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domingo, 18 de dezembro de 2011

Quebra-cabeça interno.

Sou feito de peças de quebra-cabeça, misturadas. A graça dos dias, a graça da vida é fazer e refazer esse jogo. As vezes a gente começa pela ponta, perde tempo com aquela peça engraçada na mão, tenta descobrir onde encaixaria aquela figura. - Se ela é azul, só pode fazer parte do céu, claro! Só que o rosto que se forma, a cara única que aparece é a minha. São grandes pixels formando a identidade desse que vos escreve.

Corro para entender aquela minha expressão cansada que se forma. Seria o passar dos anos, ou é a correria do dia-a-dia? Ou seria uma soma dessas perguntas que sempre nos martelam? Fico com a resposta de perguntas repetidas... Mudo o ângulo de ver aquela face, fico mudo com as formas que a luz e a sombra me apresentam: como a gente se conhece pouco - pergunto, afirmando a mim mesmo.

Corro para fechar a janela. A chuva que tenta invadir minha casa é como uma força externa que tenta impedir meu devaneio. Deixo a força da água retida pelo sujo vidro do apartamento, deixo correr as histórias que conto e as coisas que ainda estão por vir. 

Nesse emaranhado de reflexão tento dimensionar o tanto que esse ano passou rápido, o modo como encarei os fatos, as novidades, os encontros, os desencontros, os estudos, o trabalho... Reviso-me em fração de segundos, fico satisfeito com a imperfeição do resultado. Mais um ano se aproxima, mais histórias rabiscarei nesse papel que me forma.

Continuarei, como todos, na busca da realização dos objetivos, em todas as esferas, em todos os sentidos. Sou reservado, por mais que abra o peito e coloque no papel minhas sensações, não corto na carne e nem deixo exposto tudo o que sinto. Hoje, já mais perto dos 30 do que dos 20 anos, aprendi a ter paciência para realizar os objetivos. Errando bastante, aprendi que as coisas e as pessoas que conquistamos têm que fazer parte de um processo de conhecimento e, claro, de autoconhecimento. No meio dessa certeza racional, há a incerteza da ansiedade, a insegurança natural, os questionamentos infinitos. O processo de viver, concluiria eu.

Mas concluir é o que não quero, na verdade. Ser racional é o que sou, só que as vezes sou surpreendido por sentimentos que jogam essa racionalidade no lixo. Gosto disso, acho interessante esse duelo interno. Os sentimentos jogam a razão de lado e desconstroem o castelo dos discursos prontos. Eles até nos assustam, mas sentimentos são a graça disso tudo.  É como surpreender alguém com uma surpresa (com perdão da redundância), como provocar o sorriso inesperado.

Por isso recebo 2012 agradecendo o 2011. Pretendo ter por muito tempo as pessoas que gosto ao meu lado, esse seria o maior pedido para o ano que se aproxima. Lógico que tenho objetivos traçados, sonhos a realizar; mas isso não se restringe a uma simples virada de ano - e deixo um pouco para essa relação minha comigo mesmo. Natal e reveillon se aproximam. Ótimas festas a todos! Qualquer hora volto por aqui.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Tempos....acordei com isso.

Muito tempo sem me esconder por aqui, muita coisa acontecendo, mas outra hora eu volto para contar um pouco das novidades, se assim for interessante. 

Hoje, passo aqui rapidamente para colocar uma frase que acordou martelando minha mente. Não sei explicar, nem o porquê, mas desde a hora que acordei estou com uma frase na cabeça e achei que o Escondidin era o melhor lugar para a morada dessa frase "aleatória": Fotografia transforma em imagem o que um dia será saudade.

Simples assim, outra hora eu volto. 

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Enxurrada de perdas...

O olhar se perdia como a pipa que não tem mais contato com as mãos da criança, que se entrega aos ventos e tem destino incerto. A tristeza batia no peito, roubando o ar, sendo cruel, dura, real. Era preciso recomeçar, era necessário olhar para frente com esperanças, mas tirar da onde? O certo era sua solidão, não havia mais casa, não tinha mais os pais, nem a irmã; perdera o chão.

As chuvas levaram toda história, em poucos segundos destruiu anos de vida. Nunca houve luxo, nunca faltou nada. E agora, o que restou? Somente os olhos perdidos, o entregar da dor vencendo a luta diária. Os amigos estão por perto, mas não sabem como ajudar. As pessoas estão ali, mas a solidão é interior, é fria...

Ele levanta do que restou da casa e pega um porta-retrato com o vidro trincado. Ali estavam eles: O rapaz, o pai, a mãe e a irmãzinha. Mas eles estão só ali, eternizados, sem movimentos naquela foto. E o rapaz foi o que restou. O choro voltou ao rosto, por que fui o único poupado? - se perguntou. Parecia não ter forças para conviver com aquele turbilhão...

Esfregou os olhos tentando conter os soluços, paralisou seus movimentos em busca de resposta. Olhou ao redor, percebendo cada semblante das pessoas que ali estavam. Viu que não estava abandonado, mas o momento era dominado pela dor. Correu em direção ao irmão de seu pai e o abraçou com força, com raiva. Sufocou uns longos minutos naquele abraço, ambos mudos, ambos juntos na dor. Era dali que reconstruiria sua vida, a cabeça agora estava borbulhando, muita perda para entender sua dimensão. Até esboçou um sorriso, mas se puniu, com lágrimas tomando conta novamente...

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Caminhando.... Sonho.

"Caminhavam lado a lado pela estrada. Deserta, quente, de uma paisagem perdida, não ligava a outra estrada, não tinha começo nem final. Era como um rio que não desagua no mar, um rio que simplesmente existe para compor uma paisagem. Mas as duas estavam ali, tendo que procurar sobreviver naquele ambiente desagradável. Nada falavam, só ouviam os passos aleatórios, só gostavam de ter a companhia uma da outra, de não estar sozinhas.

