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sábado, 29 de novembro de 2008

Veleiro.

Corri para ver o estrondo. Era tarde da noite, mas só eu acordei. Devia ser uma batida de carro, ou algum despencar de um objeto absurdamente pesado. Só que nada vi. Voltei para a cama e tentei dormir apressado, sentia-me testemunha de um caso complexo. O sono fugiu por completo, deixou-me sozinho, aflito. Apertava os olhos e nada. Ameacei uma oração, mas não havia concentração para isso. Sentei na cama procurando com os ouvidos novos acontecimentos. Um carro apressado - e velho - passou fazendo muito barulho, deitei. Uma música na cabeça, catarolei e sorri para o nada. O que era aquilo?

Os olhos ardiam de sono, a mente trabalhava como cedo. Era uma incompatibilidade intrigante, olhos e mente lutavam em meu corpo. Fiquei refém desse duelo, não tinha escapatória. Depois de muitas lutas e batalhas vencidas pelos dois lados, dormi. Olhos cansados não testemunhavam mais nada; mente recarregando enquanto os sonhos fazinham seu trabalho - fuzilando meu corpo.

Lá fora - na rua - o mundo continuava como sempre, rua vazia, barulho do vento...

Acordei pela manhã, bem tarde, não me lembro a hora. Estava cansado, a cabeça pesava, tudo resultado de um dia de batalhas. Tentei recordar o que havia acontecido, porém não adiantava. Lavei o rosto e lembrei do meu sonho: Eu navegava por uma calmaria no oceano, só que estava sozinho e numa grande lancha. Esse foi o meu sonho, longas horas de solitária viagem. Tempo suficiente para repensar na imensidão do mar, minha vida.

Fui tomar café com aquilo na cabeça. Na próxima noite - pensei - quero ter o mesmo sonho, no entanto, colocaria pessoas fundamentais no meu barco. Esse barco, por sinal, não seria mais uma grande e veloz lancha, mas sim, um simples veleiro, capaz de navegar um pouco mais devagar na imensidão...Aproveitar a viagem sem pressa de chegar a lugar algum.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O reencontro.

Foi depois de alguns anos. Ele estava guardado num canto de um armário da casa - nem me lembrava que ainda o tinha. Mas sua capa laranja me chamou a atenção. Olhei e procurei logo o título do livro: Dom Casmurro. Quanto tempo, senhor Machado!? - indaguei.

Lembrei-me que, quando li esse livro na escola (na verdade, vou ser muito sincero, mas nem me lembro de ter lido todo. Acho que parei na metade e complementei com um resumo da internet. Pano rápido!) achei cansativo e extremamente chato, desses que recebemos no ensino fundamental, com uma obrigatoriedade que impossibilita a criança de ter prazer em ler um livro.

Pois bem, achei que devia reler esse clássico da literatura brasileira. (Há uns cinco anos, eu reli o Memórias Póstumas de Brás Cubas, também de Machado de Assis - e adorei essa releitura, por sinal).

Folheei as páginas do clássico Dom Casmurro e foi redescobrindo Capitu e Bentinho. Quem não conhece essa dupla, que já foi, inclusive, inspiradora de protagonistas de novelas e afins (só não me pergunte quais, pois não tenho a menor afinidade com o tema)!? As histórias infantis dos dois se descobrindo como apaixonados e as sensações que Machado de Assis passa, são impressionantes. O autor tem uma capacidade de descrever uma cena e, dentro dela, prender o leitor pela forma como aborda as questões emocionais do personagem - descrevendo suas inquietações e pensamentos - que eu nunca vi igual.

Claro, trata-se de Machado de Assis. Mas me pergunto: Por que só agora pude conhecer de fato sua incomparável narrativa? Só pode ser uma questão de maturidade mesmo, pois o livro não foi modificado desde os meus tempos da escola.

Recomendo esse clássico todos, mesmo aqueles que, assim como eu, já tiveram o gostinho de ler Dom Casmurro. Releia, tenho certeza que irá descobrir um mundo literário novo. Chego a conclusão que, cada vez que andamos por caminhos já percorridos, nos deparamos com situações, fatos e objetos que sempre estiveram ali, mas fomos nós que não soubemos perceber naquele momento suas presenças. Então, amigos, não percam tempo, voltem um pouco em suas estradas, o já conhecido pode reservar surpresas inimagináveis.

(imagem retirada do site: http://www.algosobre.com.br/images/stories/assuntos/biografias/Machado%20de%20Assis.jpg)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O dono do bar.

- Essa televisão não funciona. É horrível! E esse emaranhado de fios? (sacudiu a cabeça) Que coisa. - resmungou o dono do bar, sob olhar de uma assustada funcionária, que juntava meu troco da água.

Joguei no bolso as moedas e fui para a prova. Eram oito e dez da manhã, num domingo chuvoso e cheio de lama... Fiquei com esse desabafo na cabeça, esse resmungado cabisbaixo, de um senhor que aparenta uns sessenta anos, corpo roliço, baixo e corcunda. A funcionária era jovem, não tinha nenhuma beleza exterior, parecia um bicho acanhado. Estava formada uma clara divisão de poder, de um lado o que manda, do outro, a que obedece - e teme.

