É amigos, não estranhem o título do post de hoje, é isso mesmo que vocês leram: Chapinha na mochila.
Os anos vão passando, vamos envelhecendo e ficamos, cada dia mais, surpresos com as novidades da molecada. Outro dia eu voltava para minha casa do cursinho, de ônibus e, para variar e pelo tenso horário, o ônibus estava lotado de crianças indo para suas escolas. Fiquei ali na minha, sentado no fundão, mas só prestando atenção na conversa de duas meninas que aparentavam ter, no máximo, quinze anos. Uma delas, a mais bonitinha - mas bem metidinha (desculpem o pré-conceito, mas não consigo definir de outra maneira) - portava uma mochila enorme, quase do tamanho dela, e socada de objetos que (imaginei) fossem material de escola.
Até aí tudo normal, papos de criança mesmo, coisas sobre os meninos da sala, sobre o celular novo..., até que a figurinha brada com todo pulmão: - Trouxe minha chapinha na mochila. Vou aproveitar que a gente vai chegar um pouco mais cedo para arrumar o cabelo no banheiro da escola.
- O que? - perguntei para mim mesmo. Fiquei assustado com o desenrolar da conversa: As duas ali, na maior naturalidade falando da esperteza de uma estar portando a tão sonhada chapinha de cabelo. Como as coisas estão mudadas!!
Tentei puxar na minha memória o tempo que eu tinha quinze anos. Puxa, minha vida se restringia ao colégio, muito futebol e umas (não muitas) paqueradas na escola. Até as meninas da minha sala, já se assanhando pela prenúncio de uma adolescência, não tinham aquele comportamento tão fútil, tão sem conteúdo, tão vazio.
Tudo bem, uns podem me chamar de velho, de conservador e até de preconceituoso, mas, para mim, não é algo natural uma criança de quinze anos levar chapinha para a escola. Vejam, caros amigos, como os valores estão distorcidos! Que adulto se tornará essa menina? Que importância ela dará a sua família, seu trabalho, seus amigos? Será ela uma vítima do nosso mundo cego pelo consumo, onde o que serve e quem serve é aquele que pode ter as coisas, ou parecer ter as coisas?
Essas perguntas invadiram minha mente quando desci no meu ponto. Olhei com certa pena aquela menina indo embora dentro do ônibus. Fiquei pensando nos pais dela, no que ela tem, de fato como algo a ser valorizado na vida. Será exagero meu, meus caros?
Tive muita vontade de conversar com ela, perguntar o que de fato ela acha relevante? Qual a escala de importância em ter um celular de ponta, e cultivar uma amizade verdadeira?! Mas, claro, ainda não cheguei nesse estágio de insanidade. Fiquei assustado, confesso! As coisas materiais e os relacionamentos descartáveis estão tomando lugar de laços de verdade. Tudo se resume a nossa (horrível) lógica do consumo: - Compramos o aparelho mais moderno para sermos reconhecidos como parte de um grupo e utilizamos aquele objeto até que ele perca seu status. Em seguida, descartamos o aparelho substituindo-o por outro.
Essa é a lógica do consumo! O pior, no entanto, é quando essa lógica começa a valer também para as relações pessoais: - Utilizamos (as vezes de forma inconsciente) a pessoa (ou grupo de pessoas) até achar outra (outras) mais interessante(s), descartamos a anterior e entramos novamente nesse triste ciclo de relações superficiais. E assim vamos descartando, não só os relacionamentos, como também nossas próprias vidas. E experiências verdadeiras e marcantes deixam de ser vividas, tudo em nome dessa futilidade contagiante.
(Imagem retirada do site: http://www.jjcabeleireiros.com.br/uploaded_images/chapinha-cabelo-taiff-760987.jpg)