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quinta-feira, 29 de maio de 2014

Não vou torcer contra a Seleção Brasileira. (Xiiiiii....)

"Evite a negação no título". Não, não torço a favor da Seleção por motivo muito natural, mas que não sei explicar muito bem. A Copa de 1994 foi o marco na minha relação: O Senna havia morrido e a vitória nos EUA representou uma vingança de quem estava na fila dos mundias há 24 anos. De lá para cá, o encanto com a canarinho acabou. Talvez muito se explique por eu ter ficado mais velho, descoberto um pouco os reais interesses dos jogadores, em busca de contratos melhores, cifras e mais cifras de uma CBF pra lá de desanimadora. Desde então, acompanho a Seleção muito mais pelo prazer de ver o futebol do que pela torcida de uma conquista em qualquer competição.

(Imagem retirada do site: http://goo.gl/J669p1)

E, caros amigos, Copa do Mundo é especial para os amantes do futebol. Não tem jeito, o clima é diferente, partidas fantásticas, com os expoentes do futebol em campo. A minha empolgação com a Copa não murchou como aconteceu com a minha torcida pela Seleção ao longo do tempo. Sou apaixonado por futebol, por ver uma boa partida, por ir no estádio ver o meu time jogar, independente da situação em que ele se encontra; e a Copa, nesse sentido, é o ápice, onde todo olhar do mundo se volta para ver os craques escrevendo a história, ao vivo.

A Copa no Brasil não deveria ser realizada, ponto! Mas credito essa opinião ao momento de escolha - movido por um esforço monumental dos políticos em trazê-la - do Brasil como sede. Estamos anos luz de estrutura para gastar tanto dinheiro para um evento dessa magnitude. Poderíamos fazer uma Copa decente, sem roubalheira? Claro que poderíamos, com investimento da iniciativa privada, tudo as claras, mas alguém acredita que isso aconteceria no Brasil, sem um 'superfaturamentozinho'? Não sou ingênuo a esse ponto. 

Também é claro que concordo que o que se gastou com a construção (ainda inacabada, por incrível que pareça) de toda infraestrutura deveria ser investido na saúde e, principalmente, na educação. Mas, cá entre nós, poucos amigos do Escondidin, alguém acha que se não houvesse Copa, esse derramamento de dinheiro iria diretamente para as áreas básicas que o país tanto precisa? Alguém acredita?

"O que tinha para ser roubado já foi" - bradou em rede social Joana Havelange, neta do João Havelange, filha do Ricardo Teixeira (bate na madeira três vezes para não dar azar um DNA tão podre!). O momento de insanidade (alguma surpresa) dessa mulher tem lá seu fundo de realidade, detesto concordar. Deixar de realizar a Copa agora traria de volta aos cofres públicos todo dinheiro roubado? Hum, alguém tem dúvida que não?! Se por motivos de corrupção o Brasil perdesse a Copa aos 45 minutos do segundo tempo para outro país essa grana voltaria para os cofres públicos? Se garantissem que sim, eu voto agora para a Copa ser realizada na Inglaterra (ou qualquer outro país).

E os políticos? Impressionante como se aproveitam dos momentos para puxar para eles uma forma de ganho eleitoreiro. Senhora Dilma, Senhores Aécio e Eduardo Campos, ninguém pode levantar o dedo e dizer que o mestre mandou: Foi no governo dela que toda arena foi montada. Se não teve participação direta, também não fez nada para que não acontecesse; já os outros dois candidatos estiveram tão comprometidos como a presidente, principalmente na luta árdua para levar o evento para seus estados quando eram governadores - Aécio, de Mina e Campos, Pernambuco. O rabo de todos eles está bem preso, num enlace perfeito com as cores de todos os partidos. Uma lástima!

Ainda na política vem aquela justificativa: Mas se a Seleção brasileira ganhar será uma vitória da política atual... Acho muito pueril essa análise. Sinceramente, em 1970 muitos acreditavam que a vitória da Seleção seria uma conquista da ditadura, por isso, muitos cruzaram os braços e torceram contra. Veio aquela máquina de futebol maravilhosa (acho que se fosse vivo eu seria contagiado pelo escrete, confesso!) e deixou o mundo boquiaberto. Brasil campeão no campo e a Ditadura derrotada nas eleições gerais de 1974. Ou seja, o povo não ficou entorpecido pela vitória, nem se cegou politicamente. Trata-se, na minha humilde opinião, de uma lenda urbana que se revela pouco construtiva e só trás a baila preferências políticas - em nada acrescenta.