Fiquei divagando a rotina daquele convívio. O que seriam aqueles dois? Pai e filha? Marido e mulher? Ou simples patrão empregado? Sinceramente não sei, mas há uma infelicidade pairando a vida deles. Foi gritante demais o desconforto que eles compartilhavam - não havia como não perceber.

O sujeito caminhava do fundo do bar para a televisão com a cabeça baixa, andar cansado e preguiçoso. Era observado, de rabo de olho, pela jovem funcionária, que mexia inquieta nas moedas do caixa. E lá no meio estava eu, num silêncio angustiante, observando a cena (simples cena) que se desenrolava na minha frente. Me senti como vendo um filme começado, havia algo antes daquilo que eu não sabia o que era. Quase esqueci a água em cima do balcão, dei um passo para trás e voltei apressado para buscá-la. Os dois conversavam em silêncio, um assunto que eu não pude ouvir. Saí mais devagar, atravessei a rua e entrei para a prova. De algum jeito, levei os dois comigo.

Terminei a prova e fui para o ponto de ônibus, olhei de relance para o bar e vi o senhor conversando sozinho, olhando para a televisão que já funcionava. Parecia mais feliz - mais normal, pelo menos. Deixei-os com seus problemas e suas angústias, coloquei meu fone e cochilei até o centro da cidade. Mais uma prova acabada, mais um testemunho de vida.

sábado, 22 de novembro de 2008

Diálogo interior.

Agora não adianta chorar, menino. A opção foi feita, você escolheu. Tudo bem, tudo bem... As vezes nos pegamos insatisfeitos com nossas atitudes e decisões. Mas fazer o que, né? Foi você que traçou esse caminho.

Af...

Viva, menino! Não se preocupe com os outros, não se importe com críticas e decisões alheias. Viva seu mundo e pronto. Pronto...

Está mais calmo? Então respire...

A vida não costuma responder com sorrisos sem motivo. É preciso correr atrás. Fortaleça seus músculos e sua mente, precisará de cada movimento de dedicação.

E então, as lágrimas secaram? Isso, é hora de voltar a roleta de lutas da vida. Prepare-se e - já.

Agora é com você, rapaz. O empurrão já foi dado, não desperdice essa força e curta esse embalo.

Não se esqueça de olhar a sua volta. A vida, mesmo que dura, necessita de momentos e pessoas especiais.

Quando você menos esperar, estará vivendo um momento único, com profissão e amor - mistura perfeita. Sentirá completamente completo (desculpe a redundância) e desfrutará de cada segundo.

Nesse momento, menino, será um homem maduro, pronto para os desafios, vivendo de suas forças e construindo a vida simples e complexa que sempre desejou.

Só aí, menino, me calarei e o deixarei viver sem mim. Eu, esse sentimento de culpa tolo, que sempre soprou palavras ingratas em momentos inoportunos. Sairei de cena, serei superado por sua felicidade inabalável. Culpa sentirei de todos meus momentos em sua vida - de(s)culpas.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Feliz doce.

O menino ao lado sorriu e me pediu um trocado. Falei que não tinha e saí apressado. Lá na frente percebi que tinha umas moedas sim, não sei por que havia mentido. Voltei, e perguntei para o pequeno para que ele queria aquele dinheiro. - É para comprar um doce. Estou doido para comer um daquele - e apontou para um senhor que vendia uns cuscuz numa carrocinha. Vi que o menino era sincero demais, merecia aquele meu gesto pequeno, que não alteraria minha situação financeira. Estendi a mão e o presenteei com minhas pratas. Ele contou e viu que era o suficiente. Aumentou o sorriso e agradeceu.

Fiz questão de diminuir meus passos. Queria saborear com aquele menino o doce que devorava. Era impressionante a voracidade dele. Passei do lado e pude ouvir o mastigar inquieto. Ele precisava muito daquilo mesmo. Senti-me aliviado e, ao mesmo tempo, fiquei pensando quantas vezes rejeitei um pedido de um doce, mesmo com o bolso carregado de moedas. A concentração do garoto era inabalável - e contagiante.

Fiquei orgulhoso do meu gesto. Senti como se estivesse fazendo minha parte. Mas fiquei me pergutando: - Não estou alimentando um pequeno cidadão que está se acostumando a ganhar as coisas, sem trabalhar e correr atrás? - Mas é uma criança - briguei comigo mesmo - Deixa ele ter esse prazer.

Deixei o racionalismo de lado. - Mais tarde reflito sobre essas teorias sociais, prefiro ter na memória a imagem do menino - pelo menos naquele momento - feliz.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Aprendendo a marcar.

A bola rolou num campo encharcado do interior da Espanha. Era um jogo especial para os onze bravos jogadores do modesto time do Cádiz. Eles enfrentavam os galácticos jogadores do Real Madrid, um esquadrão desatualizado - diga-se de passagem, comandado pelo clássico Zidane, passando pela potência do Roberto Carlos, a plástica do inglês David Beckam e terminando na eficiência do um atacante fenomenal: Ronaldo.

