Pages

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Curtinha.

Ao começar a escrever, uma das poucas certezas é o contrato com o ponto final, que só pode ser comparado com o abandono. Deixar de lado as palavras, à solta; como a(ssa)ssinar a morte textual. É preciso caminhar...

Trazer uma reflexão do que se acontece ao redor, enquanto o tempo decorre, sem ser olhar para trás é beleza rara, como trocar o pneu com o carro em movimento. Acelerando...

Rasgo os contratos e deixo o barco navegar sem destino.






quinta-feira, 29 de maio de 2014

Não vou torcer contra a Seleção Brasileira. (Xiiiiii....)

"Evite a negação no título". Não, não torço a favor da Seleção por motivo muito natural, mas que não sei explicar muito bem. A Copa de 1994 foi o marco na minha relação: O Senna havia morrido e a vitória nos EUA representou uma vingança de quem estava na fila dos mundias há 24 anos. De lá para cá, o encanto com a canarinho acabou. Talvez muito se explique por eu ter ficado mais velho, descoberto um pouco os reais interesses dos jogadores, em busca de contratos melhores, cifras e mais cifras de uma CBF pra lá de desanimadora. Desde então, acompanho a Seleção muito mais pelo prazer de ver o futebol do que pela torcida de uma conquista em qualquer competição.

(Imagem retirada do site: http://goo.gl/J669p1)

E, caros amigos, Copa do Mundo é especial para os amantes do futebol. Não tem jeito, o clima é diferente, partidas fantásticas, com os expoentes do futebol em campo. A minha empolgação com a Copa não murchou como aconteceu com a minha torcida pela Seleção ao longo do tempo. Sou apaixonado por futebol, por ver uma boa partida, por ir no estádio ver o meu time jogar, independente da situação em que ele se encontra; e a Copa, nesse sentido, é o ápice, onde todo olhar do mundo se volta para ver os craques escrevendo a história, ao vivo.

A Copa no Brasil não deveria ser realizada, ponto! Mas credito essa opinião ao momento de escolha - movido por um esforço monumental dos políticos em trazê-la - do Brasil como sede. Estamos anos luz de estrutura para gastar tanto dinheiro para um evento dessa magnitude. Poderíamos fazer uma Copa decente, sem roubalheira? Claro que poderíamos, com investimento da iniciativa privada, tudo as claras, mas alguém acredita que isso aconteceria no Brasil, sem um 'superfaturamentozinho'? Não sou ingênuo a esse ponto. 

Também é claro que concordo que o que se gastou com a construção (ainda inacabada, por incrível que pareça) de toda infraestrutura deveria ser investido na saúde e, principalmente, na educação. Mas, cá entre nós, poucos amigos do Escondidin, alguém acha que se não houvesse Copa, esse derramamento de dinheiro iria diretamente para as áreas básicas que o país tanto precisa? Alguém acredita?

"O que tinha para ser roubado já foi" - bradou em rede social Joana Havelange, neta do João Havelange, filha do Ricardo Teixeira (bate na madeira três vezes para não dar azar um DNA tão podre!). O momento de insanidade (alguma surpresa) dessa mulher tem lá seu fundo de realidade, detesto concordar. Deixar de realizar a Copa agora traria de volta aos cofres públicos todo dinheiro roubado? Hum, alguém tem dúvida que não?! Se por motivos de corrupção o Brasil perdesse a Copa aos 45 minutos do segundo tempo para outro país essa grana voltaria para os cofres públicos? Se garantissem que sim, eu voto agora para a Copa ser realizada na Inglaterra (ou qualquer outro país).

E os políticos? Impressionante como se aproveitam dos momentos para puxar para eles uma forma de ganho eleitoreiro. Senhora Dilma, Senhores Aécio e Eduardo Campos, ninguém pode levantar o dedo e dizer que o mestre mandou: Foi no governo dela que toda arena foi montada. Se não teve participação direta, também não fez nada para que não acontecesse; já os outros dois candidatos estiveram tão comprometidos como a presidente, principalmente na luta árdua para levar o evento para seus estados quando eram governadores - Aécio, de Mina e Campos, Pernambuco. O rabo de todos eles está bem preso, num enlace perfeito com as cores de todos os partidos. Uma lástima!

