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segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

O ex-futuro chato.


Quando comecei no jornalismo, há mais de 10 anos, ouvia muito que nós (eu não mais) éramos formados para falar de tudo, sem ser especialistas sobre nada. Isso sempre martelou minha cabeça. Ficava meio angustiado, talvez um pouco visionário, pensando: Como posso ser contratado por uma revista, por exemplo, para escrever sobre culinária ou automobilismo? Não tenho a menor condição (preparo) de fazer isso.

Talvez essa palpitação tenha sido uns dos fatores do meu divórcio da profissão (do qual me orgulho de ter tomado esse rumo). Mas o interessante disso tudo é perceber que o jornalismo de escola, aquele acadêmico, era um visionário do que viria a ser esse mundo de hoje, transbordado de redes sociais. Afinal de contas, o que são os inúmeros pontos de vista que elas nos proporcionam? Nos posicionamos sobre tudo que ocorre no mundo, com uma superficialidade impressionante, muitas vezes não ultrapassando os 140 caracteres.

Imagem retirada do site: http://noticias.r7.com/blogs/ogg-ibrahim/files/2012/05/chato1.jpg
Confesso que isso me incomoda um pouco, mas, paradoxalmente, compartilho desse momento. Talvez como um dos últimos resquícios que ficaram da ex-profissão, me vejo em vários momentos opinando sobre coisas que não domino.

Concordo que essa patrulha atual é chata, que pior do que comentar sobre tudo é ver o mundo te apontando por ter opinado sobre algo que não domina. Verdade! Estou ao mesmo tempo nesses dois lados, desafiando a física, mas coexistindo no lado de quem aponta e de quem é apontado.

Tento segurar a onda, e passo alguns minutos refletindo sobre a história que estamos construindo – eu sei que analisar a história quando ela se desenrola é complicado – só que, ao mesmo tempo, deixo esse lado chato (de formação jornalística) existir por algum tempo, talvez como uma herança de uma equívoco profissional, uma tatuagem que não se apaga.



O jornalismo é fantástico, pessoal (apesar da podridão escamoteada), a faculdade é empolgante, mas o problema sempre fui eu. Não nasci para aquele riscado, minha praia é outra, minha rotação é diferente do inquietante ambiente jornalístico. Deixo para os verdadeiramente aptos e continuo só com essa “chatidão” de quem não foi, mas que também não se arrepende de não ter sido.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Madrugada.

A escuridão que ali morava era interrompida pelo acende e apaga da luz neon que vinha lá da rua. O silêncio era substituído por angústia, dessas que invadem o peito e fincam estacas. 3 horas da manhã e o celular rodando na mesa de centro pela mão inquieta fazendo-o de peão. Era tarde, era cedo, só não era ser aquele homem, feito um zumbi, com o rosto melado de um suor testemunho. O barulho do ponteiro do relógio da cozinha invadia a sala, marcando, naqueles olhos cansados e profundos, a conexão mais próxima com a realidade.

A madrugada é cruel, ela não perdoa reflexões em seu terreno, age com o sono como arma, conduz à cama ao som do silêncio. Mas ali há um desafio, um ser embriagado de pensamentos, digerindo suas atitudes, tentando entender o que o fez chegar até ali.

Lá do corredor vem a sombra da paz, dormindo no quarto da criança, aquele ser que cisma em ter seu mundo próprio, sem alcançar a gravidade do que é estar no mundo, da responsabilidade, dos compromissos que se amarram pela vida. O sono é profundo, a respiração tranquila. 

O homem caminha atropelando as palavras que mentalmente produz. O jornal jogado sobre a mesa, a essa hora, já não serve mais, é só uma soma de papéis com prazo de validade vencido. Tudo posto, tudo milimetricamente distribuído pela casa antes do adeus do dia: o sono.

Geladeira funciona como fonte de consolação a essa hora. Ele para escorado à porta aberta, como a admirar uma vitrine com camisas em promoção. Encontram-se escondidos naquele gelado objeto aquilo que trará a respiração de volta. O cérebro é curioso, se assanha todo no encontro com um pedaço de torta, a essa altura exalando um forte cheiro inebriante.

Chega o jornal pro lado e encara aquele pedaço como um paciente de frente para o analista: é sério, é preciso e definitivo. Os comandos que saciam a angústia são devorados ralo abaixo. O banho acalma a temperatura do corpo, termina de misturar as palavras ainda teimosas, encaminha à cama o homem cansado.

A noite vai vagando casa adentro, como se dominasse o ambiente, tendo o poder de decidir o tom e o ritmo das casas. A noite começa lá dentro e aos poucos vai ganhando as ruas. Como a buscar uma explicação para essa mudança tão grande, num pedaço de tempo tão curto? 

O Sol é externo, ele invade sem piedade os corpos, afagando violentamente a calmaria que a noite produziu. Ele era pra trazer a paz, os pássaros despertam, as cores se multiplicam, só que, na verdade, ele produz o caos. O mundo lá fora já se atropela...

Lá dentro, enquanto a criança desperta num olhar atento, o homem dorme, profundo...

domingo, 25 de janeiro de 2015

O que te incomoda?

A gente já sente as marcas desse mundo virtual nos rodear o tempo todo. Conforme-se, meu veio, se conforme com esse imediatismo rotineiro... Faço esse mantra pra mim mesmo porque sou um dos mortais ligado demais aos aparelhos tecnológicos prestes a trazer uma nova mensagem, à mão para saber as notícias dos amigos, a vida de pessoas que de diversas formas cruzam essa nossa passagem no mundo.

Mas umas particularidades me incomodam mais nesse frio mundo virtual: Percebo a multiplicação da carência das pessoas, a escorrer pelas telas do computador. Será um sinal mesmo desse momento que vivemos, onde a ausência(física)/presença(o tempo todo virtualmente) dos que nos cercam se acentuam cada vez mais? Ou será o mero fato de possuir um mecanismo capaz de dizer ao mundo o que se está fazendo, de compartilhar os momentos de felicidade, de angústia, a comida que se come,...? Sei lá.

Dessa insana constatação, uma me diverte (talvez até um pouco cruel, mas é esse o sentimento: diversão), em particular: Como tem gente achando que existem muitos invejosos de plantão de olho em suas vidas!? É muito interessante esse fenômeno. As vezes fico pensando que perdi alguma parte da festa, parece que meus conhecidos se tornaram famosos e eu nem percebi, tamanha preocupação com os "olhares gordos" em suas direções. Doce mundo virtual!

Viver o momento do "chuta as invejosas" não é caminhar num mar de rosas. Acredito que ainda estamos tateando essa convivência com essas novidades, essas máquinas nos acompanhando 24 horas. Chegaremos num meio termo, sem abrir mão das facilidades que elas oferecem, mas, ao mesmo tempo, tendo noção de usar nos momentos adequados. Será?

E o que dizer do "pau de selfie"? Uma jogada de mestre do inventor, bato palmas, e não descarto um objeto desses, é uma ótima ferramenta para tirar fotos com todos os amigos reunidos, sem deixar de fora o sujeito do click. As vendas do PDS dispararam no verão, virou uma febre brasileira, um retrato mais fiel desse mundo virtual. As fotos agora são tiradas de fora pra dentro, para registrar a gente, sempre a gente. Redescobrimos o umbigo e temo que o centro da Terra se encaminhe para essa parte do corpo um tanto quanto.... esquisita.

Me incomoda, muita coisa me incomoda...

Pessoas pelo mundo que passaram por aqui:

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