A água já estava acabando, comida não havia mais, era tudo um cenário perfeito de últimos suspiros. De onde viria o resgate, de onde sairia o carro capaz de encontrá-las, se aquela estrada não dava em lugar algum!? Uma resolveu parar e olhar a paisagem em todos os seus cantos, tentar descobrir o que era aquilo, tentar lembrar de um passado que as estivessem levado até ali; mas nada. A outra ameaçou falar algo, pensou em perguntar o nome da outra mulher, tinha certeza que não a conhecia. A reflexão foi sincronizada. Elas se encararam, uma com os olhos cheio d'água; outra seca, mas incrédula.

O céu compunha uma cor forte, um laranja azulado, como um pôr-do-sol hipnotizante. Era diferente, era assustador... As duas fecharam os olhos ao mesmo tempo, forçavam uma busca, uma explicação. Ao voltarem para si e para o mundo, se depararam com um jovem rapaz caminhando em direção a elas...

Ele as encontrou com um sorriso, desses espontâneos. Falou que era um prazer recebê-las nesse mundo novo. Disse que as duas precisariam demais uma da outra a partir daquele momento. Não explicou muito, só pediu que o seguissem. Elas não tinham outra escolha. O rapaz era confiável, parecia, pelo menos. Caminharam mais umas três horas pela estrada, todos em silêncio. Chegaram num imenso portão, separando o mundo que estavam de um belo jardim florido. As duas se olharam, aquele lugar parecia mágico. Nem esperaram pelo convite do jovem e já entraram, confiantes. 

Lá havia uma enorme quantidade de pessoas trabalhando, caminhando, todos sérios, mas pareciam felizes. O jovem as convidou para entrarem numa casa simples e as serviu um banquete delicioso. Aquele lugar, explicou o jovem, era a colônia dos sonhos. Ali se trabalha com os sonhos vindos dos sonos das pessoas na Terra. Daquele portão para dentro não entrava pesadelo, eram só rosas e maravilhosos desejos. Elas estavam sendo convidadas para fazer parte daquele mundo, trabalhar nos sonhos, garantir aos que dormem os mais belos desejos, a fuga da realidade.

As duas se assustaram. Saber que estavam mortas era uma dor desconhecida. E as causas? E as famílias que ficaram para trás? Tinham muitas perguntas a fazer. - Com o tempo as respostas vão aparecendo - garantiu o sorridente jovem, como que adivinhando os pensamentos delas. Elas não tinham escolha: Ou aceitavam fazer parte desse novo mundo real dos sonhos, ou voltavam para a estrada deserta, infinita. Resolveram trabalhar naquele novo mundo, escolheram largar a estrada desconhecida e assustadora. Apostaram no novo e encantado mundo..."

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Acordei assustado, suado. Esse mundo que se criou em minha mente, contado nessas linhas, foi um fruto de um sonho. Não sei se eu era o jovem, ou se fazia parte dessa colônia, mas foi tudo tão real... Será que construíram meu sonho nesse lugar? Muitas perguntas, muitas divagações e o dia pela frente. Deixa eu voltar a realidade, ou seja lá o que isso significa.

domingo, 17 de julho de 2011

Devaneios e o retorno ao ESCONDIDIN.

Estou distante do ESCONDIDIN, nosso relacionamento está estremecido. Não, não.... Ele fica aqui, meio adormecido, deixado de lado por esse que vos escreve, mas não sai do lugar; fica como que só aguardando um retorno, uns rabiscos a reescrever uma nova história, um despertar do preguiçoso blogueiro.

E nossa relação é essa mesmo, as vezes consumo demais o simples blog dos poucos leitores, as vezes o abandono a própria sorte, deixando de lado pra ver se ele adquire vida própria, se sobrevive das próprias pernas - ou seria das próprias letras? Mas sempre volto, sempre volto.... Demoro pouco ou muito para retornar ao lar do meu desafogo das palavras, mas, como aquele filho que busca vida nova longe da casa dos pais, há sempre o reencontro, o dia de retornar para rever os velhos, reabastecer das energias infantis, curtir os papos do que aconteceu e do que acontece mesmo com a ausência inevitável. E com o blog também é assim, há sempre o retorno. Desafogo aqui as impressões que me sobrecarregam nas semanas e nos meses sem postar nada, assim como os sentimentos que me consomem e as experiências que adquiro.

Escrever pra mim é como se aproximar do mar. É olhar pra frente e ver o infinito azul que se apresenta, o infinito de possibilidades, a imensidão dos sonhos a serem alcançados. É respirar aquele ar de maresia, sentir a areia fria agarrar aos pés. Poucos minutos já bastam para estreitar essa relação. Tanto lá na praia, com a mente aberta; como aqui, com as letras em profusão. Os devaneios que saem dessa mão inquieta são como os barcos que rasgam a fria água do mar. E eu continuo aqui, com a vela do barco aberta, deixando o vento me levar no melhor caminho, mesmo com as inevitáveis tempestades...

sábado, 21 de maio de 2011

Divagando 3...

(Texto em homenagem ao tio Assis - do estilo que ele gostava).

Comecei a divagar, no meio desse barulho, dessa ressonância de conversas que me envolvem. Tentei parar meus pensamentos e focar no texto a ser lido - o mesmo que serve como rascunho desse que vai surgindo... Mas parece impossível, quando minha mente se inquieta, quando os dedos tomam a caneta, é como se eu psicografasse uma avalanche de palavras e ideias desconexas. Mas esse emaranhado sem rumo toma uma mesma direção e parece ganhar forma - a criatura começa a ganhar uma cara, sou passageiro do meu próprio texto.

