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segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

O ex-futuro chato.


Quando comecei no jornalismo, há mais de 10 anos, ouvia muito que nós (eu não mais) éramos formados para falar de tudo, sem ser especialistas sobre nada. Isso sempre martelou minha cabeça. Ficava meio angustiado, talvez um pouco visionário, pensando: Como posso ser contratado por uma revista, por exemplo, para escrever sobre culinária ou automobilismo? Não tenho a menor condição (preparo) de fazer isso.

Talvez essa palpitação tenha sido uns dos fatores do meu divórcio da profissão (do qual me orgulho de ter tomado esse rumo). Mas o interessante disso tudo é perceber que o jornalismo de escola, aquele acadêmico, era um visionário do que viria a ser esse mundo de hoje, transbordado de redes sociais. Afinal de contas, o que são os inúmeros pontos de vista que elas nos proporcionam? Nos posicionamos sobre tudo que ocorre no mundo, com uma superficialidade impressionante, muitas vezes não ultrapassando os 140 caracteres.

Imagem retirada do site: http://noticias.r7.com/blogs/ogg-ibrahim/files/2012/05/chato1.jpg
Confesso que isso me incomoda um pouco, mas, paradoxalmente, compartilho desse momento. Talvez como um dos últimos resquícios que ficaram da ex-profissão, me vejo em vários momentos opinando sobre coisas que não domino.

Concordo que essa patrulha atual é chata, que pior do que comentar sobre tudo é ver o mundo te apontando por ter opinado sobre algo que não domina. Verdade! Estou ao mesmo tempo nesses dois lados, desafiando a física, mas coexistindo no lado de quem aponta e de quem é apontado.

Tento segurar a onda, e passo alguns minutos refletindo sobre a história que estamos construindo – eu sei que analisar a história quando ela se desenrola é complicado – só que, ao mesmo tempo, deixo esse lado chato (de formação jornalística) existir por algum tempo, talvez como uma herança de uma equívoco profissional, uma tatuagem que não se apaga.



O jornalismo é fantástico, pessoal (apesar da podridão escamoteada), a faculdade é empolgante, mas o problema sempre fui eu. Não nasci para aquele riscado, minha praia é outra, minha rotação é diferente do inquietante ambiente jornalístico. Deixo para os verdadeiramente aptos e continuo só com essa “chatidão” de quem não foi, mas que também não se arrepende de não ter sido.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Madrugada.

A escuridão que ali morava era interrompida pelo acende e apaga da luz neon que vinha lá da rua. O silêncio era substituído por angústia, dessas que invadem o peito e fincam estacas. 3 horas da manhã e o celular rodando na mesa de centro pela mão inquieta fazendo-o de peão. Era tarde, era cedo, só não era ser aquele homem, feito um zumbi, com o rosto melado de um suor testemunho. O barulho do ponteiro do relógio da cozinha invadia a sala, marcando, naqueles olhos cansados e profundos, a conexão mais próxima com a realidade.

A madrugada é cruel, ela não perdoa reflexões em seu terreno, age com o sono como arma, conduz à cama ao som do silêncio. Mas ali há um desafio, um ser embriagado de pensamentos, digerindo suas atitudes, tentando entender o que o fez chegar até ali.

Lá do corredor vem a sombra da paz, dormindo no quarto da criança, aquele ser que cisma em ter seu mundo próprio, sem alcançar a gravidade do que é estar no mundo, da responsabilidade, dos compromissos que se amarram pela vida. O sono é profundo, a respiração tranquila. 

O homem caminha atropelando as palavras que mentalmente produz. O jornal jogado sobre a mesa, a essa hora, já não serve mais, é só uma soma de papéis com prazo de validade vencido. Tudo posto, tudo milimetricamente distribuído pela casa antes do adeus do dia: o sono.

Geladeira funciona como fonte de consolação a essa hora. Ele para escorado à porta aberta, como a admirar uma vitrine com camisas em promoção. Encontram-se escondidos naquele gelado objeto aquilo que trará a respiração de volta. O cérebro é curioso, se assanha todo no encontro com um pedaço de torta, a essa altura exalando um forte cheiro inebriante.

Chega o jornal pro lado e encara aquele pedaço como um paciente de frente para o analista: é sério, é preciso e definitivo. Os comandos que saciam a angústia são devorados ralo abaixo. O banho acalma a temperatura do corpo, termina de misturar as palavras ainda teimosas, encaminha à cama o homem cansado.

A noite vai vagando casa adentro, como se dominasse o ambiente, tendo o poder de decidir o tom e o ritmo das casas. A noite começa lá dentro e aos poucos vai ganhando as ruas. Como a buscar uma explicação para essa mudança tão grande, num pedaço de tempo tão curto? 

