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quinta-feira, 9 de julho de 2015

Madrugada.

A escuridão que ali morava era interrompida pelo acende e apaga da luz neon que vinha lá da rua. O silêncio era substituído por angústia, dessas que invadem o peito e fincam estacas. 3 horas da manhã e o celular rodando na mesa de centro pela mão inquieta fazendo-o de peão. Era tarde, era cedo, só não era ser aquele homem, feito um zumbi, com o rosto melado de um suor testemunho. O barulho do ponteiro do relógio da cozinha invadia a sala, marcando, naqueles olhos cansados e profundos, a conexão mais próxima com a realidade.

A madrugada é cruel, ela não perdoa reflexões em seu terreno, age com o sono como arma, conduz à cama ao som do silêncio. Mas ali há um desafio, um ser embriagado de pensamentos, digerindo suas atitudes, tentando entender o que o fez chegar até ali.

Lá do corredor vem a sombra da paz, dormindo no quarto da criança, aquele ser que cisma em ter seu mundo próprio, sem alcançar a gravidade do que é estar no mundo, da responsabilidade, dos compromissos que se amarram pela vida. O sono é profundo, a respiração tranquila. 

O homem caminha atropelando as palavras que mentalmente produz. O jornal jogado sobre a mesa, a essa hora, já não serve mais, é só uma soma de papéis com prazo de validade vencido. Tudo posto, tudo milimetricamente distribuído pela casa antes do adeus do dia: o sono.

Geladeira funciona como fonte de consolação a essa hora. Ele para escorado à porta aberta, como a admirar uma vitrine com camisas em promoção. Encontram-se escondidos naquele gelado objeto aquilo que trará a respiração de volta. O cérebro é curioso, se assanha todo no encontro com um pedaço de torta, a essa altura exalando um forte cheiro inebriante.

Chega o jornal pro lado e encara aquele pedaço como um paciente de frente para o analista: é sério, é preciso e definitivo. Os comandos que saciam a angústia são devorados ralo abaixo. O banho acalma a temperatura do corpo, termina de misturar as palavras ainda teimosas, encaminha à cama o homem cansado.

A noite vai vagando casa adentro, como se dominasse o ambiente, tendo o poder de decidir o tom e o ritmo das casas. A noite começa lá dentro e aos poucos vai ganhando as ruas. Como a buscar uma explicação para essa mudança tão grande, num pedaço de tempo tão curto? 

O Sol é externo, ele invade sem piedade os corpos, afagando violentamente a calmaria que a noite produziu. Ele era pra trazer a paz, os pássaros despertam, as cores se multiplicam, só que, na verdade, ele produz o caos. O mundo lá fora já se atropela...

Lá dentro, enquanto a criança desperta num olhar atento, o homem dorme, profundo...

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