Ainda na política vem aquela justificativa: Mas se a Seleção brasileira ganhar será uma vitória da política atual... Acho muito pueril essa análise. Sinceramente, em 1970 muitos acreditavam que a vitória da Seleção seria uma conquista da ditadura, por isso, muitos cruzaram os braços e torceram contra. Veio aquela máquina de futebol maravilhosa (acho que se fosse vivo eu seria contagiado pelo escrete, confesso!) e deixou o mundo boquiaberto. Brasil campeão no campo e a Ditadura derrotada nas eleições gerais de 1974. Ou seja, o povo não ficou entorpecido pela vitória, nem se cegou politicamente. Trata-se, na minha humilde opinião, de uma lenda urbana que se revela pouco construtiva e só trás a baila preferências políticas - em nada acrescenta.

Mas e a efervescência das manifestações, me pergunto? Elas estão à tona desde o ano passado, numa espécie de desabafo por tudo que temos vividos ao longo dos anos. Acho mais que legítimas, tanto que já participei de algumas. Mas estão aproveitando a atenção do evento para entrarem na onda e chamarem a atenção para si, certo? Justíssimo! Qual outra forma de professores, motoristas de ônibus, garis e outras categorias lutarem pelos seus direitos, existiria momento mais oportuno? As lutas são válidas, o que os profissionais recebem é um absurdo. Inclusive, sobre os motoristas de ônibus que estão em greve, penso que só deveriam voltar ao trabalho quando a dupla função (motorista/cobrador) for abolida. Até lá, acredito e apoio a paralisação, tanto da categoria, quanto da cidade. É um absurdo completo os empresários ganharem o que ganham (com alianças entre empresas e políticos) e os motoristas exercerem dupla função.

Mas voltemos a peleja (senão entrarei na discussão sobre o descalabro com a educação e não termino esse texto em 2014)... 

O cenário já está pronto, os turistas que estão chegando no Brasil não têm culpa do descaso e da desorganização do nosso país. Merecem ser bem tratados! Torcer para o Brasil é ser coxinha? Sinceramente, acho muito rasteiro pensar assim, não resolve o problema e o gosto e as predileções de cada um devem ser respeitadas. Não torcerei contra, nem me empolgo com a Seleção, mas quem sou eu para apontar para alguém que vibra com um gol do Brasil e atacá-lo de ingênuo ou coisa do tipo. Não resolve, não ajuda. (É muito fácil ficar atrás das armas das redes sociais declamando asneiras e apontando caminhos a seguir).

O senso crítico não pode ser apagado pelo futebol, mas reduzir os problemas de uma Nação pelo futebol é muito pobre. Sei que estamos chegando num momento de muita visibilidade da Copa do Mundo, ela virou vitrine e não deveria ter sido realizada lá atrás, na escolha. Agora é tarde, Inês é morta! Vamos tirar algumas lições e, obviamente, não esquecermos das lutas que estão em pauta, elas são justas e têm total apoio (não concordo com a quebradeira por quebradeira, quando não se trata de uma reação à violência policial. Mas isso é tema pra outra hora).

As eleições chegam em Outubro. Ponto! Achar que apertar os números "certos" é a única forma de fazer valer a democracia é ser coxinha (lá vou eu apontando...), isso sim! As ruas estão nos ensinando muito (os garis deram uma aula paralisando suas atividades em pleno carnaval do Rio, colocando em pauta suas demandas), os trabalhadores perceberam que podem sim lutar pelos seus direitos, cruzar os braços, cobrar um mínimo de dignidade. No meio do caminho tem uma Copa, "pronta", começando em duas semanas. Que ela sirva de lição, que não cegue nossos problemas, nem seja a única responsável por todos eles.