Canso as pernas num balanço sem fim, externo ideias, pipocam vontades. Desse turbilhão vou me descobrindo e me (re)construindo. Já não sou mais o mesmo de antes, agreguei valores, joguei fora manias e sentimentos, mas ainda possuo a essência do menino, ainda creio na vitória das coisas boas, no aperto de mão, no olhar nos olhos, no beijo sincero, nas palavras da alma. Posso estar bradando para um mundo que não quer ouvir. Não me importo, reflito em mim mesmo os meus pensamentos. 

Cada dia mais tento dar menos valor aos bens materiais. Reconheço a importância de alguns, reparto a desimportância da maioria. Prefiro ficar com o que vale. Aposto - aposto alto - no valor do que de fato tem valor. Meus defeitos e limitações borbulham e me afastam do ideal, mas essa luta, essa busca é que recicla os objetivos. Hoje falo mais, externo mais o que penso; só que ouço muito, tento aprender com os ouvidos, ouvir com os olhos inquietos.

Os erros se multiplicam, mas me orgulho deles. Não sou máquina, vivo do lado oposto da perfeição. O que escrevo é a trilha de migalhas de pão que vou deixando pelo caminho. Convido-o(a) a caminhar comigo. Não há luxo, não há promessas nem ilusões. Só que há passos firmes, vacilantes; mas repletos de sinceridade.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Letra que me embaralha.

Gol de letra no futebol é como esnobar o goleiro, como chegar para ele, parar a jogada e dizer: - Meu camarada, olha como esse lance tão simples desmonta toda sua semana de treinamento. Será que você é tão bom assim mesmo?

Tudo bem, talvez há um rigor nesse meu diálogo imaginário, mas foi assim que me senti quando vi o gol do Falcão - aquele craque do futsal - sobre um time que, confesso, desconheço o nome. Me coloquei na pele do goleiro, senti-me humilhado, deu vontade de desligar o pc, ou sair de quadra, caso eu fosse o arqueiro na vida real.

Futebol tem esse encanto, tem esse poder de fazer com que seres tão iguais e comparavelmente preparados se comportem - e se coloquem - em extremos: um brilha de um jeito mais simples, quase infantil; outro é vencido por todo esse beabá, mesmo estando preparado para combater e se deparar com golpes duros, verdadeiras pancadas de jogadores profissionais.

Mas a letra falcaniana desatou o nó do profissionalismo, quebrou o acordo da regra do jogo, tornou infantil a categoria adulta, fez o sonho dominar a quadra... Embarquei na viagem, mas peguei a carona no vagão errado, fiquei do lado mais fraco, virei o goleiro.

Foi duro, foi desonesto até. Mas, por outro lado, é gratificante enfrentar toda essa magia, ser envolvido pela verdadeira arte da bola. Fui alvo, fui vítima, mas vi tudo de perto, sou privilegiado. O cara é um monstro, e joga sabendo dos seus poderes. Treinamos a semana inteira para enfrentá-lo, mas não deu, claro que não deu, ainda bem que vem por aí jogos normais, contra atletas normais...

Normalidade, aliás, é sair desse real mundo e encarar esse virtual jogo dos sonhos. Como é bom ver um talento demonstrando suas habilidades, é possível viajar nesse universo, assumir posições, sentir raiva e sorrir com um simples lance. E tem gente que acha que isso é humilhar o adversário, que deveria ser proibido.... É, pode ser, a humilhação foi grande!

OBS.: Vejam o lance do Falcão: http://video.globo.com/Videos/Player/Esportes/0,,GIM1448937-7824-GOLACO+FALCAO+PELO+TORNEIO+DE+GRAMADO+DE+FUTSAL,00.html

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Os Barulhos do Rio - Augusto Barros.

Hoje quem manda o recado é o amigo Augusto Barros, do blog "Poesias do Augusto": http://poesiasdoaugusto.blogspot.com/ (indico aos que curtem poesia).
Boa leitura e deixem seus comentários...

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OS BARULHOS DO RIO
       
   Sábado à noite, às dez horas, estavam deitados na cama. Talvez para dormirem, mas assistiram um filme. A mulher, fitando a televisão, indaga ao marido:
   Vamos à praia?
    A essa hora?
    E o que é que tem?
    Você por acaso olhou o relógio?
   Sim.
    Não parece.
   Ah amor! Deixa de ser desanimado vai!
    Não é desân...
    A praia a essa hora é linda! Aliás, o Rio de Janeiro todo a essa hora é lindo! Tão romântico...
    Hum.
   O Cristo iluminado... o Pão-de-açúcar...
   Os assaltos... os furtos...
   Ipanema banhada pelo luar... o barulho das ondas...
   As balas perdidas... o tráfico de drogas...
   Segundos de silêncio. O marido a olha com semblante de negação. A mulher, então, exclama:
   Desisto!
   Ótimo. Vou dormir. Beijo.
    Beijo. Boa noite, né?!
   Boa noite amor.
   Ele apaga o abajur ao seu lado na cabeceira. Não passa dez minutos para que a mulher, novamente, exclame:
   Que saco!
   O que foi dessa vez?
   O que foi?! Não está ouvindo esse barulho?!
   É a sirene da polícia, oras.
   Não está dando para dormir assim!
   Então feche os olhos e imagine o barulho das ondas em Ipanema. (E ele riu ironicamente)
   Chato!
   A mulher vira para o lado levando o travesseiro ao ouvido. Demora a dormir.

                                                                     

 Augusto Barros Mendes

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Releitura: "Meu pátio, minha história".

Continuando nas 'comemorações' dos três anos do ESCONDIDIN, hoje publico um texto "escondido" nesse espaço no dia 03 de setembro de 2009. Espero que gostem dessa releitura e deixem seus comentários. Qualquer hora volto com texto inédito.

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Os carros enfileirados são como lembranças do passado. Cada modelo é o representante de um tempo e suas histórias, sua data de fabricação é seu número de identidade. Aquele lá, o FUSCA marrom é o mais velho de todos, remete-se ao tempo da ditadura. Veja como em sua lataria e nos detalhes o tempo foi cruel, como sofreu o coitado...

