“Quando
eu falar JÁ o dia pode começar”. Essa frase simples, quase infantil, é a
percepção que tenho de hoje, desses fenômenos da individualidade que se
espalham na velocidade da luz. Estamos vendo nascer, anestesiados, uma geração
das mais mimadas que já se teve notícia, decidida a escolher os rumos do mundo,
mas, por outro lado, superficial como uma lâmina d’água, sem se aprofundar numa
leitura (não só de livros e textos, mas de análise do contexto, de vida) dos
assuntos que mais lhe interessam.
E como seres mergulhados na osmose social, temos que nos precaver para não pegarmos esse vírus
da mediocridade. O acesso às enxurradas de informação traz esse contrassenso do
“se pode saber de tudo, mas não se sabe de nada”. Talvez pela facilidade das
notícias à mão, através dos celulares, estejamos migrando o cérebro da cabeça
para esse membro exterior ao nosso corpo. Mas, e o que vai substituir esse
espaço vazio?
Tenho me assustado ultimamente com os discursos conservadores
que se espalharam sobre os jovens. Fico me perguntando, quase que diariamente:
Onde foi que erramos? Não tenho a resposta exata, mas acredito que a sensação
de impunidade para a corrupção seja uma pista, um ponto para início de análise.
Os escândalos de corrupção que são compartilhados pelos veículos estão no
imaginário, abrindo espaço para (re)surgimento de ideias que pareciam
superadas, como intervenção militar, por exemplo.
Mas quero caminhar mesmo sobre essa miopia do jovem,
capaz de opinar sobre todos os assuntos, sem ter lido sobre nada. Esse novo
olhar sobre o mundo me causa estranheza, mas me faz crer que talvez seja o
caminho sem volta traçado pelas redes sociais. Hoje, nos abastecemos de
manchetes compartilhadas por amigos/conhecidos, julgando ser aquela publicação
nossa fonte da verdade – o limite do mergulho da informação, não se busca nada além. Pronto, a partir
da postagem sobre o rompimento da barragem em Mariana, por exemplo, já se começa a
tempestade de ideias mastigadas, sem ao menos saber que essa catástrofe
aconteceu no interior de Minas Gerais (como já vi em sala de aula).
Está montado o cenário: acesso à informação, sem a
possibilidade de leitura de uma matéria de jornal (ou revista, artigo,...)
sequer. Assim, vamos construindo o mundo na nossa tela do computador, achando
que as pautas e carências humanas são aquelas que coincidem com nossas relações
virtuais, tendo a certeza que o que existe é só aquilo que o dedo alcança no “curtir”
– que agora, pelo menos, se desdobra em outros botões de análise. (rs....).
E vamos compartilhando por aí uma geração incapaz
de montar argumentos para defender um ponto de vista, mas pronta para ter
acesso sobre tudo; para ditar regras sociais, políticas, econômicas,
cinematográficas, de culinária, etc. Mudar esse cenário é complicado, passa
desde repensar a relação dos pais com os filhos pequenos - julgando que o tablet é a solução para o filho dar um
momento de paz à mesa durante o almoço - ; até a certeza que os movimentos da Terra
e as estações do ano vão acontecer sem a opinião e a nossa vontade. O mundo vai além do umbigo, muito além, no real e no virtual.
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