Façam suas escolhas, torçam para quem quiser, mesmo que a torcida maior seja que essa Copa passe o mais rápido possível. Estarei ligado nos jogos, todos os jogos, o futebol é apaixonante!

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Vizinha do 61.

Há um ano moro sozinho e, desde então tenho observado com mais calma os fatos que acontecem ao meu redor. No 61, logo aqui em cima, mora uma senhora sozinha. Deve ter uns setenta e alguma coisa e, coitada, sofre de problemas psicológicos, fruto da idade - e de abandono também. O aspecto é de mulher sofrida, corpo magro, rosto triste e com as expressões faciais abatidas. O olhar perdido denuncia as restrições psicológicas, de quem jamais poderia morar sozinha.

(Imagem retirada do site: http://goo.gl/yhPbGm)

Lá de cima ela joga tudo - sofro com esse desprendimento. Já voou café, papel molhado, roupa, panos e até um ovo, que não posso garantir, mas, pelo histórico, acho que veio diretamente do 61. Os passos dela pela noite são como de alguém vagando por uma rua desconhecida, é agoniante. Esses dias essa senhora estava brigando sozinha, dizendo palavrões aos montes, numa batalha campal com algum desconhecido. Os outros vizinhos, pouco compreensivos e muito impacientes, se agitaram numa gritaria desnecessária, mandando-a calar a boca, "sua velha louca". O silêncio veio logo depois, fiquei imaginando o sofrimento dela...

Ela dorme numa rede, e o barulho do vai e vem é como uma marcação de um relógio que sinto dentro de casa. Um dia tive que visitá-la. Junto com o pedreiro e alguns curiosos fomos verificar um possível vazamento no banheiro que estava atormentando minha vida (morar sozinho não é fácil, é preciso bater o escanteio, cabeçar e correr para fazer a defesa). Pela primeira vez entrei na casa 61, a falta de móveis me assustou. Só havia a rede, uma televisão em cima de uma cômoda, e nada mais. Ah, importante salientar, vivo numa kitnet, desses imóveis de 20m², onde sala e quarto são sinônimos e cozinha é um espacinho reservado no canto do quarto/sala. A casa dela é igual a minha. Ela só tem uma TV, uma cômoda e a rede.

Entramos na casa, sob total desconfiança da moradora. Enquanto visualizávamos o banheiro, ela ia proclamando impropérios para gente, em voz baixa, angustiante, inaudível. O banheiro era um caos! Minha mente, seletiva como só, apagou a imagem, mas o que não tem como esquecer era a maneira como ela tratava o vazamento que, pelo visto, já se instalara há tempos. Ela abusou do uso de massa branca, vedando passagens da água no banheiro. O canto das paredes estava branco e encharcado, lógico que a água tinha que jorrar... na minha casa.

Enquanto descíamos as escadas, o faxineiro tentava me explicar: - Essa mulher é maluca, vive aí sozinha... Silenciei. O vazamento foi consertado, o trabalho começou lá no 61 e terminou no meu apartamento, dias depois. 

Os barulhos diários dessa senhora são melancólicos, perdidos como seu olhar, mas, talvez ela não saiba que, de alguma forma, essa sua solidão me faz companhia. A rede balança nos meus ouvidos, meu varal recebe os lixos de lá de cima, mas, ainda sim, consigo sentir que pelo menos ela ainda está viva e que tem alguém, literalmente, atento aos seus passos.

Nesse momento, ela parece balançar na rede como uma criança, tamanha velocidade que o barulho sugere.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Lincharam todos nós.

Há muito tempo venho ensaiando colocar essas inquietações no papel, mas os sucessivos acontecimentos têm tirado meu fôlego: Jovem morto atingido por vaso sanitário jogado num estádio de futebol, em Recife; criança morta pela madrasta; mulher linchada, confundida com uma suposta procurada da justiça; caso de racismo no futebol; mulher arrastada pelo carro da PM; criança encontrada morta dentro da máquina de lavar, crime motivado pelo ciúme do primo em relação ao presente de páscoa,... Chega!