O Sol é externo, ele invade sem piedade os corpos, afagando violentamente a calmaria que a noite produziu. Ele era pra trazer a paz, os pássaros despertam, as cores se multiplicam, só que, na verdade, ele produz o caos. O mundo lá fora já se atropela...

Lá dentro, enquanto a criança desperta num olhar atento, o homem dorme, profundo...

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Curtinha.

Ao começar a escrever, uma das poucas certezas é o contrato com o ponto final, que só pode ser comparado com o abandono. Deixar de lado as palavras, à solta; como a(ssa)ssinar a morte textual. É preciso caminhar...

Trazer uma reflexão do que se acontece ao redor, enquanto o tempo decorre, sem ser olhar para trás é beleza rara, como trocar o pneu com o carro em movimento. Acelerando...

Rasgo os contratos e deixo o barco navegar sem destino.






sábado, 17 de agosto de 2013

Aprecie com moderação.

Uso ferramentas modernas para recuperar sentimentos para lá de antigos. Navego por redes artificiais, não palpáveis, em busca de algo concreto, que dê sentido. 

De manhã acordei assim, nostálgico de mim. Vontade de sair um pouco desses fios invisíveis que nos metemos, dessa conexão atordoante que a vida (pós)moderna  nos colocou, de dar um salto para longe da areia movediça que a conexão instantânea me afundou. Cansado!

O mais desafiador é usar uma ferramenta típica da sociedade virtual para postar minha nostalgia. Mas aqui me apego e é como se estivesse tecendo letras em papel envelhecido, pautado, com cheiro...

Escrever é um desafogo, um alento das concretudes cada dia mais virtuais na nossa rotina. As pessoas já caminham olhando para baixo, mirando o celular, sem se preocupar, muito menos perceber as coisas que acontecem ao redor (me incluo nessa triste constatação). Hoje, o mais próximo é que está longe, a questão do tempo entrou em colapso, e tenho dificuldade de compreender isso com clareza.


(Imagem retirada do site: http://goo.gl/cLs3QJ)

Me deparo com uma cena que me angustia: Se estamos com alguém e o celular toca, o aparelho vira, naquele momento, o objeto mais importante do mundo, mesmo que se saiba que a ligação em si não tenha tanta importância. O interlocutor fica a deriva, esperando a ligação acabar para ter novamente a atenção da pessoa. Somos celular/dependentes!?

Na linha das novidades do mundo tecnológico, acrescento como as máquinas digitais - assim como os celulares usados como máquinas - ocupam o lugar dos olhos. Basta ver qualquer atrativo turístico para perceber: as pessoas tiram foto até do que nem imaginam, e muitas vezes, e essa é a principal questão, deixam de olhar, de vivenciar aquele momento, tudo em busca de ter um cem número de imagens que, em breve, serão despejadas nas redes sociais, numa espécie de demarcação de território, um jogo de conquistas que determina por onde já se passou.

Mas, obviamente, sei de todos os ganhos que tivemos com esses avanços e não sou nenhum xiita que é contra os avanços tecnológicos, radical contra qualquer tipo de inovação. Só me preocupa a intensidade com que nos apoderamos das ferramentas, como se fossem vitais, como se se tratassem de verdadeiros instrumentos de sobrevivência contemporâneos. Acredito que não, temos que usá-las a nosso favor, mas sempre sem se esquecer dos encontros reais, das paisagens com vento no rosto, num por-do-Sol belorizontino, num livro infantil contado para uma criança, numa conversa, onde os principais agentes são aqueles que estão trocando ali vivenciando as expressões, gestos e experiências. O telefone é ferramenta; e poderia ser aquele antigo, vermelho, usado só para ser atendido em caso de urgência.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Esse povo que só sabe reclamar de quem reclama.

E os caras não param de reclamar!

Exclamação para enfatizar, marcar uma conclusão impaciente, de quem já viveu muito e não consegue mais entender por que as pessoas reclamam tanto da vida. O pouco cabelo contrastando com os vastos que saiam da orelha são mostras que vaidade é coisa para jovens, pra quem perde tempo com essas bobagens... Uma descrição fiel seria um equívoco, deixo vocês com as pistas desse velho senhor que por uma fração de segundos cruzou meu caminho esses dias na rua. E como reclamava....

Entrei numa paranoia de tentar entender como uma pessoa que reclama tanto da vida (em tão poucos segundos), pode reclamar das pessoas que reclamam?! Eu sei, confuso, desculpa, mas foi isso. Segui meu caminho fazendo promessas aos céus que quando envelhecer não terei azedume desse nível nas veias.

