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terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Mundos opostos.

O motor do carro dele soou diferente. Era um ronco seco e definitivo, assim como a nova vida desse professor de matemática. Ele acabava de perder sua filha e sua esposa num acidente de ônibus, desses que - infelizmente - estamos acostumados a presenciar em nossas estradas.

Ele rasgava a rodovia tentando entender o porquê daquela tragédia, parecia querer encontrar seus amores na estrada, torcia para se acidentar e morrer como sua esposa e filha. Mas nada aconteceu...

Já havia percorrido trezentos quilômetros em poucas horas e não tinha a menor noção de onde estava e de seu destino. Perdeu o rumo, sua vida de repente explodiu da tranqüilidade cotidiana para essa fatalidade brutal.

Seus olhos não produziam mais lágrimas, seu corpo doía de tanto encolher assustado (inconformado). Sua mente não pensava mais linearmente, agora eram espasmos de um passado feliz misturado com projeções solitárias e - antes - impensáveis.

Parou no pedágio e observou no carro ao lado uma família de pai, mãe e duas filhas. Fixou seu olhar e mergulhou na vida do casal, criando em sua mente um ambiente perfeito de harmonia e felicidade - tentando entender por que ele não podia mais desfrutar de um momento como aquele.

Acordou de seus delírios com a buzina do carro de trás, chegava a sua vez de pagar o pedágio.

Agora doía ainda mais pensar em suas perdas. Estava cansado e triste, por isso resolveu entrar na pequena cidade que avistava.

Logo procurou um hotel para descansar, um lugar aonde pudesse jogar seu corpo - que não dormia direito há duas noites, desde o acidente - e apagar do mundo.

Dispensou a simpatia da atendente do hotel e caminhou para o quarto, deixando-a falando sozinha sobre os luxos do aposento.

Abriu a porta e ficou mirando a cama de casal. Dormiria pela primeira vez numa dessas sem sua esposa. Ligou a ducha e deixou a água correr em seu corpo, esquecendo até do sabonete. Mas que diferença faz, não é verdade?

Jogou-se na cama e fez força para dormir, mas não conseguia parar de pensar na família do carro ao lado. Depois de alguns minutos apagou num sono profundo.

Mal sabia ele que aquele casal levava as duas filhas para a mesma cidade onde ele estava hospedado. Só que o que procuravam era um internato, aonde pudessem deixar as meninas e vê-las somente nos feriados e nas férias escolares. Seria um alívio para aqueles pais, que se sentiam infelizes em ter a responsabilidade de criar as duas crianças.

O mundo tirou de um homem seu alicerce - seus amores. Outros, para voltarem a ter felicidade, escolheram ficar sozinhos, afastando em outro mundo suas mais belas criações.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Copa no Brasil, cifras e mais cifras...

E vão privatizar o Maracanã (nova-velha-ruminate-cansativa notícia). Acabei de ler aqui no JB online (http://jbonline.terra.com.br/nextra/2009/01/06/e060116915.asp). Serão novos tempos para um dos principais estádios de futebol do mundo. Será mesmo? Está lá na matéria, o governo federal investiu R$ 130 milhões para adequá-lo ao evento do Pan-Americano, mas a empresa que adquirir o Maraca deverá gastar mais alguns milhões para colocá-lo em funcionamento de acordo com as exigências da FIFA. Quantas cifras, não é verdade? Curioso que são investidos milhões e mais milhões de maneira sucessiva, mas o estádio nunca está pronto, de um jeito que não precise mais de alguns - caros - reparos. E tudo passa batido, ninguém contesta, ninguém reclama e vamos engolindo essa nova idéia de fazermos uma Copa do Mundo no Brasil, em 2014. Imaginem só os incontáveis reais gastos para dar conta de um evento dessa magnitude. Tudo bem que a população está preocupada em ver bem de perto uma COPA DO MUNDO no Brasil, um feito para um país pobre como o nosso (ainda que o público que irá aos estádios não será o mesmo que está acostumado a ver seus times pelo país, pois com toda certeza o ingresso custará uma fortuna). Mas será que não percebemos que todo esse dinheiro despejado nas obras e licitações (quando ocorrem, claro!) saem do nosso bolso?! Opa, pisei num formigueiro!?