(Imagem retirada do site: http://migre.me/j6QcS)


Está complicado, a atmosfera de nossas vidas está diferente, parece mais pesada, pelo menos aqui no Brasil. A violência está tomando uma concretude medieval. Mas em pleno século XXI?

Tenho buscado entender o porquê de tantos casos assim, tendenciando muito colocar a culpa nos políticos, seus atos (?), omissões, mas acho muito rasteiro, como tirar a responsabilidade própria e sentar no comodismo. Mas então, onde precisamos atuar? Estamos passando por um período de transição? As coisas estão nessa violência toda para chegar numa estabilidade? Perdido!

As perguntas são muitas mesmo, as respostas que são tão raras. É difícil analisar o presente, precisamos de um distanciamento, de deixar acontecer, mas acontecer mais o que?! 

Qual o caminho para sair dessa onda caótica, respirar um pouco para não sufocar?! Buscar nos livros, na educação, na religião, nos relacionamentos interpessoais; alguma pista?

No meio do tiroteio de informações, do tempo real, das redes sociais, parece que o sentimento pulverizou. Talvez devêssemos desligar um pouco as máquinas, os 3Gs, pisar no chão da rua olhando para os lados, apostar nas relações, na amizade, viver um amor de verdade... Mas ainda é muito pouco, é só uma contribuição para tentar amenizar os acontecimentos. 

Não tenho respostas. 

Matar uma pessoa por linchamento, sem prova alguma (mesmo se tivesse prova, o papel de julgar e prender não é da população), é uma das coisas mais covardes que se pode produzir numa sociedade. Está preso na garganta ainda. Chega!

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Faturamento* da Globo, um lucro de banco.

Lendo algumas notícias pela internet, uma me chamou a atenção: Os bilhões da GLOBO. O faturamento da emissora em 2013 foi de 14,4 bilhões de reais. Pode parecer só uma constatação numérica que só leva a concretizar o tamanho e poderio dessa emissora no país. Mas esses números ficaram na minha cabeça, talvez sejam significantes para entendermos muita coisa que está acontecendo no Brasil.


(Imagem retirada do site: http://migre.me/hQH5B)

Durante o curso de jornalismo, ouvi muito sobre o fato da imprensa representar o 4° poder no país (muitos defendiam isso, poucos discordavam), como se estivesse acima dos demais poderes, balizando, investigando e esmiuçando para a sociedade tudo o que acontece no país - uma espécie de espelho limpo que reflete os demais poderes. Sempre olhei para essas afirmativas com um pouco de ressalva e até considerando um certo exagero dar tanta importância para a imprensa, mas esse faturamento da GLOBO em 2013 bagunçou meus pensamentos.

Junto a ele vem toda a lamentável cobertura do caso do cinegrafista Santiago Andrade, morto numa manifestação. Realmente, é chocante e precisa ser investigado o que de fato aconteceu com o cinegrafista da BAND. Isso é fato, e não se pode fugir da prisão dos responsáveis. Mas a sede da grande mídia em enfatizar esse caso e, junto a ele, levantar discussões para desmobilizar as manifestações  me assusta. E, mais que isso, já há discussão nos demais poderes constituintes de transformar manifestações em atos terroristas (seria a volta da censura?).

Nesse cenário, voltou a baila essa importância concreta-meio-invisível que a grande imprensa tem de fato. A mediação que estão fazendo do caso, com cobertura ao vivo da prisão do suspeito, tocando no assunto em todos os telejornais de maneira enfática, parece, na verdade, a busca pela prisão de um dos maiores bandidos  do país, como se o Fernandinho Beira-Mar estivesse à solta.

