Fim
de jogo, tudo empatado, vamos para as penalidades máximas. Tensão no ar,
jogadores, torcedores,....Menos para o goleiro. Pois é, parece contraditório,
mas trata-se da figura que, ou passará despercebido, caso o time perca e não
faça nenhuma defesa; ou será alçado a figura de herói, se decidir a partida com
suas defesas. Confortável, não?
Algo
semelhante acontece no mundo hoje com essa pandemia que fechou as portas dos
países. O goleiro, nesse caso, ou melhor, os goleiros são os presidentes
(primeiros-ministros, representantes dos países, enfim).
O
que se passa hoje nunca aconteceu na história moderna, não temos modelos para
saber o caminho a seguir. Tudo novo para todos!
Eles
estão tendo a oportunidade de se aproximar de seus povos, tratando com
humanidade o tema, despolitizando a questão, tomando decisões importantes,
mesmo que duras economicamente. Pois, deixando a questão política de lado, é
preciso unir esforços para fazer a humanidade passar por essa crise.
Alguns
goleiros, no entanto, levam ao pé da letra a ideia de “não ter responsabilidade”
no momento decisivo, parecem fazer força para manchar seu nome na história. A
começar pelo camisa 1 do Brasil (ai essa camisa amarela, hasteada pela
idiotia...) Senão vejamos:
-
O presidente Bolsonaro tem culpa do covid-19 chegar no país?
Óbvio
que não.
-
A crise econômica aconteceria independente do presidente que está no comando do
Brasil hoje?
Claro
que sim. Acredita-se que os efeitos serão muito piores que a crise de 1929 nos
EUA. Recessão a vista!
-
O que o presidente poderia fazer então?
Pergunta
pertinente - ele não costuma gostar muito delas, na verdade, prefere o afago
dos seus.
Fosse
cercado por gente decente, poderia mostrar os efeitos inevitáveis na economia
sem passar por cima do bom senso. Pedir demais, né? Esse governo se faz com ministérios
agindo pelo ódio, desmistros (sic!).
Ele
costuma se dirigir aos seus e, como se ainda estivesse em campanha, prefere
agir como um inconsequente debochando do isolamento social, como se fosse um
adversário político, num embate sem o menor sentido - e com palmas garantidas
por uma plateia ávida por um algo novo na (velha) política.
Falta
sensibilidade, e como dito acima (e sempre repito desde quando ainda era
deputado), um assessor que o aconselhasse, pelo menos, a dizer umas cinco
palavras de conforto para as famílias que estão perdendo seus entes queridos.
Liturgia do cargo, presidente.
Mas
opta pelo deboche ("e daí" se passou o número de mortos da China? Ele
não é coveiro, como disse).
Além
disso, no dia que país passa de 600 mortos pelo covid-19 ele declara à imprensa
que faria um churrasco para 30 convidados.
Que
tipo de ser humano é esse? É inacreditável a falta de sensibilidade, de
habilidade para lidar com o que passamos. Como ainda tem apoio? Como? Por que
esse malabarismo irresponsável de justificar o injustificável?
O
sistema de saúde quase em colapso e uma marcha inconsequente para reabrir tudo,
"enfrentar o vírus", como disse. Como se fosse um oponente colocado
no ringue pelos opositores, numa luta fictícia, irracional.
Minha
incompreensão pela falta de uma assessoria que proibisse essas declarações foi
substituída pela certeza (mais do que nunca!) que ele é assim mesmo; fala nada
mais nada menos o que pensa de verdade - com a certeza de sempre ter uns
cativos apoiadores (como o menino mimado que, quando contrariado, vê no mundo a
culpa pelo seu insucesso).
O
mundo precisa de amor. A gente está numa espiral de reinventar as relações, pressão
psicológica pesada, trabalhar de casa, cuidar dos nossos, nos afastar de quem
gostamos justamente por querer preservá-los.
E,
além de todo esse enfrentamento novo e diário, ainda temos que engolir esse
posicionamento genocida do presidente.
O
presidente da Argentina, Alberto Fernandez, tem hoje a maior aprovação da
história do país (quase 94%). O que ele faz? Age como um líder, firmeza e apoio
de todos. Bolsonaro tinha A chance de ser aprovado, pelo menos, pela postura perante
a pandemia, mesmo por aqueles que fazem oposição a seu governo.
O
goleiro, que sairia despercebido ou herói, foi parar nas capas dos jornais
mesmo perdendo o jogo. Sua postura inconsequente deixou boquiaberto a todos (quase
todos). Ele tinha uma grande oportunidade...
A
derrota para o vírus é inevitável, em todas as áreas. Só que às vezes, a
postura na derrota é muito mais digna do que no momento de glória. Mas uma
parte da arquibancada, entorpecida, não cansa em aplaudir.
Carlinhos Horta