Era para atender aquele pedido, um suplício, uma incontrolável tentativa de sobrevivência. Vinha lá de dentro, do inconsciente, onde minha mente se encontra com o concreto - o retrato da vida.
O pedido de ajuda foi feito por mim mesmo; uma parte de mim já não aguentava tanta injustiça, tanta desigualdade. Não conseguia mais conviver com aquilo. Os olhos que observavam o mundo já não estavam só. Na verdade, a mente enxergava mais que os próprios olhos. E incomodava... Era preciso fazer algo, deixar a inércia para os outros; eu precisava agir de alguma maneira.
Comecei com a senhora que fica pedindo esmolas na avenida principal, faça sol ou chuva. Resolvi conversar, saber o que havia acontecido e o que ela precisava para mudar. A vida daquela mulher era uma grande catástrofe, perdeu tudo e todos; ficando na miséria.
- Do que a senhora precisa para recomeçar? - tive a ousadia (será esse o termo?!) de perguntar.
- Simplesmente...TUDO. - ela disse.
Parei. O que fazer com essa resposta? Passou pela minha cabeça a idéia de fugir, sair em disparada sem uma palavra. Mas não tive coragem, minha mente não me perdoaria... Lembrei que na carteira tinha uns trocados.
Enquanto abria a carteira, aquela senhora ficou me observando, com uma esperança tremenda, que quase me fez desistir novamente. Analisei o que tinha: Uma nota de dez reais, duas notas de dois reais, uma moeda de um real e o papel do extrato do banco - estava devendo 20 reais aos pobres banqueiros.
Olhei para aquela senhora - que me devolvia um olhar carregado de expectativas - e puxei tudo o que eu tinha, só deixando uma nota de dois, o suficiente para voltar pra casa.
Como que pagando uma dívida comigo mesmo, entreguei aqueles treze reais e falei para ela aproveitar aquele dinheiro e fazer, pelo menos, uma boa refeição. Ela respondeu que há dias não almoçava e me agradeceu com uma bênção de uma avó órfã de netos e de carinho.
Saí dali contente e angustiado. Sabia que aquele dinheiro não resolveria o "simplesmente....tudo" daquela senhora. De qualquer maneira, pelo menos por enquanto, me orgulhei daquele extrato negativo do banco. O dinheiro que seria mais um nos enormes cofres bancários, foi mais um também; só que num bolso vazio de quem - com sua miséria - sustenta a riqueza de poucos e se torna invisível pra muitos.
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
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2 comentários:
Nas estatísticas do atual governo não existe mais miséria absoluta no Brasil.
Será que você que está mentindo ou é ele?
Carlinhos,
fiquei ate emocionado lendo o texto.
Pra variar, outra obra-prima escrita por vc. Alias, completada pela sua tia.
Pode ter certeza que isso me dá mta angustia tb...
Abraçao
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