Ainda podia ouvir a voz alta do velho senhor enquanto eu atravessava a avenida. Como reclamava de quem reclama... Achei graça. Fui percebido pelos outros, me senti culpado: não podia rir da situação daquele homem? Está certo, o mundo anda muito sério.

Voltei para dentro da timidez que protege e senti pena dele. Vai saber o que ele passa ou passou para estar reclamando tanto por aí (de quem reclama)?! É, vai saber... Resolvi não sentir nada mais. Ajustei os ombros, estava chegando em casa, o barulho atordoante da minha rua me desconectou. Entrei no elevador com a vizinha mal educada do 10º andar, fui ouvindo os lamentos rotineiros até a porta se abrir e eu ser salvo; desci, tive pena daquela caixa entediante que sobe e desce o dia todo. 

Cansei de pensar e entrei em casa reclamando para as paredes desse mundo louco que faço parte. Minha pimenta já mais morta do que viva (apesar de estar apenas uma semana comigo) nem me dava ouvidos... Fui para o banho reclamando desse povo que só sabe reclamar de quem reclama.

domingo, 11 de novembro de 2012

É no silêncio que me reconstruo e caminho...

Na verdade é uma volta a esse espaço me questionando... São quase quatro meses longe do Escondidin e me pergunto sobre a sobrevivência desse simpático e - por que não dizer - antigo blog?

Mas não tem jeito, não vou jogar lamúrias nas linhas que se seguem sobre a sobrevivência ou morte do virtual canto onde repousam minhas ideias.

A inquietude dessa mente, que já beira os 30 anos (ainda bem que a audiência é pouca e a notícia não vai se espalhar) precisa de um CEP e, por mais que eu pense e repense, cá é o lar das letras que me formam.

É curioso que a vida vai traçando rumos próprios, que vamos como que olhando pela janela de um trem: Lá fora o que corre é a nossa história, a paisagem da nossa vida. Muita coisa fica pra trás, muitas montanhas que pareciam eternas são vencidas e outras tantas são avistadas... mas aí que mora a graça desse trem (com trocadilho, por favor).

(imagem retirada do site: http://migre.me/bMHW0)

Precisava voltar hoje a me acalmar por aqui, mas achei que seria sem os devaneios que perpassam a maioria dos textos que aqui adormecem. Só que não tem jeito, já me pego numa encruzilhada de pensamentos que vão surgindo quase que por vontade própria. Estava sentindo falta disso...

Beber desse líquido é um viciante exercício: Preciso escrever! É uma atitude visceral, quase uma necessidade fisiológica de mandar pra longe a ansiedade que teima em aparecer. Escrever, desculpa a redundância, é recompor minha respiração em ritmo leve, é fazer palpitar o coração mais brando, ao mesmo tempo que é rasgar na pele a emoção mais profunda.

Escrever é mais vinho do que qualquer outra bebida;
é tempestade seguida do canto dos pássaros;
é trovoada;
é criança que não sabe esconder sentimentos....

Escrever é para qualquer um, é democrático. A escrita não te obriga a fazê-la bem, a ter o dom, a ser escritor; ela te deixa livre para construir seu castelo de areia, desfazê-lo e transformá-lo em outra figura. Te deixa livre para ser você ou atuar como um outro; mas te aprisiona a olhar para o texto e perceber que essas palavras e esses parágrafos serão, para sempre, seus.


[O que achou do texto? Compartilhe com seus amigos, indique-o em sua rede social: comente, critique; fique à vontade - aqui embaixo têm as opções por onde você pode recomendar].

sábado, 19 de maio de 2012

Engrenagem...

Muitas vezes o que preciso é isso: Escrever.

As palavras que formam esse emaranhado desfigurado alivia os momentos fora do controle. Essa construção da escrita é tão fantástica que me perco em textos e mais textos contando como funciona essa engrenagem - essa minha engrenagem, na verdade.

Agora respiro no ritmo certo, concentro naquilo que quer ser despertado e transformado em texto e assumo o comando irreal das palavras. A cada passo o precipício parece mais próximo, a cada caminhada esse novo cenário é mais e mais deslumbrante. Desculpo-me por criar devaneios aos milhares, por não conseguir ir direto ao assunto, ser breve e objetivo. Mas esse encantamento das palavras que vão se desfazendo de um novelo é o que mais me surpreende.

O breve e objetivo já percorri por algum tempo nos textos jornalísticos produzidos. Lógico que é necessário que assim seja feito, que tenha um conteúdo e um objetivo ao informar uma notícia. Mas aqui no blog, nesse meu mais pessoal canto, quero justamente o contrário: O que menos tento imperar - apesar do espaçado tempo sem publicar - são as regras. Deixe-as guardadas para nossas atitudes sociais, nosso faz de conta da rotina; ali já somos sobrecarregados demais com regras, fórmulas e atitudes politicamente corretas.