O confronto de duas forças tão opostas parecia já definido quanto ao vencedor - ledo engano. O futebol prega peças nos seus seguidores, não há vitória antes do tempo, sempre há espaço para algo novo.

Esse jogo foi acompanhado por mim, não li sobre ele, ninguém me contou. Com vinte minutos do primeiro tempo, Ronaldo já balançara a rede duas vezes - desenhava-se uma goleada.

Mas a braveza dos gestos, feições e forma de jogo (na raça) dos onze do Cádiz, fizeram com que o panorama mudasse. Fim de primeiro tempo e virada no placar: 3X2. Inacreditável, mas o futebol é inimigo de previsões lógicas, adora matar de vergonha com o inesperado.

O Real voltou modificado para a etapa final. Três atacantes, dois armadores e os laterais jogando como verdadeiros pontas. Não demorou muito para o placar ser alterado: oito minutos do segundo tempo e 4X2 para os amarelos do Cádiz.

Os galácticos ficaram atônitos, ainda tiveram um zagueiro expulso antes de tomarem o gol. O técnico, então, jogou para o alto o esquema combinado. Fez figa, benzeu-se, fez as alterações que podia, perdeu a voz e as mãos suavam nervosas.

A bola parecia proibida de tocar no gramado, ela vinha para a defesa do Real e voltava para o ataque, pelo ar, flutuando. Numa dessas loucas idas e vindas da gorducha, a bola sobrou para o atacante Raul que, de olhos fechados, empurrou para o fundo do gol. 4X3 e oito minutos para acabar a batalha.

O cansaço era visível nos vinte e dois jogadores, o olho estatelado denunciava uma tensão contagiante. E o treinador suava... Ameaçou fazer mais uma substituição, mas não era mais possível; ameaçou beber uma água, atender o celular; não era o momento, precisava terminar a peleja.

A placa de três minutos de acréscimo (sempre três!) já havia subido, o rigoroso juiz não parava de consultar o relógio, era o último lance: um escanteio para a equipe merengue. Até o goleiro Casillas foi para a área. Bola levantada, testada, amaciada pela trave e...GOL! Fim de jogo: 4X4.

Quanta emoção, o coração estava a mil. As equipes saíram de campo, desliguei o computador e saí para estudar, buscando na memória o desenho dos oito gols. Estava de volta ao mundo real, tentando aprender com os bravos jogadores a lutar até o fim. No momento certo terei um escanteio a meu favor, e não faltará empenho para empurrar a bola para o gol.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Reflexão, Veríssimo, Obama, Fórmula1...

Meu coração pára de palpitar acelerado, pois escrevo. E nesse momento, a poeira assenta, o tempo anda em seu ritmo normal, cadenciado. Tudo parece congelar ao meu redor, só meus sentidos continuam vivos - minha mente não pára.

Esse instante de introspecção pode demorar alguns minutos, chegar a algumas horas, mais é um momento único. Vou construindo e reconstruindo o mundo através de minhas palavras. Transformo-me num engenheiro decisivo dessa nova cidade que nasce.

É um trabalho que requer uma dose especial de inspiração, mas que tem como ingrediente principal muita reflexão e suor. É um trabalho, afinal. Requer disciplina, precisão, mas não se pode abrir mão do prazer.

Escrever essas linhas sem prazer é impossível. Eu cairia numa rotina, escreveria por obrigação, fugiria da essência do que proponho nesse espaço.

Claro que eu admiro os que escrevem por periodicidade. O que falar dos textos do Veríssimo que saem aos domingos, no jornal O GLOBO? (Na verdade, o que seria do domingo sem os textos do Veríssimo?). Ele tem uma obrigatoriedade de ter sempre algo a dizer naquele dia e, ao mesmo tempo, não deixa de ser brilhante. Palmas para ele, gênio da literatura brasileira. Eu sou mortal demais, nem me arrisco (muito menos ouso me comparar).
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Brilhante, aliás, é ver um mundo novo que parece se formar a partir do EUA. Lá, eles fizeram história ao eleger um candidato, Barack Obama, que foge do estereótipo dos últimos presidentes norte-americanos (pelo menos vislumbra-se um novo momento da política, vamos ficar atentos). Que ele tenha clareza e noção da responsabilidade que tem em mãos.
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Desenhos e contornos novos numa semana cheia de assuntos especiais. Não vou comentar mais uma “louca” convocação do técnico Dunga para o amistoso contra Portugal. Falo do emocionante fim de prova do GP Brasil de Fórmula1. Que prova! Podemos taxar a última volta da corrida como a mais emocionante de todos os tempos? Quero saber sua opinião. Comente aqui e vote na enquete (a direita, lá em cima. Não deixe de votar!!!!!). Ah, como todos sabem, Hamilton ficou com o título e Massa com o vice-campeonato. O campeonato de 2009 promete ser ainda mais emocionante. Veremos...

Pessoas pelo mundo que passaram por aqui:

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