Olhando mais adiante, encontramos uma velha relíquia, aquele MONZA VERMELHO com fita verde e amarela amarrada na antena. Ele, apesar da idade, transborda jovialidade e não se cansa de repetir, através do ronco do seu motor, que fez parte do movimento das DIRETAS!

A história vai mudando o design dos veículo. Eles ganham em tecnologia e em modernidades diversas. Vejam o ar esportivo daquele ESCORT XR3-amarelo-conversível, todo exibido ali em cima. Teve que modificar o motor depois de ficar “sem voz” de tanto repetir em alto e bom som: “É Tetraaaa....”, em 1994. Mas não há arrependimento, há 24 anos o Brasil não ganhava uma Copa do Mundo.

Mas os anos pós-Tetra parecem passar - covardemente - mais rápido. Mal pude curtir a primeira geração do GOL-BOLA e os filhos, netos e bisnetos desse sucesso de vendas já rodam modernos e fogosos pelas ruas. Só que meu pátio imaginário continua cheio de relíquias apossadas por mim nesse meu poder de sonho. Ainda há TEMPRAS, de um luxo definidor que marcou época; CORSAS e sua capacidade de manter-se na ativa; HONDAS, mais que luxo e rompedor de um passado pacífico para um presente avassalador.

Todos esse veículos, e suas respectivas épocas, são apenas uma construção histórica do período em que nasci, que acompanhei de fato os fatos, e que perdura até hoje, com toda essa vida agitada - que mal cabe em 24 horas.

Esse luxuoso (mais de lembranças pessoais que em valores) pátio não existe de verdade, não possuo esse poder financeiro de colecionar ícones de épocas que retrataram momentos marcantes. No entanto, em minha memória, cada peça desse museu tem valor inegociável. São relíquias que me formaram e me formam, tendo como único preço o tempo, que cobra caro e passa sem piedade.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A arte de seduzir - Frei Beto.

Hoje peço licença aos amigos escondidos nesse blog para publicar um texto do Frei Beto, escritor e filósofo sábio em suas reflexões. O texto que os amigos irão ler foi publicado no jornal O GLOBO, domingo, dia 20/02/2011. Uma ótima análise sobre nossa sociedade nos dias atuais. Deixem seus comentários e deliciem-se com esse texto.

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A arte de seduzir - Frei Betto


Toda ditadura é megalômana. E a que governou o Brasil sob botas e fuzis, de 1964 a 1985, não foi diferente. A construção da rodovia Transamazônica simboliza a arrogância do regime militar.

Rasgou-se a selva de leste a oeste. Abriu-se a estrada em paralelo a caudalosas vias fluviais. Em vez de aprimorar o sistema de navegação pelo Rio Amazonas e seus afluentes, a ditadura preferiu obrigar a floresta a ajoelhar-se a seus pés. Possantes máquinas puseram abaixo árvores milenares encorpadas de madeiras nobres, destruíram ecossistemas preciosos, alteraram o equilíbrio ecológico da região.

Tudo em nome de uma palavra tão propalada e, no entanto, vazia de significado: desenvolvimento. Leia-se: exploração predatória da maior floresta tropical do mundo, aberta à voracidade de mineradoras, madeireiras e, sobretudo, do latifúndio predador, quase sempre movido a trabalho escravo.

“No meio do caminho havia uma pedra”, repetiria Drummond. Povos indígenas. Como impedir que oferecessem resistência? Simples: através da arte de seduzir. A Funai ergueu tapini (cabanas de folhas). Dentro, utensílios de caça e cozinha, ferramentas etc. Os índios, encantados com os objetos, acolhiam gentilmente os caraspálidas. E ingenuamente eram cooptados pelas relações mercantilistas. Em troca de bugigangas perdiam saúde, terras, liberdade e vida.

Detalhe: o mato, não o gato, comeu a Transamazônica, fonte de riqueza e poder de umas tantas empreiteiras.

Hoje, os índios somos todos nós. Os tapini, os shoppings, a publicidade, as veneráveis bugigangas que nos agregam valor. O inumano imprime sentido ao humano, como faziam os deuses de ouro denunciados pelos profetas bíblicos: tinham boca, mas não falavam; olhos, mas não viam; ouvidos, mas não escutavam; pés, mas não andavam...

Estamos todos somos sob o efeito hipnótico do consumismo. Não importa se o produto é frágil ou de má qualidade. Seu design nos cativa. Sua publicidade nos faz acreditar que estamos comprando a oitava maravilha do mundo! E, ingenuamente, que se trata de um produto durável, mesmo conscientes de que o capitalismo não se importa com o direito do consumidor, e sim com a margem de lucro do produtor.

Como se livrar do labirinto consumista que, na verdade, se consuma nos consumindo? Não vejo outra porta de saída fora da espiritualidade, somada a uma nova visão do mundo. Sem espiritualidade corremos o risco — sobretudo os mais jovens — de dar importância àquilo que não tem. Imbuídos da baixa autoestima que nos incute a publicidade (“você não é ninguém porque não possui este carro, não veste esta roupa, não faz esta viagem...”), encaramos a mercadoria como algo que nos agrega valor. Não basta a camisa, a bolsa ou o tênis. Têm que ser de grife, com a etiqueta exibida do lado de fora. Assim, todos à nossa volta haverão de reconhecer o nosso status. E quiçá invejar-nos. E aquele ser humano que, ao lado, carece de produtos refinados, é visto como não tendo nenhuma importância. Pois não se enquadra no atual princípio pós-cartesiano: “Consumo, logo existo.”

É espiritualizada toda pessoa cujo sentido de vida deita raízes em sua subjetividade e cujas opções são movidas por ideais altruístas. Ela não faz do que possui — conta bancária, títulos, casa, carro etc. — seu fator de autoestima. Sabe que tem valor em si, que não é nutrido pela posse de bens, e sim por sua capacidade de fazer o bem aos outros. Sua autoestima se funda na generosidade, solidariedade e compaixão. Ela é feliz porque sabe fazer outras pessoas felizes.