Por que raramente ouvimos alguém contestar as contas que não fecham desses eventos? Durante o Pan do Rio, em 2007, ficou claro que o dinheiro planejado para fazer as obras não foi suficiente e foi preciso que o governo federal desse uma ajuda ao estadual para acabar com as obras em tempo de se fazer os jogos. Mas e as empresas de comunicação que cobriram o evento, ninguém contesta as cifras absurdas que foram gastas? Vai ficar por isso mesmo? Eles fazem a cobertura, mostram os atletas brasileiros “brilhando” no Pan e criam uma desonesta expectativa quanto ao desempenho desses mesmos atletas nas próximas Olimpíadas. Só que não entram no mérito do nível da competição Pan-americana, que é de segundo (ou terceiro) escalão no continente.

Mas a questão aqui não é essa (que renderia um outro texto sobre essa absurda supervalorização por parte da mídia, que foca seus interesses comerciais acima da verdadeira qualidade do evento transmitido). Fico impressionado com a falta de contestação daqueles que se dizem isentos, transparentes, capazes de mostrar de forma cristalina os fatos como eles são, independente de quem atinja. Não é por aí. O Pan já ficou para trás, não será alvo (muito provavelmente) de nenhum tipo de investigação jornalística quanto aos seus custos. Já virou notícia velha, que não vende mais para o público e muito menos para os anunciantes, que brilham os olhos com a possibilidade de ver suas marcas expostas numa transmissão de Copa do Mundo no Brasil. Nos resta buscar outras fontes de informação em outros veículos (que são poucos, mas existem) e, principalmente, treinar nossos olhos para serem mais críticos, não acreditarem em tudo o que vêem, principalmente com todo o glamour que são apresentados. Nosso mundo real é mais simples e mais duro, nem tudo que se transforma em teatro televisivo deve ser levado a sério. Desconfie sempre!

(Imagem de arquivo pessoal).

domingo, 4 de janeiro de 2009

E o fim das histórias?

No dia que Lara contou para os pais que estava apaixonada, o mundo saiu de suas costas. Ela estava aliviada. Compartilhar seus sentimentos com quem mais confiava era um alívio de gente grande. Mesmo tendo acabado de completar doze anos, a menina já se sentia pronta para o desafio da vida - mas nem imaginava o que iria enfrentar mais tarde. Sua maturidade precoce assustava o pai, um professor de Português que tentava entender o comportamento de sua pequena filha...


Joaquim saiu de casa com os amigos e voltou embriagado. Tentou disfarçar seu estado ao pisar na sala de casa, mas mãe alguma é enganada por olhar e atitudes de seus filhos. Ela fingiu não ter percebido, acompanhou-o até o quarto e viu seu filho apagar na cama, com tênis e boné. Apagou a luz e voltou para seu quarto, seu marido já roncava - como sempre. Cutucou o companheiro e falou, em tom de preocupação, do estado do filho. Mauro esboçou uma risada. - Ele ta virando homem, muié! - foi o que se ouviu...


Paulo e Joana se conheceram na festa da faculdade. Ele estava solteiro, ela namorava há seis anos. Os dois estavam sozinhos, cada um com objetivo próprio. Ele queria aproveitar a noite e as meninas solteiras, ela queria beber um pouco e esquecer a briga feia que teve com Roberto - o namorado. Eles se esbarraram no balcão das bebidas, Joana pediu desculpas e Paulo sorriu sem graça. Ela ficou parada, ele se aproximou e se apresentou. Os dois passaram a noite juntos... Cada um curtindo a sua maneira, os dois rindo de si mesmos e fortalecendo uma amizade que brotava. Mas seria só isso?