Aqui me deixo entorpecer pela soltura das infinitas possibilidades de se criar um texto, até o momento que ele se forma e já não é mais meu, um objeto oriundo desses dedos inquietos. O silêncio necessário para se pensar, para se mergulhar nas loucuras das palavras, vem dos sons que se sobrepõem lá da rua. Tudo colabora; é definitivo, tudo marca traços fundos nesse papel digital.

Só que uma hora me canso dessa história, pareço limitar até onde posso ir, talvez com medo de me perder por completo. Pode ser! O mergulho nesse outro paralelo da vida é fundamental para mim, mas é preciso cuidado para não ir muito fundo. A superfície é a realidade, é o ar que nos mantém vivos. Mas o que seria de nós sem as loucuras que só o infinito submerso e nossas mentes são capazes de produzir? Temos muitas fórmulas, muitas certezas, muitas condutas; que caem diante de fatos que nos mergulham nessa loucura chamada VIDA.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Viajando com as palavras...

O que posso escrever no meio de tantos olhares? Sou observado como um ator no centro de um palco, como um artilheiro na frente do gol. Mas prefiro o papel de observador, é mais simples, menos possuidor de atributos, de responsabilidades. Mas é preciso enfrentar esse outro papel, saber entender e olhar de frente para as fortes luzes que saem dos refletores. Me encanto com os olhares atentos em minha direção, navego nesses rostos desconhecidos que disfarçam a atenção. Viajo pelas mentes inquietas, diferentes, infinitas...

Tento entender a organização espacial que estou inserido, tudo propício a esse encontro, uniformemente disposto, cercado por discretos objetos que nos delimitam. 

Alguns se perdem no emaranhado eletrônico que hoje nos consome - nem piscam. Outros, mais avessos, se rendem a velhas páginas de jornais e a folhas de livros.

Todos me observam...

Como se a cada palavra que vai sendo desvendada fosse resultado dessa interação silenciosa, velada.

A agonia me vence, tento apagar as luzes e voltar para a multidão, para o invisível, mas agora é tarde.

Duas senhoras parecem se aproximar, meu olhar disfarça querendo desviá-las. Elas parecem perceber e sentam na mesa ao lado.

Uns tiram foto, outros pegam pesadas malas, outros almoçam calados: todos me observam...

Aqui é onde há encontros, onde despedidas ferem corações, onde sonhos são colocados em prática, onde se dá o primeiro passo.

Aqui é o encontro do passeio com o trabalho, da família e dos amigos. Daqui é de onde o Brasil se distribui e se redistribui...

Aqui é a rodoviária, mais especificamente a praça de alimentação da rodoviária. E esse que vos escreve é mais um viajante, das estradas e das palavras.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Minha janela, meu olhar.

Comecei a escrever ouvindo o barulho do pegador da cortina. Coisa indiferente, sem importância detalhar o que é esse objeto que dita o ritmo enquanto o vento o empurra contra a parede. Mantenho a concentração, sou amparado por dois ventiladores, um de teto e um de chão. Eles se esforçam para manter minha mente arejada, meu suor controlado, mas o calor que vem de fora quase vence essas artimanhas grande consumidoras de energia elétrica. Sinto um cheiro forte de gás. Estranho! Tudo está fechado, o fogão, parado, de onde vem?  Confiro novamente as instalações e sou passageiro do acaso - Deve ser impressão minha - torço! O horário de verão faz o entardecer ser preguiçoso, adia a noite, enquanto o relógio já quase marca oito horas. Horário de verão não muda só uma hora pra lá ou pra cá, ele muda nosso espírito, até o cheiro das coisas parece diferente.

Vejo daqui a senhorinha de cabelos brancos na janela. Ela se apoia nas duas barras de ferro paralelas e faz o sinal da cruz. Por um momento me pego em oração com aquela velhinha desconhecida, mas já integrante da paisagem da minha sala. Ela olha para o céu e parece dizer alguma coisa. Entra em conformidade com os deuses, com sua crença e retorna para sua casa - deixando um adeus para mim. 

Lá embaixo, na calçada, mais uma viatura da polícia para em frente ao estabelecimento. Como de costume um policial sai do carro e volta sorridente e com uma garrafinha d'água na mão. Estranho aquele movimento, ele é repetido quase todos os dias da semana.

