Quando comecei no jornalismo, há mais de 10 anos, ouvia muito que nós (eu não mais) éramos formados para falar de tudo, sem ser especialistas sobre nada. Isso sempre martelou minha cabeça. Ficava meio angustiado, talvez um pouco visionário, pensando: Como posso ser contratado por uma revista, por exemplo, para escrever sobre culinária ou automobilismo? Não tenho a menor condição (preparo) de fazer isso.
Talvez essa palpitação tenha sido uns dos fatores do meu
divórcio da profissão (do qual me orgulho de ter tomado esse rumo). Mas o
interessante disso tudo é perceber que o jornalismo de escola, aquele acadêmico, era um visionário do que viria a ser esse mundo de hoje, transbordado de redes
sociais. Afinal de contas, o que são os inúmeros pontos de vista que elas nos
proporcionam? Nos posicionamos sobre tudo que ocorre no mundo, com uma
superficialidade impressionante, muitas vezes não ultrapassando os 140 caracteres.
Imagem retirada do site: http://noticias.r7.com/blogs/ogg-ibrahim/files/2012/05/chato1.jpg |
Concordo que essa patrulha atual é chata, que pior do que
comentar sobre tudo é ver o mundo te apontando por ter opinado sobre algo que
não domina. Verdade! Estou ao mesmo tempo nesses dois lados, desafiando a física,
mas coexistindo no lado de quem aponta e de quem é apontado.
Tento segurar a onda, e passo alguns minutos refletindo
sobre a história que estamos construindo – eu sei que analisar a história
quando ela se desenrola é complicado – só que, ao mesmo tempo, deixo esse lado
chato (de formação jornalística) existir por algum tempo, talvez como uma
herança de uma equívoco profissional, uma tatuagem que não se apaga.
O jornalismo é fantástico, pessoal (apesar da podridão escamoteada),
a faculdade é empolgante, mas o problema sempre fui eu. Não nasci para aquele
riscado, minha praia é outra, minha rotação é diferente do inquietante ambiente
jornalístico. Deixo para os verdadeiramente aptos e continuo só com essa “chatidão”
de quem não foi, mas que também não se arrepende de não ter sido.
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