Mas e a efervescência das manifestações, me pergunto? Elas estão à tona desde o ano passado, numa espécie de desabafo por tudo que temos vividos ao longo dos anos. Acho mais que legítimas, tanto que já participei de algumas. Mas estão aproveitando a atenção do evento para entrarem na onda e chamarem a atenção para si, certo? Justíssimo! Qual outra forma de professores, motoristas de ônibus, garis e outras categorias lutarem pelos seus direitos, existiria momento mais oportuno? As lutas são válidas, o que os profissionais recebem é um absurdo. Inclusive, sobre os motoristas de ônibus que estão em greve, penso que só deveriam voltar ao trabalho quando a dupla função (motorista/cobrador) for abolida. Até lá, acredito e apoio a paralisação, tanto da categoria, quanto da cidade. É um absurdo completo os empresários ganharem o que ganham (com alianças entre empresas e políticos) e os motoristas exercerem dupla função.

Mas voltemos a peleja (senão entrarei na discussão sobre o descalabro com a educação e não termino esse texto em 2014)... 

O cenário já está pronto, os turistas que estão chegando no Brasil não têm culpa do descaso e da desorganização do nosso país. Merecem ser bem tratados! Torcer para o Brasil é ser coxinha? Sinceramente, acho muito rasteiro pensar assim, não resolve o problema e o gosto e as predileções de cada um devem ser respeitadas. Não torcerei contra, nem me empolgo com a Seleção, mas quem sou eu para apontar para alguém que vibra com um gol do Brasil e atacá-lo de ingênuo ou coisa do tipo. Não resolve, não ajuda. (É muito fácil ficar atrás das armas das redes sociais declamando asneiras e apontando caminhos a seguir).

O senso crítico não pode ser apagado pelo futebol, mas reduzir os problemas de uma Nação pelo futebol é muito pobre. Sei que estamos chegando num momento de muita visibilidade da Copa do Mundo, ela virou vitrine e não deveria ter sido realizada lá atrás, na escolha. Agora é tarde, Inês é morta! Vamos tirar algumas lições e, obviamente, não esquecermos das lutas que estão em pauta, elas são justas e têm total apoio (não concordo com a quebradeira por quebradeira, quando não se trata de uma reação à violência policial. Mas isso é tema pra outra hora).

As eleições chegam em Outubro. Ponto! Achar que apertar os números "certos" é a única forma de fazer valer a democracia é ser coxinha (lá vou eu apontando...), isso sim! As ruas estão nos ensinando muito (os garis deram uma aula paralisando suas atividades em pleno carnaval do Rio, colocando em pauta suas demandas), os trabalhadores perceberam que podem sim lutar pelos seus direitos, cruzar os braços, cobrar um mínimo de dignidade. No meio do caminho tem uma Copa, "pronta", começando em duas semanas. Que ela sirva de lição, que não cegue nossos problemas, nem seja a única responsável por todos eles.

Façam suas escolhas, torçam para quem quiser, mesmo que a torcida maior seja que essa Copa passe o mais rápido possível. Estarei ligado nos jogos, todos os jogos, o futebol é apaixonante!

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Vizinha do 61.

Há um ano moro sozinho e, desde então tenho observado com mais calma os fatos que acontecem ao meu redor. No 61, logo aqui em cima, mora uma senhora sozinha. Deve ter uns setenta e alguma coisa e, coitada, sofre de problemas psicológicos, fruto da idade - e de abandono também. O aspecto é de mulher sofrida, corpo magro, rosto triste e com as expressões faciais abatidas. O olhar perdido denuncia as restrições psicológicas, de quem jamais poderia morar sozinha.

(Imagem retirada do site: http://goo.gl/yhPbGm)

Lá de cima ela joga tudo - sofro com esse desprendimento. Já voou café, papel molhado, roupa, panos e até um ovo, que não posso garantir, mas, pelo histórico, acho que veio diretamente do 61. Os passos dela pela noite são como de alguém vagando por uma rua desconhecida, é agoniante. Esses dias essa senhora estava brigando sozinha, dizendo palavrões aos montes, numa batalha campal com algum desconhecido. Os outros vizinhos, pouco compreensivos e muito impacientes, se agitaram numa gritaria desnecessária, mandando-a calar a boca, "sua velha louca". O silêncio veio logo depois, fiquei imaginando o sofrimento dela...