Meu celular me interrompe. Ele rompe com o momento de reflexão, me trás notícias de uma pessoa querida que não está bem. Volto para janela e me perco na loucura dos carros. Fico atônito no meio daquele barulho, do estresse, da correria. Tento entender o ritmo do mundo, tento voltar para dentro dessa realidade; mas agora estou perdido. Escapei de mim mesmo nos meus devaneios. Preciso de ar, de água de mar, de colocar para fora essas sensações. Preciso escrever, refletir, concatenar as ideias que borbulham e tornam essa mente inquieta.

Pronto!

Agora estou mais sereno. Deixo as coisas falarem por si. Tenho medo de escrever tudo e esgotar as coisas que tenho para dizer. É preciso respeitar o ponto final.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Quebra-cabeça interno.

Sou feito de peças de quebra-cabeça, misturadas. A graça dos dias, a graça da vida é fazer e refazer esse jogo. As vezes a gente começa pela ponta, perde tempo com aquela peça engraçada na mão, tenta descobrir onde encaixaria aquela figura. - Se ela é azul, só pode fazer parte do céu, claro! Só que o rosto que se forma, a cara única que aparece é a minha. São grandes pixels formando a identidade desse que vos escreve.

Corro para entender aquela minha expressão cansada que se forma. Seria o passar dos anos, ou é a correria do dia-a-dia? Ou seria uma soma dessas perguntas que sempre nos martelam? Fico com a resposta de perguntas repetidas... Mudo o ângulo de ver aquela face, fico mudo com as formas que a luz e a sombra me apresentam: como a gente se conhece pouco - pergunto, afirmando a mim mesmo.

Corro para fechar a janela. A chuva que tenta invadir minha casa é como uma força externa que tenta impedir meu devaneio. Deixo a força da água retida pelo sujo vidro do apartamento, deixo correr as histórias que conto e as coisas que ainda estão por vir. 

Nesse emaranhado de reflexão tento dimensionar o tanto que esse ano passou rápido, o modo como encarei os fatos, as novidades, os encontros, os desencontros, os estudos, o trabalho... Reviso-me em fração de segundos, fico satisfeito com a imperfeição do resultado. Mais um ano se aproxima, mais histórias rabiscarei nesse papel que me forma.

Continuarei, como todos, na busca da realização dos objetivos, em todas as esferas, em todos os sentidos. Sou reservado, por mais que abra o peito e coloque no papel minhas sensações, não corto na carne e nem deixo exposto tudo o que sinto. Hoje, já mais perto dos 30 do que dos 20 anos, aprendi a ter paciência para realizar os objetivos. Errando bastante, aprendi que as coisas e as pessoas que conquistamos têm que fazer parte de um processo de conhecimento e, claro, de autoconhecimento. No meio dessa certeza racional, há a incerteza da ansiedade, a insegurança natural, os questionamentos infinitos. O processo de viver, concluiria eu.

Mas concluir é o que não quero, na verdade. Ser racional é o que sou, só que as vezes sou surpreendido por sentimentos que jogam essa racionalidade no lixo. Gosto disso, acho interessante esse duelo interno. Os sentimentos jogam a razão de lado e desconstroem o castelo dos discursos prontos. Eles até nos assustam, mas sentimentos são a graça disso tudo.  É como surpreender alguém com uma surpresa (com perdão da redundância), como provocar o sorriso inesperado.

Por isso recebo 2012 agradecendo o 2011. Pretendo ter por muito tempo as pessoas que gosto ao meu lado, esse seria o maior pedido para o ano que se aproxima. Lógico que tenho objetivos traçados, sonhos a realizar; mas isso não se restringe a uma simples virada de ano - e deixo um pouco para essa relação minha comigo mesmo. Natal e reveillon se aproximam. Ótimas festas a todos! Qualquer hora volto por aqui.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Enxurrada de perdas...

O olhar se perdia como a pipa que não tem mais contato com as mãos da criança, que se entrega aos ventos e tem destino incerto. A tristeza batia no peito, roubando o ar, sendo cruel, dura, real. Era preciso recomeçar, era necessário olhar para frente com esperanças, mas tirar da onde? O certo era sua solidão, não havia mais casa, não tinha mais os pais, nem a irmã; perdera o chão.

As chuvas levaram toda história, em poucos segundos destruiu anos de vida. Nunca houve luxo, nunca faltou nada. E agora, o que restou? Somente os olhos perdidos, o entregar da dor vencendo a luta diária. Os amigos estão por perto, mas não sabem como ajudar. As pessoas estão ali, mas a solidão é interior, é fria...

Ele levanta do que restou da casa e pega um porta-retrato com o vidro trincado. Ali estavam eles: O rapaz, o pai, a mãe e a irmãzinha. Mas eles estão só ali, eternizados, sem movimentos naquela foto. E o rapaz foi o que restou. O choro voltou ao rosto, por que fui o único poupado? - se perguntou. Parecia não ter forças para conviver com aquele turbilhão...