Lemos e ouvimos tanto sobre os lucros dos bancos nos últimos anos. Realmente números absurdos, que vão no sentido contrário dos ganhos do trabalhador médio brasileiro. Fiz uma pesquisa rápida para tentar fazer um paralelo do lucro dessas empresas, com o ganho da emissora (aqui, estou tratando de coisas distintas, no que diz respeito ao montante dos valores, mas que serve para ter uma dimensão do cenário financeiro de grandes arrecadadores do país: o lucro de um banco x o faturamento da GLOBO). O resultado não foi nenhuma surpresa: O Banco do Brasil lucrou 14 bilhões de reais em 2013, seu maior lucro da história. O Itaú Unibanco atingiu 15 bilhões de lucro em 2013. Números parecidos com o faturamento da emissora, não? Curioso...

Então faz todo sentido a linha editorial dura da GLOBO (jornal, web, televisão, rádio, etc...) contra qualquer tipo de manifestação, seja sobre passagens de ônibus, seja contra a Copa, seja contra a Supervia, seja contra o síndico, ou qualquer outro motivo que valha. Alguém imagina que eles desejam algum tipo de mudança no país? Fácil a resposta, não?

Ah, aliás, quando os telejornais da GLOBO noticiarem os lucros recordes dos grandes bancos brasileiros, com o apresentador franzindo a testa, com cara de espanto, não se assuste: ele não está achando o valor muito alto, só está preocupado se a emissora faturou menos.

* (Havia colocado "lucro", mas trata-se do faturamento da emissora).

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Rio de Janeiro: Cidade Maravilha, purgatório da beleza e do caos.

Os sustos que o Rio de Janeiro tem me causado - não vou nem falar do calor acima da média, para não repetir meu mantra de reclamação das últimas semanas - com os valores absurdos em todas as esferas ganha corpo a cada dia. 

Estava no ônibus sexta-feira, dia 31/01/2014, indo de Teresópolis para o Rio, folheando os classificados do Jornal O DIA, quando me deparei com um anúncio de aluguel: "COPACABANA R$3.000, perto da praia, totalmente reformado...". Parei, passei os olhos por outros anúncios nos classificados, o que só serviu para legitimar a minha desconfiança dos preços estratosféricos. Nenhuma surpresa!


(Imagem: fonte própria).

Mas e aí, como posso contribuir para que a cidade volte (será que voltará um dia?) a ter preços "normais"? Será que a saída é a minha inevitável saída do Rio de Janeiro? Apesar de morar em Niterói, não separo as duas cidades nesse quesito, os preços assustam da mesma forma, de forma proporcional, os dois lados da Baía de Guanabara. 

Mas, então, retorno a essa minha repetitiva dúvida: o que se pode fazer de fato para o Rio ter valores normais, como já foi em outros tempos?! Sei da proximidade da Copa e das Olimpíadas, mas será que só isso justifica?

Vivendo na casa dos 30 anos, já "perdi" dois amigos para outras regiões do país (Salvador/BA e Campo Grande/MS), ambos em busca de qualidade de vida e serviços decentes; com uma mínima condição de se manter e com possibilidade de planejar a longo prazo. Será a solução?

Ficar só reclamando dos preços é - como li outro dia no blog Tonto Mundo - não fazer nada e ficar ao longe lançando bravatas aos quatro ventos. Pouco resolve, mas confesso que estou contagiado com essa epidemia, como um vício na busca por respostas. Só que sei, não basta para enfrentar o momento do mercado.

O mercado imobiliário está super aquecido nas grandes cidades do país, o Rio talvez seja a pequena amostra (num tom acentuado) do que vem ocorrendo. Será que passamos por um momento de ajuste desse mercado? As coisas tendem a normalizar, ou estamos somente num processo de início da mudança, onde só os mais abastados terão vez e verão as belezas cariocas ao lado dos turistas?

Percebo que as UPPs, apesar de alguns benefícios (não vou entrar nesse mérito agora),  são partes fundamentais na valorização do metro quadrado carioca. Dali, de áreas antes "inalcançadas" pelos poderes públicos, é dado o gatilho que atinge todas as partes da capital fluminense. Seria, a meu ver, aumento sobre aumento do metro quadrado em direção aos bairros mais valorizados (quase sempre da Zona Sul).