O mercado tudo oferece. Todos os seus produtos nos chegam embrulhados em papel de presente: se compramos este carro, seremos felizes; se bebemos aquela cerveja, nos sentiremos alegres; se adquirimos tal roupa, ficaremos joviais. O único bem que o mercado jamais oferta é justamente este que mais buscamos: a felicidade. No máximo, o mercado tenta nos convencer de que a felicidade é o resultado da soma de prazeres

Ora, a felicidade é um bem do espírito, jamais dos sentidos, da cobiça ou da arrogância. É feliz quem ousa destampar o próprio ego e conectar-se com o Transcendente, o próximo e a natureza. Esse irromper para fora de si mesmo tem nome: amor. E se manifesta nas dimensões pessoal, no dar de si ao outro, e social, no empenho de construir um mundo melhor.

FREI BETTO é escritor.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Salada 2.

ADIOS R9!

Ronaldo se foi. Calma, ele não morreu. Vocês viram, o mundo noticiou: Ele pendurou as chuteiras!
Tudo bem, já era hora mesmo de parar, o peso já apontava um fim de carreira, as jogadas não saiam mais como antigamente. Mas ele deixará saudades na torcida brasileira, foi um grande atacante, dos melhores que vi jogar... Palmas para o craque.

FÓRMULA 1.

Fiquei intrigado com a decisão da Renault-Lotus sobre o substituto do polonês Robert Kubica. Como vocês sabem ele teve um acidente muito grave e, por sorte, sobreviveu. No entanto, e para se recuperar, Kubica deve ficar uns seis meses longe das pistas. Pronto, chance para o Bruno Senna, certo? Errado, tratando-se de Fórmula 1, amigo, tudo pode acontecer... A equipe francesa que conta com três reservas parece que recorrerá a um outro piloto para substituir o contundido Kubica. Então para que servem os 3 reservas? - pergunta esse ignorante ser. É como ter um time de futebol e na hora de fazer uma substituição recorrer a um torcedor na arquibancada, em vez de um dos suplentes. Não sei de mais nada...

EGITO.

População nas ruas, praça Tahrir servindo como berço das mudanças daquele país, muitas histórias, muita luta e governo de 30 anos deixando o cargo. Vitória do povo, vitória das ruas... Sentiria orgulho se fosse egípcio, ou se pelo menos pudesse estar por lá para vivenciar essas mudanças.

CONTOS.

Gosto muito dos contos bem escritos. Como Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade e de Mia Couto. Esse último, aliás, tem um livro sensacional chamado "O Fio das Missangas" - me desculpem se já falei desse livro aqui no ESCONDIDIN, posso estar variando das ideias.... Os contos são muito bons, muito bem escritos, de uma simplicidade invejável. Estou na segunda leitura desses contos. É como uma cachacinha para abrir o apetite, vou lá e me brindo com uma bicada nas missangas. Recomendo aos amigos.

DESCONTOS.

Somos especialistas em lojas em promoção, já perceberam? Basta uma faixa vermelha na vitrine de uma loja para começarmos a puxar a fila. Nem sabemos os produtos, nem o motivo, mas vamos para o final da fila na expectativa de levar uma pechincha pra casa. Nem o calor, nem o cartão estourado, nem a impaciência de uma criança nos faz sair daquela romaria. Semana passada entrei numa dessas roubadas - agora parei! Coitado dos funcionários, fiquei com pena...

R9 X ROMÁRIO.

Enquanto escrevo essas linhas para os que aqui se escondem, começa a se formar uma nuvem negra nos canais televisivos, o povo já vem com as comparações(nisso também somos ótimos, aliás): Quem foi melhor, Ronaldo ou Romário? Olha, vou antecipar meu voto no baixinho. Ele foi mais completo, e tinha no cabeceio uma característica muito forte - apesar da baixa estatura - diferentemente do Ronaldo. Mas são dois grandes do futebol nacional e mundial, não precisamos ficar comparando...(Já comparei - sic!).

(Imagem retirada do site: http://www.nominuto.com/_resources/files/_modules/files/files_11574_200901292034275d96.jpg).

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Analisando com o olhar de hoje.

Estava lendo um conto de um sujeito chamado Carlos Drummond de Andrade, conhecem? Sensacional esse mineiro de Itabira. O texto dele não se lê, se escorrega. Digo isso porque a leitura é muito fácil, flui como um rio descendo seu curso natural...

Mas uma coisa ficou latejando na minha cabeça: o tal do nosso tempo. Impressionante, com o passar dos anos, dos hábitos e dos costumes, coisas que eram comuns antigamente viram absurdos hoje em dia. Pois bem, analisemos: "...a saudade do mano muitas vezes estragava nosso banho no poço, irritava ainda mais o malogro da caça de passarinho." Pronto, se esse conto de Drummond fosse escrito hoje o grande poeta seria acusado pelos ambientalistas, o crucificariam por incentivar o extermínio de raras espécies de pássaros, um homem terrível, o pior exemplo para nossas crianças - muitos bradariam!

Mas percebam o contexto, o momento histórico que o conto "A Salvação da Alma" foi escrito. Era comum aos meninos do interior, ainda mais do interior de Minas Gerais, caçar passarinhos, criar pombos (como relatam meus tios); coisas que vistas hoje em dia causam arrepios nos teóricos de plantão. 