Esfregou os olhos tentando conter os soluços, paralisou seus movimentos em busca de resposta. Olhou ao redor, percebendo cada semblante das pessoas que ali estavam. Viu que não estava abandonado, mas o momento era dominado pela dor. Correu em direção ao irmão de seu pai e o abraçou com força, com raiva. Sufocou uns longos minutos naquele abraço, ambos mudos, ambos juntos na dor. Era dali que reconstruiria sua vida, a cabeça agora estava borbulhando, muita perda para entender sua dimensão. Até esboçou um sorriso, mas se puniu, com lágrimas tomando conta novamente...

domingo, 17 de julho de 2011

Devaneios e o retorno ao ESCONDIDIN.

Estou distante do ESCONDIDIN, nosso relacionamento está estremecido. Não, não.... Ele fica aqui, meio adormecido, deixado de lado por esse que vos escreve, mas não sai do lugar; fica como que só aguardando um retorno, uns rabiscos a reescrever uma nova história, um despertar do preguiçoso blogueiro.

E nossa relação é essa mesmo, as vezes consumo demais o simples blog dos poucos leitores, as vezes o abandono a própria sorte, deixando de lado pra ver se ele adquire vida própria, se sobrevive das próprias pernas - ou seria das próprias letras? Mas sempre volto, sempre volto.... Demoro pouco ou muito para retornar ao lar do meu desafogo das palavras, mas, como aquele filho que busca vida nova longe da casa dos pais, há sempre o reencontro, o dia de retornar para rever os velhos, reabastecer das energias infantis, curtir os papos do que aconteceu e do que acontece mesmo com a ausência inevitável. E com o blog também é assim, há sempre o retorno. Desafogo aqui as impressões que me sobrecarregam nas semanas e nos meses sem postar nada, assim como os sentimentos que me consomem e as experiências que adquiro.

Escrever pra mim é como se aproximar do mar. É olhar pra frente e ver o infinito azul que se apresenta, o infinito de possibilidades, a imensidão dos sonhos a serem alcançados. É respirar aquele ar de maresia, sentir a areia fria agarrar aos pés. Poucos minutos já bastam para estreitar essa relação. Tanto lá na praia, com a mente aberta; como aqui, com as letras em profusão. Os devaneios que saem dessa mão inquieta são como os barcos que rasgam a fria água do mar. E eu continuo aqui, com a vela do barco aberta, deixando o vento me levar no melhor caminho, mesmo com as inevitáveis tempestades...

sábado, 21 de maio de 2011

Divagando 3...

(Texto em homenagem ao tio Assis - do estilo que ele gostava).

Comecei a divagar, no meio desse barulho, dessa ressonância de conversas que me envolvem. Tentei parar meus pensamentos e focar no texto a ser lido - o mesmo que serve como rascunho desse que vai surgindo... Mas parece impossível, quando minha mente se inquieta, quando os dedos tomam a caneta, é como se eu psicografasse uma avalanche de palavras e ideias desconexas. Mas esse emaranhado sem rumo toma uma mesma direção e parece ganhar forma - a criatura começa a ganhar uma cara, sou passageiro do meu próprio texto.

Canso as pernas num balanço sem fim, externo ideias, pipocam vontades. Desse turbilhão vou me descobrindo e me (re)construindo. Já não sou mais o mesmo de antes, agreguei valores, joguei fora manias e sentimentos, mas ainda possuo a essência do menino, ainda creio na vitória das coisas boas, no aperto de mão, no olhar nos olhos, no beijo sincero, nas palavras da alma. Posso estar bradando para um mundo que não quer ouvir. Não me importo, reflito em mim mesmo os meus pensamentos. 

Cada dia mais tento dar menos valor aos bens materiais. Reconheço a importância de alguns, reparto a desimportância da maioria. Prefiro ficar com o que vale. Aposto - aposto alto - no valor do que de fato tem valor. Meus defeitos e limitações borbulham e me afastam do ideal, mas essa luta, essa busca é que recicla os objetivos. Hoje falo mais, externo mais o que penso; só que ouço muito, tento aprender com os ouvidos, ouvir com os olhos inquietos.

Os erros se multiplicam, mas me orgulho deles. Não sou máquina, vivo do lado oposto da perfeição. O que escrevo é a trilha de migalhas de pão que vou deixando pelo caminho. Convido-o(a) a caminhar comigo. Não há luxo, não há promessas nem ilusões. Só que há passos firmes, vacilantes; mas repletos de sinceridade.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Releitura: "Meu pátio, minha história".