Quando chega a essa privilegiada região carioca, a onda dos aumentos atinge números espetaculares, como uma onda que vai ganhando força e altura, à medida que se aproxima da costa. O impacto é inevitável.

Sou um ex-morador de Copacabana e tenho real noção de como esse movimento veio crescendo ao longo dos últimos anos. Minha condição de morador da cidade está cada vez mais distante daquele ponto de choque que as ondas indicam. Nenhuma pretensão pessoal em voltar para Zona Sul, muito menos de continuar morando no Rio de Janeiro (Niterói), mas temo, sinceramente, que cada dia mais, a cidade viverá uma rotina para uma minoria, voltada para o turismo e sacrificando a vida dos trabalhadores que, de fato, fazem a engrenagem do processo urbano andar - vide o descaso com os trabalhadores que precisam do transporte público.

A escolha depende da gente? As urnas podem mudar esse processo? E, mais que isso (mais desanimador), a minoria privilegiada quer algo diferente do que vem se apresentando? Perguntas no ar e respostas que parecem perto de estarem nos levando para longe.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Utópico, piegas e revolucionário.

Estou cansado e consumido pelo pouco tempo de sono. Pareço arredio. Fixo o olho nas luzes que se misturam num balé hipnótico na tela do computador. Já são altas horas, a pele está oleosa, o corpo se curva, como que prestes a tombar no teclado. As mãos não param, deixo que se expressem, que falem por mim o que for preciso.

Pronto!

O vizinho ao lado, inquieto, liga e desliga um aparelho que não reconheço. Meus sentidos estão aguçados. 

Descrever o universo que me cerca seria fácil, mas entender a ordem das coisas é impossível.

Me choco e me incomodo com a passividade que vai caminhando ao meu redor. Falar hoje de algo um pouco mais profundo (questionar a ordem das coisas, por exemplo) é como professar uma fé proibida: olhos tortos, caras desanimadas, corpos na defensiva. Prefiro as vezes observar, nisso posso ser sem ser incomodado. 

Vejo como as pessoas se integraram rápido ao sistema louco que nos consome: Trabalho, estresse, trabalho, folga, consumo, consumo, consumo e trabalho para pagar esse ciclo novamente.

 (Imagem retirada do site: http://migre.me/hD6Zf)

Não há reflexão, o aproveitamento do tempo livre é de compras, viagens exclusivamente PARA compras (o que me assusta, na verdade) e uma infinidade de sentimentos sendo deixados para trás.

Temo soar utópico, piegas, revolucionário; mas temer já é liberdade de quem pensa um pouco diferente do rebanho. Aceito pagar o preço de receber esses títulos. Tudo bem, pode me carimbar. 

Mas prefiro, sabe? Eu prefiro ser confundido com essas ideias, a ser integrado e míope por completo.

Tenho sonhos, claro, pretendo ter um mínimo de conforto para viver de forma digna, viver com a mulher que amo, receber os amigos em casa, criar meus filhos, tomar umas cervejas, viajar para conhecer lugares incríveis. Mas não quero ir para um lugar só porque todo mundo vai, nem deixar de ir para tal lugar porque agora ficou popular demais. Percebe a diferença?

Para o amigo leitor pode até não ter nenhuma, mas é fundamental para mim. Visceral!

Conseguir viver de forma simples (um dos mandamentos que carrego comigo) é, necessariamente, viver olhando o mundo de forma crítica - olho no olho. Reconhecer um talento numa arte (seja num ator, jogador de futebol, músico, etc) e poder criticar por não concordar com as atitudes de uma estrela aclamada por todos (vide Luciano Hucks da vida). Essa liberdade é minha, não sou cult, nem alternativo, só me dou o direito de raciocinar antes de bater palma, de me emocionar quando o sentimento surge (não porque tem algumas pessoas trancadas numa casa, filmadas 24 horas por dia e caem no choro quando alguém é eliminado).