Fiquei divagando... se fosse hoje Drummond sofreria uma investida de um repórter com uma câmera escondida, para verificar se ele cria espécies raras em sua casa, em Itabira. Seria matéria para encerrar o 'Fantástico', da Rede Globo. Estaria nosso grande escritor fadado a passar alguns meses nas prisões brasileiras pelo incentivo ao crime ambiental. Já pensou? (Antes de criar polêmica entre os 7 leitores do ESCONDIDIN, digo logo e brevemente que sou a favor de pássaro solto no seu habitat natural. Ponto!). Mas vivendo na nossa loucura do século XXI, Drummond poderia ser acusado e alvo de críticas pra todo lado.

Mas, feliz é nosso escritor que não precisa ter seus textos analisados e julgados como crime e, ao mesmo tempo, ser obrigado a se deparar com análises contundentes e muito sérias de programas de televisão, como diversos exemplos que conhecemos muito bem - não vale nem a pena enumerá-los.

No entanto, amigos escondidos, e para mostrar que Drummond também poderia ser um senhor muito antenado com os fenômenos atuais, percebam o começo da frase citada: "...a saudade do mano muitas vezes estragava nosso banho no poço...". Pronto, muitos analistas verificariam a presença de um claro relacionamento homossexual entre esses 'manos'. E agora, mais do que em qualquer outro trecho do livro, Drummond seria absolvido, estaria apenas representando as relações tão comuns do nosso dia-a-dia.

Num pequeno trecho pinçado de uma obra grandiosa de nossa literatura podemos fazer o mesmo exercício que nossa grande mídia faz ao reproduzir uma declaração de uma figura importante. De acordo com o interesse editorial, eles moldam da forma como querem e ainda transformam trechos pouco relevantes de um grande contexto numa manchete de jornal, como no nosso exemplo que poderia ser: "EM CONTO DE DRUMMOND PROTAGONISTAS VIVEM RELAÇÃO HOMOSSEXUAL". Pronto, a manchete está criada, o jornal será vendido, mas será que é isso mesmo?

Pois bem, quem já teve a oportunidade de ler esse conto (A Salvação da Alma) sabe muito bem que o autor descreve os momentos de saudade do irmão mais novo quando o mais velho se muda de cidade para estudar. Esse é o fato, esse é o contexto, essa é a verdade. Mas quem se importa? O jornal já foi impresso, já está nas bancas com a polêmica manchete na primeira página. Cabe a Drummond desmentir e provar que aquilo que dizem não é aquilo que ele escreveu. Mas quem paga por esse erro?

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Releitura: "Precisamos Falar SObre Kevin".

Em janeiro de 2011 (ontem) o Escondidin fez três anos de vida. Depois de muitos textos, muitas reflexões e muito bate-papo com os amigos que aqui se escondem, resolvi republicar alguns textos que marcaram essa curta tragetória do simpático blog. Continuarei escrevendo texto inéditos, mas vez por outra vocês irão se deparar com textos que já fazem parte do universo Escondido. Boa (re)leitura e espero que gostem.

Hoje vamos recontar a história de um livro que me chamou muita atenção, Precisamos Falar Sobre o Kevin, publicado nesse blog no dia 31 de janeiro de 2008.

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Sinceramente, acho que nunca li um livro tão instigante, cheio de fatos que arrepiam, que surpreendem, principalmente por se tratar de uma história que de fato aconteceu.

Sei que coisas assustadoras acontecem toda hora ao redor do mundo, mas certas notícias (mesmo quando se tornam corriqueiras) não saem da nossa cabeça.

Este livro trata, basicamente, de um relato de uma mãe, Eva, que se vê acabada depois de seu filho, Kevin Khatchadourian ter entrado na escola e matado nove pessoas. É de arrepiar como esse livro é agudo. Cada página parece tirar uma máscara hipócrita da sociedade, que sempre tem respostas prontas para qualquer fato.

"Precisamos Falar Sobre o Kevin” difere justamente nisso, o relato dessa mãe atônita não se caracteriza por ser politicamente correto, com frases feitas sobre problemas familiares. Eva fala de toda sua apreensão como mãe, desde o momento que o filho nasce, sua insegurança, suas dúvidas, como a de vocação por ser mãe. Mais do que isso, ela rebate a tão divulgada “depressão pós-parto”. Não que ela não acredite que esse tipo de depressão atinja algumas mulheres logo após terem seus filhos, mas não a ela. A falta de entrosamento (se essa é a palavra mais adequada) entre ela e seu filho fica nítida desde o primeiro contato, naquele momento que o médico encosta a criança no peito da mãe, logo depois do nascimento. Nem ela, nem o bebê pareciam querer estar ali.

Se passam 16 anos até Kevin entrar para história como um dos adolescentes americanos que resolvem eliminar todos os que o deixam constrangido, o incomodam. Mas o que leva esse jovem a fazer isso, mesmo sendo de uma família privilegiada, com uma bela casa, com estrutura educacional? Justamente essa é a pergunta que Eva se faz em todo livro!

Os capítulos são divididos em cartas escritas pela mãe ao pai ausente. São história surpreendentes - a maioria triste, é verdade - com um belo trabalho de introspecção, uma busca constante de entender aonde ela, como mãe, tem culpa pelas mortes cometidas pelo filho.

Impossível não falar desse livro sem adjetivá-lo, sem deixar de contar detalhes de uma vida tão trágica. Alternamos momentos de comunhão com a mãe de Kevin, onde partilhamos todo seu sofrimento, imaginando tudo que ela passou depois daquele dia trágico; ao mesmo tempo, impossível não deixar de ver suas responsabilidades na criação dessa criança e nas mortes, indiretamente.

Quanto ao Kevin, bem, quanto a esse jovem, é impressionante como sua personalidade se formou tão cedo, como, mesmo ainda criança, não se importava com brincadeiras e divertimentos infantis; parecendo, na verdade, que já antevia seu futuro sem futuro.

Mesmo já tendo terminado de ler o livro há duas semanas, não paro de relê-lo mentalmente. As situações vão passando em minha mente, como um filme inesquecível. A crueldade do ser humano fica muito mais latente quando se conhece o que se tem por trás, o que forma essa mente tão misteriosa.