Eis que Mário chega da rua cansado. Falou que iria até o banco, mas demorou duas horas. O coração de Carmem estava a mil, tinha até acendido uma vela.
- Graças a Deus você chegou. Aconteceu alguma coisa? - fuzilou com o olhar.
- Não, meu bem, o Rubens que me pegou de papo quando eu saía do banco - tranqüilizou.
- Cadê o celular? Você nunca leva, não sei para que tem esse aparelho?! - saiu para cozinha uma indignada senhora.
Mário foi rindo para seu quarto, pensando em quantas vezes já havia ouvido esse mesmo sermão de sua esposa. Afinal, já estavam quarenta e cinco anos juntos e ele conhecia todos os detalhes de sua esposa e de suas indignações. Foi até o quarto guardar o bilhete da loteria, sentia que sua hora de ficar milionário se aproximava. Era esperar o sorteio daquela noite...

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É meus amigos, como vocês perceberam, fiz quatro historinhas meio que sem pé nem cabeça, mas que foram nascendo de acordo com o escrever desse que vos fala. Cada uma tem o seu final, cada uma trás uma infinidade de possibilidades que resolvi compartilhar com vocês. Tratei do mundo da criança que vai se tornando adolescente (cada vez mais cedo), do rapaz que toma o primeiro porre, dos jovens que se cruzam pelos caminhos da vida e do casal de idosos que compartilham uma mesma rotina de uma longa união. Formei um vendaval de vidas desconexas. Elas podem ser conectadas, podem ser escritas e formadas separadamente - aí vai da criatividade de quem escreve e do próprio desenrolar dos personagens. Querem sugerir algum fim para cada uma delas (ou para uma delas)? O que acham?

Vou me tornar o expectador de vocês, não precisa ser um final longo (pelo contrário, pode escrever um final aqui no espaço de comentário do blog mesmo), que tome muito o seu tempo. Mas capriche na criatividade, será um prazer assistir o final desses pequenos enredos.

Agora é com vocês.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Ruminante das idéias (que agora será sem acento).

Embarquei nesse mundo de palavras. Não que seja uma novidade para mim, mas nunca vivi tão intensamente essa relação que tenho hoje com as letras.

Se fico muitos dias sem escrever, algo fica vazio, esperando ser preenchido por palavras minhas, construções próprias. Então, ao ler algumas linhas de jornais, livros ou internet, as notícias e os assuntos soam nos meus ouvidos como um sedutor canto de sereia - entrego-me por completo a esse prazer. Nesse instante, já vem (nascendo) em minha mente algumas idéias a serem discutidas nesse espaço.

Brotam aos montes as diversas possibilidades de se falar sobre esses assuntos. Um verdadeiro jogo de conquistas. De um lado, minha extrema vontade de escrever; e de outro, as infinitas possibilidades, concretizadas em palavras e pensamentos que povoam minha alma.

Mas nada é simples e claro. É um jogo duro, com vitórias e derrotas. Procuro ser apenas um ser que pensa e externa suas opiniões, mas sei que sou complexo demais para definir meu mundo em algumas linhas.

Todos são assim, na verdade. Não basta uma boa vontade para serem definidos, é preciso conhecer e refletir demais. Talvez por isso eu procuro ser mais racional, mais exato. Mas é difícil para mim, pois sou - o tempo todo - um ruminante de idéias e decisões.

Pondero muito, principalmente comigo mesmo. Penso em conseqüências, coloco na balança, tento escolher o caminho mais correto. Não que isso seja um defeito - sei que não se trata disso. Mas, as vezes, é preciso entrar chutando a porta, sem pensar demais nas conseqüências e nos outros. Extravasar por um momento.

Pessoas que são assim - com esse meu estilo - precisam de uma injeção com certa dose de arrogância (ou seria confiança?). Não me leve a mal, nem imagine que meu sonho é me tornar uma pessoa arrogante (longe disso), é que em certos momentos você tem que alterar o gráfico da mesmice que se forma no cotidiano. Nada em dose muito forte, que mude de vez sua essência.

Mas a oportunidade que a vida nos apresenta de temperarmos o de sempre com ingredientes exóticos, não pode ser desperdiçada. Só não vale endurecer demais o coração, nem se tornar pateticamente frouxo.

Pessoas pelo mundo que passaram por aqui:

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