, vermelho, usado só para ser atendido em caso de urgência.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Esse povo que só sabe reclamar de quem reclama.

E os caras não param de reclamar!

Exclamação para enfatizar, marcar uma conclusão impaciente, de quem já viveu muito e não consegue mais entender por que as pessoas reclamam tanto da vida. O pouco cabelo contrastando com os vastos que saiam da orelha são mostras que vaidade é coisa para jovens, pra quem perde tempo com essas bobagens... Uma descrição fiel seria um equívoco, deixo vocês com as pistas desse velho senhor que por uma fração de segundos cruzou meu caminho esses dias na rua. E como reclamava....

Entrei numa paranoia de tentar entender como uma pessoa que reclama tanto da vida (em tão poucos segundos), pode reclamar das pessoas que reclamam?! Eu sei, confuso, desculpa, mas foi isso. Segui meu caminho fazendo promessas aos céus que quando envelhecer não terei azedume desse nível nas veias.

Ainda podia ouvir a voz alta do velho senhor enquanto eu atravessava a avenida. Como reclamava de quem reclama... Achei graça. Fui percebido pelos outros, me senti culpado: não podia rir da situação daquele homem? Está certo, o mundo anda muito sério.

Voltei para dentro da timidez que protege e senti pena dele. Vai saber o que ele passa ou passou para estar reclamando tanto por aí (de quem reclama)?! É, vai saber... Resolvi não sentir nada mais. Ajustei os ombros, estava chegando em casa, o barulho atordoante da minha rua me desconectou. Entrei no elevador com a vizinha mal educada do 10º andar, fui ouvindo os lamentos rotineiros até a porta se abrir e eu ser salvo; desci, tive pena daquela caixa entediante que sobe e desce o dia todo. 

Cansei de pensar e entrei em casa reclamando para as paredes desse mundo louco que faço parte. Minha pimenta já mais morta do que viva (apesar de estar apenas uma semana comigo) nem me dava ouvidos... Fui para o banho reclamando desse povo que só sabe reclamar de quem reclama.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O pulso ainda pulsa.

Quanta coisa tem acontecido no nosso país nesses últimos meses: Povo nas ruas, Copa das Confederações, assassinatos bizarros, políticos fazendo o povo de trouxa, um vendaval de brasilidade. Mas será isso tudo novo, ou só um pouco mais do mesmo?

Essa é uma pergunta que me tenho feito desde que fomos para as ruas reivindicar sobre o preço das passagens, o absurdo do dinheiro gasto nos estádios e mais os infinitos motivos que temos para lutar. Acho que houve um cansaço geral. Como já vou me encaminhando para os 30 anos (isso não é assunto para se tratar agora, só para dar uma base temporal), percebo muito que passei por uma geração muito acomodada, de filhos de (aí sim) lutadores contra uma ditadura militar muito violenta. Essa minha reflexão não me tira da responsabilidade não - antes que alguém já venha me acusar, reconheço minhas dívidas. Mas sim, passei por uma adolescência de uma geração acomodada, deslumbrada com o começo desse mundo (encantado?) cibernético, apostando na democracia como mero resultado e fórmula pronta de sucesso.

Agora o jogo virou, me parece. Percebo (e o fato de estar na universidade convivendo com colegas mais novos me acrescentou esse olhar) que os jovens cansaram dessa brincadeira de NO VOTO QUE A GENTE MELHORA O PAÍS. Estamos vendo há tempos que não é por aí... O movimento de sair de casa para ocupar as ruas, para reivindicar o mínimo de compromisso dos representantes políticos, está vivo e presente nessa rapaziada que encarou acabar com o faz de conta que esses políticos se - e nos - meteram. Temos a felicidade de acompanhar bem de perto esse processo, mesmo que ainda sem entender muito bem o que e para onde vamos. Mas acordamos(?).


(Povo nas rua - centro do Rio - Imagem retirada do site: http://goo.gl/W3B4iv)

Relatar um processo enquanto ele acontece é das grandes dificuldades e das enormes armadilhas que podemos entrar. Mas vou me arriscando... Percebo que as esferas de poder andam receosas com os rumos que elas até então davam às políticas, mas que esse povo agora cismou (já era tempo) de tomar conhecimento e de questionar tudo. Os quatro poderes - acrescento a grande imprensa (assim como fazem alguns autores, e não sei precisar quem foi o primeiro a utilizar esse conceito) - estão pisando em ovos sem saber muito bem onde, ou em quem andam pisando.

Essa reflexão me traz uma curiosidade sobre o processo eleitoral que está por vir no final do ano que vem. Arrisco-me (fique à vontade para discordar) a dizer que a base de todo nosso questionamento está na forma e na estrutura do nosso fazer política. Penso que refletir sobre essa engrenagem é o fundamental pilar para mudarmos de fato alguma coisa no Brasil. Nossa construção política é engessada, com os três poderes já cheios de um ranço de alianças para governar, tendo a grande mídia como mediadora e definidora de rumos (através das concessões midiáticas que, na verdade, são tema para outra hora), conceitos e tendências.

Vivemos um momento único de reflexão e de uma oportunidade singular de vermos algo mudar nesse cenário político. Não acredito mais nas legendas políticas e acredito cada vez menos no nosso presidencialismo tupiniquim (onde, para se governar é preciso fazer aliança com o PMDB, por exemplo - coisa boa não pode sair). Também não tenho habilidade, muito menos pretensão de apontar para um caminho mais correto e eficiente para mudarmos o jogo. Hoje, na realidade, estou apostando muito mais nas pequenas ações e nos pequenos movimentos que partem de atitudes nas relações cotidianas. Não adianta irmos para as ruas protestar por honestidade e ética, se não somos capazes de cumprimentar o porteiro do prédio, de ceder o lugar no ônibus para uma senhora de idade, de agir com honestidade sem querer levar vantagem e ser o malandro da história... Fica parecendo um pensamento pueril, meio piegas, mas acredito que nossa retomada de um país digno e honesto na política - independente do formato que ela tiver - começa com os cidadãos que formamos e que serão representantes no futuro.

Posso ter me tornado num homem utópico e até certo ponto ingênuo depois desses movimentos nas ruas, mas confesso que eles me resgataram da total descrença sobre o futuro político do nosso país. O que virá pela frente só o tempo dirá, mas meu otimismo ganhou sobrevida e saiu da UTI, espero que os corações não parem de bater em cada peito de quem ainda acredita.

Ah, para não deixar passar: 

#FORACABRAL

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