Perceberão que, apesar de tudo, uma mãe nunca deixa de amar o seu filho.

Recomendo este livro!

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

De Plástico ou de verdade?

Hoje resolvi republicar um texto ESCONDIDO aqui em julho de 2010. Para aqueles que não tiveram a oportunidade de ler, espero que gostem! Aí vai:

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As vezes me sinto empoeirado, como uma planta de plástico invisível na mesa de jantar. Preciso me transformar em natureza verdadeira, receber água que garantirá a vida, ganhar cor, respirar ares de um novo viver.

A vida da planta é curta, um rápido tiro de conseqüências belas. Afinal, de que adianta viver muito se num breve existir ela exala perfume e inspira amores?! Prefere manter-se breve, mas intensa.

Plastificá-la significaria eternizá-la na mediocridade, transformá-la num infinito sem vida nem cheiro, ela não escolheria esse caminho.

Nesse mesmo devaneio, me questiono sobre esse louco dia-a-dia que nos metemos. Enlouquecemos na rotina enfadonha, tudo em nome de alguns reais que garantirão a sobrevivência. Somamos dívidas, somamos bens, sonhamos com luxos imaginativamente perfeitos. Mas esquecemos de momentos fundamentais: Assim como as plantas, precisamos criar raízes para sobreviver por mais tempo, para nos solidificar no terreno que pisamos, nas relações que mantemos e até nos sonhos que sonhamos.

Só que a raiz não fica visível. Apesar de fundamental, ela está enterrada, colocada sob a terra, escondida dos olhos dos outros. Assim é nossa vida, devemos nos preocupar com o que vai além do olho alheio, além do julgamento pela aparência física, que um dia envelhecerá e será só marca do tempo. O mais importante, ou melhor, o mais substancial está enraizado, invisível aos  olhos. Mas essa invisibilidade é o que define nossos valores, é a nossa impressão digital, o que nos encanta e nos faz ser motivo de encanto pelos outros.

Admirar alguém, ou uma planta, por exemplo, é isso. É olhar aquela pessoa e perceber o que vem além do que os olhos alcançam, é se encantar por uma beleza escondida naquele interior, é não ter uma explicação por  tamanha admiração, mas somente senti-la. Amizade é isso, amor verdadeiro também.

Afinal, quantos sentidos não são aflorados nos momentos em que estamos com a(s) pessoa(s) especial(is)? E, além daquela flor que enfeita o jardim, que recebe fleches de várias máquinas fotográficas, há outra ao lado (conseguem ver?). Essa última é muito menos exuberante, muito mais defeituosa, muito mais simples; mas, para alguns ou para alguém, ela será motivo de encanto, receberá o fleche mais importante e se transformará de um simples adereço de plástico, numa maravilhosa flor inspiradora de um grande buquê.


segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

SOS TERESÓPOLIS 2.

Ouvindo Casuarina - O Canto do Trabalhador - pra driblar das notícias.. Relembrando os momentos maravilhosos que essa cidade me proporcionou, os amigos que me permitiu fazer, os amores que desenharam forte na minha pele... redescobrindo Teresópolis, mesmo no meio de tanta coisa, tanta tragédia.

Mas os dias estão sendo longos, verdadeiros teste de resistência. Mas nós daremos conta, reconstruiremos belos vales nas montanhas serranas, muitas histórias se escreverão nesse agradabilíssimo ar puro, no verde triste, mas forte...

Pequena passagem pelo ESCONDIDIN, só para refletir, só para não dizer que não passei por aqui, só para redesenhar o mapa interior de Tere. Estamos por aqui, a cidade não está entregue não.


Outra hora eu volto.

(Imagem de arquivo pessoal)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

SOS TERESÓPOLIS.

Anestesiado, olhos arregalados, cabisbaixo, cansado, triste, com medo, mas lutando... Parece um cenário perfeito de um personagem de filme, mas trata-se do semblante da população de Teresópolis depois dessa tragédia que atingiu a cidade. 

Fomos surpreendidos pela intensidade das chuvas na madrugada de terça-feira, fomos vítimas de uma força descomunal da natureza e de uma força de menos dos homens detentores do poder, nossos políticos. Agora todos choram, todos lamentam e tentam encontrar respostas e forças para reagir. 

A solidariedade impressiona, a união de pessoas de várias classes socias separando alimentos, separando roupas, brinquedos, artigos de primeira necessidade; separando dor e tentando encontrar uma fórmula de trazer um pouco de recomeço.

Ontem me arrepiei, tive que parar para respirar depois que vi uma criança chorando porque queria voltar para casa e a mãe tentava acalma-la: - Meu filho, não temos mais casa. Vamos tomar um banho e dormir no abrigo. Nossa, eu tenho casa, eu tenho tudo e sou impotente. Por mais que erga as mangas, por mais que ajude de todas as formas a impotência é minha, o sentimento de culpa compartilho com os responsáveis.

Conforta mesmo, e chega a rasgar um sorriso no meu rosto é ver uma senhora, que mesmo desabrigada, e com dificuldade de se levantar enquanto toma um cafezinho, me responde na maior doçura: - Esse cafezinho está ótimo. - Essa noite a senhora terá um sono de paz, né? - perguntei e ela me respondeu, com um sorriso de arrepiar: - Com a graça de Deus, meu filho, com a graça de Deus... - segurei o choro e sorri pra ela, apaixonei-me por ela, na verdade. Não sei seu nome, seu bairro, sua história de dificuldade, mas o que aprendi nesses minutos de conversa levarei para sempre comigo...

