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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Utópico, piegas e revolucionário.

Estou cansado e consumido pelo pouco tempo de sono. Pareço arredio. Fixo o olho nas luzes que se misturam num balé hipnótico na tela do computador. Já são altas horas, a pele está oleosa, o corpo se curva, como que prestes a tombar no teclado. As mãos não param, deixo que se expressem, que falem por mim o que for preciso.

Pronto!

O vizinho ao lado, inquieto, liga e desliga um aparelho que não reconheço. Meus sentidos estão aguçados. 

Descrever o universo que me cerca seria fácil, mas entender a ordem das coisas é impossível.

Me choco e me incomodo com a passividade que vai caminhando ao meu redor. Falar hoje de algo um pouco mais profundo (questionar a ordem das coisas, por exemplo) é como professar uma fé proibida: olhos tortos, caras desanimadas, corpos na defensiva. Prefiro as vezes observar, nisso posso ser sem ser incomodado. 

Vejo como as pessoas se integraram rápido ao sistema louco que nos consome: Trabalho, estresse, trabalho, folga, consumo, consumo, consumo e trabalho para pagar esse ciclo novamente.

 (Imagem retirada do site: http://migre.me/hD6Zf)

Não há reflexão, o aproveitamento do tempo livre é de compras, viagens exclusivamente PARA compras (o que me assusta, na verdade) e uma infinidade de sentimentos sendo deixados para trás.

Temo soar utópico, piegas, revolucionário; mas temer já é liberdade de quem pensa um pouco diferente do rebanho. Aceito pagar o preço de receber esses títulos. Tudo bem, pode me carimbar. 

Mas prefiro, sabe? Eu prefiro ser confundido com essas ideias, a ser integrado e míope por completo.

Tenho sonhos, claro, pretendo ter um mínimo de conforto para viver de forma digna, viver com a mulher que amo, receber os amigos em casa, criar meus filhos, tomar umas cervejas, viajar para conhecer lugares incríveis. Mas não quero ir para um lugar só porque todo mundo vai, nem deixar de ir para tal lugar porque agora ficou popular demais. Percebe a diferença?

Para o amigo leitor pode até não ter nenhuma, mas é fundamental para mim. Visceral!

Conseguir viver de forma simples (um dos mandamentos que carrego comigo) é, necessariamente, viver olhando o mundo de forma crítica - olho no olho. Reconhecer um talento numa arte (seja num ator, jogador de futebol, músico, etc) e poder criticar por não concordar com as atitudes de uma estrela aclamada por todos (vide Luciano Hucks da vida). Essa liberdade é minha, não sou cult, nem alternativo, só me dou o direito de raciocinar antes de bater palma, de me emocionar quando o sentimento surge (não porque tem algumas pessoas trancadas numa casa, filmadas 24 horas por dia e caem no choro quando alguém é eliminado).

Só que sei, para quem quer passear só por Nova Iorque; reconhecer que só há vida nos grandes centros; que o que a GLOBO e grande mídia dizem é lei; que só veste uma roupa se ela tiver marca famosa; que só filmes americanos têm qualidade; que pessoa boa é a que possui mais bens; que a educação é ruim por preguiça dos alunos; que bandido bom é bandido morto; que pobre que atrasa o país; que brasileiro é preguiçoso; que negro é isso ou aquilo... pra quem pensa assim, realmente, sou cult, alternativo, geógrafo, utópico, piegas e revolucionário; só que com um detalhe: com muito orgulho.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Ex-tocador de violão.

Há quinze anos resolvi aprender a tocar violão. Era um garoto entrando na adolescência e querendo aprender a dominar um instrumento musical - e buscando uma afirmação pessoal. Arrumei um professor na cidade e frequentei, por alguns sábados à tarde, as cansativas aulas. Já deixo claro que foi muito cansativo porque eu optei por aprender sobre as partituras musicais, antes mesmo de tocar a viola na prática. Um erro fatal!

O professor se dedicava, me passava uns exercícios teóricos para verificar meu crescimento nas notas musicais, mas chegava a outra semana e nós percebíamos que eu não estava evoluindo.

(Imagem retirada do site: http://migre.me/hyOOf)

Fiquei uns meses na aula, até arrumar uma desculpa e sair da rotina das claves de Sol. Confesso que peguei um pouco de birra do violão, coisa de menino sendo contrariado, e deixei de lado essa vontade arrebatadora de arranhar uns acordes e ganhar reconhecimento entre os amigos. Mas a frente, uns dois anos depois, recorri às revistinhas de banca de jornal. Melhorei bastante, mas longe de deslanchar no instrumento. Dedilhava algumas músicas, arranhava uns sucessos bem batidos (e que nem gostava tanto), mas nunca engrenava naquela relação com as seis cordas.

Parei de vez, o violão virou um artigo de luxo no meu quarto, uma peça para decorar e me fazer lembrar do dia em que o ganhei de Natal, cheio de promessas e sonhos.

Hoje, passados 15 anos, reencontrei o antigo violão, deixado de lado, empoeirado - e já nem servindo mais de enfeite - maltratado pelo tempo... 

Corri o dedo pelas velhas cordas do instrumento, achei graça do som desafinado que saia dali. Mergulhei fundo no sentimento passado, nas músicas não tocadas, nos sonhos revividos.

Por alguns minutos, relembrei acordes daquela época, desafinei como antes. Brinquei até a ponta dos dedos da mão esquerda queimarem. Queria doar esse instrumento para alguma criança, mas ainda estou muito preso aos sentimentos presentes nele, às notas nunca tocadas, às músicas jamais compostas. 

Uma hora deixarei ele ir...

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Coisas do coração...



O amor não tem idade...

Curtindo alguns dias de férias na aprazível cidade de Teresópolis/RJ, onde fui criado e criei vínculos de amizade que carrego por toda vida, fui surpreendido esses dias com diálogo de duas crianças na faixa etária de 5 a 8 anos, aproximadamente.

Pode parecer banal, mas gostaria de compartilhar com os amigos essa divertida, espontânea e sincera conversa:

(...)

Eu estava observando os dois baixinhos conversando, mas eles não perceberam minha presença. A menina, mais velha, perguntou, curiosa:

- Por que você não está mais namorando?

O menino mais novo respondeu, dando as costas para ela:

- Terminamos.

- Por que, você ‘traiu ela’? – perguntou, na lata.

- Não – respondeu o baixinho mudando o semblante e fazendo cara de triste, de dor – ela que me traiu.

(...)

Assim! Achei divertidíssima a verdade que ele se deixou levar, sem cena, sem mentiras, nem teatros. Sentei para rir da cena, admirado e fiquei feliz demais de ter presenciado esse diálogo.

O amor é visceral e já começa a semear suas potências e angústias mesmo antes de sabermos realizá-lo em sua plenitude.  


As crianças são craques em externar seu sentimentos, elas são incomparáveis!


Pessoas pelo mundo que passaram por aqui:

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