A escuridão que ali morava era interrompida pelo acende e apaga da luz neon que vinha lá da rua. O silêncio era substituído por angústia, dessas que
invadem o peito e fincam estacas. 3 horas da manhã e o celular rodando na mesa
de centro pela mão inquieta fazendo-o de peão. Era tarde, era cedo, só não era
ser aquele homem, feito um zumbi, com o rosto melado de um suor testemunho. O
barulho do ponteiro do relógio da cozinha invadia a sala, marcando, naqueles
olhos cansados e profundos, a conexão mais próxima com a realidade.
A madrugada é cruel, ela não perdoa
reflexões em seu terreno, age com o sono como arma, conduz à cama ao som do
silêncio. Mas ali há um desafio, um ser embriagado de pensamentos, digerindo
suas atitudes, tentando entender o que o fez chegar até ali.
Lá do corredor vem a sombra da paz,
dormindo no quarto da criança, aquele ser que cisma em ter seu mundo próprio,
sem alcançar a gravidade do que é estar no mundo, da responsabilidade, dos
compromissos que se amarram pela vida. O sono é profundo, a respiração
tranquila.
O homem caminha atropelando as palavras
que mentalmente produz. O jornal jogado sobre a mesa, a essa hora, já não serve
mais, é só uma soma de papéis com prazo de validade vencido. Tudo posto, tudo
milimetricamente distribuído pela casa antes do adeus do dia: o sono.
Geladeira funciona como fonte de
consolação a essa hora. Ele para escorado à porta aberta, como a admirar uma
vitrine com camisas em promoção. Encontram-se escondidos naquele gelado objeto
aquilo que trará a respiração de volta. O cérebro é curioso, se assanha todo no
encontro com um pedaço de torta, a essa altura exalando um forte cheiro
inebriante.
Chega o jornal pro lado e encara aquele
pedaço como um paciente de frente para o analista: é sério, é preciso e
definitivo. Os comandos que saciam a angústia são devorados ralo abaixo. O
banho acalma a temperatura do corpo, termina de misturar as palavras ainda
teimosas, encaminha à cama o homem cansado.
A noite vai vagando casa adentro, como se
dominasse o ambiente, tendo o poder de decidir o tom e o ritmo das casas. A
noite começa lá dentro e aos poucos vai ganhando as ruas. Como a buscar uma
explicação para essa mudança tão grande, num pedaço de tempo tão curto?
O Sol é externo, ele invade sem piedade os corpos, afagando violentamente a calmaria que a noite produziu. Ele era pra trazer a paz, os pássaros despertam, as cores se multiplicam, só que, na verdade, ele produz o caos. O mundo lá fora já se atropela...
O Sol é externo, ele invade sem piedade os corpos, afagando violentamente a calmaria que a noite produziu. Ele era pra trazer a paz, os pássaros despertam, as cores se multiplicam, só que, na verdade, ele produz o caos. O mundo lá fora já se atropela...
Lá dentro, enquanto a criança desperta num
olhar atento, o homem dorme, profundo...
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