Dois meninos, um de 4 anos e um de 6 chegaram acompanhados do pai me pedindo umas roupas para eles colocarem depois do banho no abrigo. O mais novo, sorridente demais, estava pelado e se divertia com a brincadeira do povo. O baixinho de 6 anos, chamado Lucas, me perguntou: - Tio, não tem uma camisa do Flamengo não? Sorri pela espontaneidade, lembrei das minhas várias camisas rubro-negras no armário, mas ali não tinha nenhuma. Conseguimos uma do Brasil, a 10 do Ronaldinho. Falei: - Viu, não tem do Flamengo, mas tem a do novo craque do mengão. Ele saiu todo bobo em direção ao banheiro, de mãos dada com o irmão peladão...

Esses momentos são fundamentais para colocarmos nossos pés no chão, vermos que perdemos muito tempo dando valor a coisas não muito importantes, preocupados em consumir, em trocar de celular, em comprar Tv de plasma, em comprar e comprar....Mas a vida é tão simples, o sorriso é tão barato, é tão sincero e ensina tanto... Não precisamos abrir mão de boas coisas da vida, de não usufruir dos confortos dignos do suor do trabalho; mas isso é pequeno, isso se perde, isso a chuva leva. Já os sentimentos, os laços, as amizades e o sorriso não há catástrofe que abale. Ontem tentei ajudar, hoje fui lá outra vez, mas o maior beneficiado fui eu. Guardo para mim o sorriso daquela senhora e acredito demais na solidariedade do ser humano. Teresópolis precisa de ajuda - e nós também.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Causo do pernilongo.

Essa história é real, ou melhor, é realmente baseada numa história real; mas é ficção.
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Trabalho nesse prédio há quinze anos. Já vi cada coisa nas dependências do condomínio que Deus até duvidaria dessas palavras tão fiéis. Mas é verdade, de namoros proibidos a ladrões tentando invadir essa área; de tudo um pouco já passou pelos olhos desse humilde servo de Deus.

Mas outro dia... ah esse outro dia foi incrível! Se não sabem, moro num quartinho que fizeram aqui embaixo, coladinho com os carros – eles aqui costumam chamar de quartinho da garagem. Lá vivo com Lurdes, a flor mais formosura que o Homem lá de cima colocou na minha vida. Estamos juntos há 22 anos, não temos filho porque é barriga demais pra alimentar e temos espaço de menos pra criar um cabritinho novo. Mas vivemos bem, ela cuida da faxina de uns apartamentos do prédio e o resto, todo resto da estrutura imobiliária (faxina e serviço de jardinagem) sou eu o responsável – qualquer problema é só me procurar: Zé Pedro às ordens.

Pois bem, deixa eu contar logo esse caso do domingo da outra semana já que logo-logo volto pros meus afazeres. Olha – coçada nervosa na cabeça – era um domingo, por essa luz que ilumina que o que eu vi foi verdade. Tem um senhor que mora sozinho num apartamento aqui do prédio. Ele vive dando umas fugidas no fim de semana e só retorna no domingo – já se falou muito aqui pra onde ele tanto vai nos fins de semana, mas intrometo não, minha relação é profissional com os moradores... A verdade é que nesse dia saí de casa (meu cantinho e da Lurdes) no intervalo do fantástico, aquele programa da televisão, para molhar umas plantas secas de sede... Esse morador de nome meio americano - acho que é seu Iná, mas não sei pronunciar - estava encostando o carro na garagem...

Ao estacionar percebi que ele demorou demais para sair do carro; melhor ainda, isso tenho que dizer com toda humildade é que sei observar sem ser observado. O homi de nome das Américas parecia incomodado com a presença de um mosquito dentro do carro. Jesus, a briga do homi com o inseto estava ficando séria... Ele batia no vidro, tentava pegar o bicho com a palma das duas mãos e nada. Vich, lembrei na hora do conselho de minha velha mãe quando mudei pra cidade grande pra ganhar a vida: - Filho, esse povo de cidade fica meio bitolado. A gente não consegue compreender as coisas que eles fazem não – sábias palavras de mamãe (que Deus a tenha...) eram essas diante dessa cena tão inusitada.

Lurdes estranhou meu atraso e veio atrás de mim – é ciumenta a garrucha (apelido nosso), viu? Expliquei a situação e ela me ajudou a tentar compreender. Naquele momento da chegada de minha garrucha, o homi estava pulando de um banco para o outro do carro, já tinha aberto os dois vidros da frente (num complexo botãozinho preto) e nada de sair, ou melhor, e nada do tal do pernilongo entrar no carro e do homem das Américas sair de lá... Ele já estava com a testa suada, cara de brabo que só e o pobre do bicho parecia zombar do poderoso do 301.

Lurdes ria que era sem parar. E eu brigava com ela: - O muié, nós não podemos rir dos patrões não. A situação ali é séria, viu? – franzindo as sobrancelhas. Quase que tomei frente à situação, ia lá ajudar o pobre do homi, mas tive medo de ser chamado do enxerido, deixa seu América se resolver por lá...

As portas do motorista e do carona já tinham sido batidas em tentativas frustradas de sair de lá. O senhor das Américas estava em posição de ataque, quieto, como que olhando para a presa esperando o melhor momento do ataque.Lurdes mordia os panos de prato pra não soltar o riso. Pronto, depois de muito tempo, de muita luta e muito suor, o homi conseguiu sair do carro sem deixar o inseto entrar. Eu já ia em direção ao meu quartinho, quando Lurdes chamou minha atenção, vermelha que só, para o carro novamente: - Oiá lá, bem...

Num é que o homi tranquilamente se encaminhava para o porta-malas, pra pegar um troço qualquer lá, mas – juro por essa luz, meu Deus – todo o trajeto era observado de perto pelo inseto. Já relaxado e assoviando aquele tal do Peixe Vivo, Iná abriu o porta-malas, colocou a mochila nas costas e quando foi bater a porta, foi surpreendido pelo astuto do pernilongo. O bicho conseguiu entrar no carro, olhou pro homi do 301 e riu – juro que riu, Lurdes também viu, por essa luz que me ilumina!

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