Continuando nas 'comemorações' dos três anos do ESCONDIDIN, hoje publico um texto "escondido" nesse espaço no dia 03 de setembro de 2009. Espero que gostem dessa releitura e deixem seus comentários. Qualquer hora volto com texto inédito.

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Os carros enfileirados são como lembranças do passado. Cada modelo é o representante de um tempo e suas histórias, sua data de fabricação é seu número de identidade. Aquele lá, o FUSCA marrom é o mais velho de todos, remete-se ao tempo da ditadura. Veja como em sua lataria e nos detalhes o tempo foi cruel, como sofreu o coitado...

Olhando mais adiante, encontramos uma velha relíquia, aquele MONZA VERMELHO com fita verde e amarela amarrada na antena. Ele, apesar da idade, transborda jovialidade e não se cansa de repetir, através do ronco do seu motor, que fez parte do movimento das DIRETAS!

A história vai mudando o design dos veículo. Eles ganham em tecnologia e em modernidades diversas. Vejam o ar esportivo daquele ESCORT XR3-amarelo-conversível, todo exibido ali em cima. Teve que modificar o motor depois de ficar “sem voz” de tanto repetir em alto e bom som: “É Tetraaaa....”, em 1994. Mas não há arrependimento, há 24 anos o Brasil não ganhava uma Copa do Mundo.

Mas os anos pós-Tetra parecem passar - covardemente - mais rápido. Mal pude curtir a primeira geração do GOL-BOLA e os filhos, netos e bisnetos desse sucesso de vendas já rodam modernos e fogosos pelas ruas. Só que meu pátio imaginário continua cheio de relíquias apossadas por mim nesse meu poder de sonho. Ainda há TEMPRAS, de um luxo definidor que marcou época; CORSAS e sua capacidade de manter-se na ativa; HONDAS, mais que luxo e rompedor de um passado pacífico para um presente avassalador.

Todos esse veículos, e suas respectivas épocas, são apenas uma construção histórica do período em que nasci, que acompanhei de fato os fatos, e que perdura até hoje, com toda essa vida agitada - que mal cabe em 24 horas.

Esse luxuoso (mais de lembranças pessoais que em valores) pátio não existe de verdade, não possuo esse poder financeiro de colecionar ícones de épocas que retrataram momentos marcantes. No entanto, em minha memória, cada peça desse museu tem valor inegociável. São relíquias que me formaram e me formam, tendo como único preço o tempo, que cobra caro e passa sem piedade.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

De Plástico ou de verdade?

Hoje resolvi republicar um texto ESCONDIDO aqui em julho de 2010. Para aqueles que não tiveram a oportunidade de ler, espero que gostem! Aí vai:

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As vezes me sinto empoeirado, como uma planta de plástico invisível na mesa de jantar. Preciso me transformar em natureza verdadeira, receber água que garantirá a vida, ganhar cor, respirar ares de um novo viver.

A vida da planta é curta, um rápido tiro de conseqüências belas. Afinal, de que adianta viver muito se num breve existir ela exala perfume e inspira amores?! Prefere manter-se breve, mas intensa.

Plastificá-la significaria eternizá-la na mediocridade, transformá-la num infinito sem vida nem cheiro, ela não escolheria esse caminho.

Nesse mesmo devaneio, me questiono sobre esse louco dia-a-dia que nos metemos. Enlouquecemos na rotina enfadonha, tudo em nome de alguns reais que garantirão a sobrevivência. Somamos dívidas, somamos bens, sonhamos com luxos imaginativamente perfeitos. Mas esquecemos de momentos fundamentais: Assim como as plantas, precisamos criar raízes para sobreviver por mais tempo, para nos solidificar no terreno que pisamos, nas relações que mantemos e até nos sonhos que sonhamos.

Só que a raiz não fica visível. Apesar de fundamental, ela está enterrada, colocada sob a terra, escondida dos olhos dos outros. Assim é nossa vida, devemos nos preocupar com o que vai além do olho alheio, além do julgamento pela aparência física, que um dia envelhecerá e será só marca do tempo. O mais importante, ou melhor, o mais substancial está enraizado, invisível aos  olhos. Mas essa invisibilidade é o que define nossos valores, é a nossa impressão digital, o que nos encanta e nos faz ser motivo de encanto pelos outros.

Admirar alguém, ou uma planta, por exemplo, é isso. É olhar aquela pessoa e perceber o que vem além do que os olhos alcançam, é se encantar por uma beleza escondida naquele interior, é não ter uma explicação por  tamanha admiração, mas somente senti-la. Amizade é isso, amor verdadeiro também.