Ela dorme numa rede, e o barulho do vai e vem é como uma marcação de um relógio que sinto dentro de casa. Um dia tive que visitá-la. Junto com o pedreiro e alguns curiosos fomos verificar um possível vazamento no banheiro que estava atormentando minha vida (morar sozinho não é fácil, é preciso bater o escanteio, cabeçar e correr para fazer a defesa). Pela primeira vez entrei na casa 61, a falta de móveis me assustou. Só havia a rede, uma televisão em cima de uma cômoda, e nada mais. Ah, importante salientar, vivo numa kitnet, desses imóveis de 20m², onde sala e quarto são sinônimos e cozinha é um espacinho reservado no canto do quarto/sala. A casa dela é igual a minha. Ela só tem uma TV, uma cômoda e a rede.

Entramos na casa, sob total desconfiança da moradora. Enquanto visualizávamos o banheiro, ela ia proclamando impropérios para gente, em voz baixa, angustiante, inaudível. O banheiro era um caos! Minha mente, seletiva como só, apagou a imagem, mas o que não tem como esquecer era a maneira como ela tratava o vazamento que, pelo visto, já se instalara há tempos. Ela abusou do uso de massa branca, vedando passagens da água no banheiro. O canto das paredes estava branco e encharcado, lógico que a água tinha que jorrar... na minha casa.

Enquanto descíamos as escadas, o faxineiro tentava me explicar: - Essa mulher é maluca, vive aí sozinha... Silenciei. O vazamento foi consertado, o trabalho começou lá no 61 e terminou no meu apartamento, dias depois. 

Os barulhos diários dessa senhora são melancólicos, perdidos como seu olhar, mas, talvez ela não saiba que, de alguma forma, essa sua solidão me faz companhia. A rede balança nos meus ouvidos, meu varal recebe os lixos de lá de cima, mas, ainda sim, consigo sentir que pelo menos ela ainda está viva e que tem alguém, literalmente, atento aos seus passos.

Nesse momento, ela parece balançar na rede como uma criança, tamanha velocidade que o barulho sugere.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Lincharam todos nós.

Há muito tempo venho ensaiando colocar essas inquietações no papel, mas os sucessivos acontecimentos têm tirado meu fôlego: Jovem morto atingido por vaso sanitário jogado num estádio de futebol, em Recife; criança morta pela madrasta; mulher linchada, confundida com uma suposta procurada da justiça; caso de racismo no futebol; mulher arrastada pelo carro da PM; criança encontrada morta dentro da máquina de lavar, crime motivado pelo ciúme do primo em relação ao presente de páscoa,... Chega!




(Imagem retirada do site: http://migre.me/j6QcS)


Está complicado, a atmosfera de nossas vidas está diferente, parece mais pesada, pelo menos aqui no Brasil. A violência está tomando uma concretude medieval. Mas em pleno século XXI?

Tenho buscado entender o porquê de tantos casos assim, tendenciando muito colocar a culpa nos políticos, seus atos (?), omissões, mas acho muito rasteiro, como tirar a responsabilidade própria e sentar no comodismo. Mas então, onde precisamos atuar? Estamos passando por um período de transição? As coisas estão nessa violência toda para chegar numa estabilidade? Perdido!

As perguntas são muitas mesmo, as respostas que são tão raras. É difícil analisar o presente, precisamos de um distanciamento, de deixar acontecer, mas acontecer mais o que?! 

Qual o caminho para sair dessa onda caótica, respirar um pouco para não sufocar?! Buscar nos livros, na educação, na religião, nos relacionamentos interpessoais; alguma pista?

No meio do tiroteio de informações, do tempo real, das redes sociais, parece que o sentimento pulverizou. Talvez devêssemos desligar um pouco as máquinas, os 3Gs, pisar no chão da rua olhando para os lados, apostar nas relações, na amizade, viver um amor de verdade... Mas ainda é muito pouco, é só uma contribuição para tentar amenizar os acontecimentos. 

Não tenho respostas. 

Matar uma pessoa por linchamento, sem prova alguma (mesmo se tivesse prova, o papel de julgar e prender não é da população), é uma das coisas mais covardes que se pode produzir numa sociedade. Está preso na garganta ainda. Chega!

Pessoas pelo mundo que passaram por aqui:

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