O que posso escrever no meio de tantos olhares? Sou observado como um ator no centro de um palco, como um artilheiro na frente do gol. Mas prefiro o papel de observador, é mais simples, menos possuidor de atributos, de responsabilidades. Mas é preciso enfrentar esse outro papel, saber entender e olhar de frente para as fortes luzes que saem dos refletores. Me encanto com os olhares atentos em minha direção, navego nesses rostos desconhecidos que disfarçam a atenção. Viajo pelas mentes inquietas, diferentes, infinitas...
Tento entender a organização espacial que estou inserido, tudo propício a esse encontro, uniformemente disposto, cercado por discretos objetos que nos delimitam.
Alguns se perdem no emaranhado eletrônico que hoje nos consome - nem piscam. Outros, mais avessos, se rendem a velhas páginas de jornais e a folhas de livros.
Todos me observam...
Como se a cada palavra que vai sendo desvendada fosse resultado dessa interação silenciosa, velada.
A agonia me vence, tento apagar as luzes e voltar para a multidão, para o invisível, mas agora é tarde.
Duas senhoras parecem se aproximar, meu olhar disfarça querendo desviá-las. Elas parecem perceber e sentam na mesa ao lado.
Uns tiram foto, outros pegam pesadas malas, outros almoçam calados: todos me observam...
Aqui é onde há encontros, onde despedidas ferem corações, onde sonhos são colocados em prática, onde se dá o primeiro passo.
Aqui é o encontro do passeio com o trabalho, da família e dos amigos. Daqui é de onde o Brasil se distribui e se redistribui...
Aqui é a rodoviária, mais especificamente a praça de alimentação da rodoviária. E esse que vos escreve é mais um viajante, das estradas e das palavras.
4 comentários:
Muito bom meu caro amigo!
excelente texto!!! parabéns!!!
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