Só que sei, para quem quer passear só por Nova Iorque; reconhecer que só há vida nos grandes centros; que o que a GLOBO e grande mídia dizem é lei; que só veste uma roupa se ela tiver marca famosa; que só filmes americanos têm qualidade; que pessoa boa é a que possui mais bens; que a educação é ruim por preguiça dos alunos; que bandido bom é bandido morto; que pobre que atrasa o país; que brasileiro é preguiçoso; que negro é isso ou aquilo... pra quem pensa assim, realmente, sou cult, alternativo, geógrafo, utópico, piegas e revolucionário; só que com um detalhe: com muito orgulho.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Ex-tocador de violão.

Há quinze anos resolvi aprender a tocar violão. Era um garoto entrando na adolescência e querendo aprender a dominar um instrumento musical - e buscando uma afirmação pessoal. Arrumei um professor na cidade e frequentei, por alguns sábados à tarde, as cansativas aulas. Já deixo claro que foi muito cansativo porque eu optei por aprender sobre as partituras musicais, antes mesmo de tocar a viola na prática. Um erro fatal!

O professor se dedicava, me passava uns exercícios teóricos para verificar meu crescimento nas notas musicais, mas chegava a outra semana e nós percebíamos que eu não estava evoluindo.

(Imagem retirada do site: http://migre.me/hyOOf)

Fiquei uns meses na aula, até arrumar uma desculpa e sair da rotina das claves de Sol. Confesso que peguei um pouco de birra do violão, coisa de menino sendo contrariado, e deixei de lado essa vontade arrebatadora de arranhar uns acordes e ganhar reconhecimento entre os amigos. Mas a frente, uns dois anos depois, recorri às revistinhas de banca de jornal. Melhorei bastante, mas longe de deslanchar no instrumento. Dedilhava algumas músicas, arranhava uns sucessos bem batidos (e que nem gostava tanto), mas nunca engrenava naquela relação com as seis cordas.

Parei de vez, o violão virou um artigo de luxo no meu quarto, uma peça para decorar e me fazer lembrar do dia em que o ganhei de Natal, cheio de promessas e sonhos.

Hoje, passados 15 anos, reencontrei o antigo violão, deixado de lado, empoeirado - e já nem servindo mais de enfeite - maltratado pelo tempo... 

Corri o dedo pelas velhas cordas do instrumento, achei graça do som desafinado que saia dali. Mergulhei fundo no sentimento passado, nas músicas não tocadas, nos sonhos revividos.

Por alguns minutos, relembrei acordes daquela época, desafinei como antes. Brinquei até a ponta dos dedos da mão esquerda queimarem. Queria doar esse instrumento para alguma criança, mas ainda estou muito preso aos sentimentos presentes nele, às notas nunca tocadas, às músicas jamais compostas. 

Uma hora deixarei ele ir...

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Coisas do coração...



O amor não tem idade...

Curtindo alguns dias de férias na aprazível cidade de Teresópolis/RJ, onde fui criado e criei vínculos de amizade que carrego por toda vida, fui surpreendido esses dias com diálogo de duas crianças na faixa etária de 5 a 8 anos, aproximadamente.

Pode parecer banal, mas gostaria de compartilhar com os amigos essa divertida, espontânea e sincera conversa:

(...)

Eu estava observando os dois baixinhos conversando, mas eles não perceberam minha presença. A menina, mais velha, perguntou, curiosa:

- Por que você não está mais namorando?

O menino mais novo respondeu, dando as costas para ela:

- Terminamos.

- Por que, você ‘traiu ela’? – perguntou, na lata.

- Não – respondeu o baixinho mudando o semblante e fazendo cara de triste, de dor – ela que me traiu.

(...)

Assim! Achei divertidíssima a verdade que ele se deixou levar, sem cena, sem mentiras, nem teatros. Sentei para rir da cena, admirado e fiquei feliz demais de ter presenciado esse diálogo.

O amor é visceral e já começa a semear suas potências e angústias mesmo antes de sabermos realizá-lo em sua plenitude.  


As crianças são craques em externar seu sentimentos, elas são incomparáveis!


Pessoas pelo mundo que passaram por aqui:

Total de visualizações de página

Facebook