Afinal, quantos sentidos não são aflorados nos momentos em que estamos com a(s) pessoa(s) especial(is)? E, além daquela flor que enfeita o jardim, que recebe fleches de várias máquinas fotográficas, há outra ao lado (conseguem ver?). Essa última é muito menos exuberante, muito mais defeituosa, muito mais simples; mas, para alguns ou para alguém, ela será motivo de encanto, receberá o fleche mais importante e se transformará de um simples adereço de plástico, numa maravilhosa flor inspiradora de um grande buquê.


quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Uma noite a observar....

Já falou tantas vezes, já ouviu tantas palavras e ainda é um ser em construção. Já somou bens, amores, dívidas, realizações; mas corre para buscar o novo. Novo?

Já respirou ares de montanha, de praia, tremeu de frio, ensopou no verão, mas ainda guarda energia para um tempo que está por vir.

A música preferida já tocou, o melhor filme já foi visto só que não cansa de sonhar com a melodia pessoal, o acorde no tom perfeito.

Enquanto houver essas conquistas a serem buscadas, enquanto traçar na mente um caminho novo a ser percorrido, esse senhor a minha frente não se dará por vencido. Ele se encontra aqui, imaginariamente a minha frente, sentado a duas fileiras de poltronas, enquanto a barca rasga a Baía de Guanabara.

O vento que lhe escorre pela face é denso, quase perceptível perto dessa invisível brisa que me vem espantar o calor. A natureza é sábia, sabe como tratar os mais velhos...

A barca chega a seu destino, ele demora a levantar-se, parece querer aproveitar cada minuto, cada fração de segundo que a vida lhe proporciona. Invejo aquela calmaria, tento interiorizá-la, mas ela não é minha, ainda não faz parte do meu repertório...

Passo pelo senhor e desço as escadas apressado. Antes, porém, olho pra trás e sou recebido com um sorriso. Ele parece ler meus pensamentos. Rio constrangido e sigo meu caminho.

Me perco na loucura da multidão da cidade grande; me acho na calmaria do papel, da caneta, do mar - e eu.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

De plástico ou de verdade?

As vezes me sinto empoeirado, como uma planta de plástico invisível na mesa de jantar. Preciso me transformar em natureza verdadeira, receber água que garantirá a vida, ganhar cor, respirar ares de um novo viver.

A vida da planta é curta, um rápido tiro de conseqüências belas. Afinal, de que adianta viver muito se num breve existir ela exala perfume e inspira amores?! Prefere manter-se breve, mas intensa.

Plastificá-la significaria eternizá-la na mediocridade, transformá-la num infinito sem vida nem cheiro, ela não escolheria esse caminho.

Nesse mesmo devaneio, me questiono sobre esse louco dia-a-dia que nos metemos. Enlouquecemos na rotina enfadonha, tudo em nome de alguns reais que garantirão a sobrevivência. Somamos dívidas, somamos bens, sonhamos com luxos imaginativamente perfeitos. Mas esquecemos de momentos fundamentais: Assim como as plantas, precisamos criar raízes para sobreviver por mais tempo, para nos solidificar no terreno que pisamos, nas relações que mantemos e até nos sonhos que sonhamos.

Só que a raiz não fica visível. Apesar de fundamental, ela está enterrada, colocada sob a terra, escondida dos olhos dos outros. Assim é nossa vida, devemos nos preocupar com o que vai além do olho alheio, além do julgamento pela aparência física, que um dia envelhecerá e será só marca do tempo. O mais importante, ou melhor, o mais substancial está enraizado, invisível aos  olhos. Mas essa invisibilidade é o que define nossos valores, é a nossa impressão digital, o que nos encanta e nos faz ser motivo de encanto pelos outros.

Admirar alguém, ou uma planta, por exemplo, é isso. É olhar aquela pessoa e perceber o que vem além do que os olhos alcançam, é se encantar por uma beleza escondida naquele interior, é não ter uma explicação por  tamanha admiração, mas somente senti-la. Amizade é isso, amor verdadeiro também.

Afinal, quantos sentidos não são aflorados nos momentos em que estamos com a(s) pessoa(s) especial(is)? E, além daquela flor que enfeita o jardim, que recebe fleches de várias máquinas fotográficas, há outra ao lado (conseguem ver?). Essa última é muito menos exuberante, muito mais defeituosa, muito mais simples; mas, para alguns ou para alguém, ela será motivo de encanto, receberá o fleche mais importante e se transformará de um simples adereço de plástico, numa maravilhosa flor inspiradora de um grande buquê.

(Imagem retirada do site: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhluEsyoSjAOSxjkctk6sZ6XxAGVwX4yfqM_XoE47VbJax29jGD4gSR0PYvDIJPYkZ_1PatiKn0i1Ehs5CFxTshq_55g0ov9pZA78Mfu6sfGn2GpSCzB3FfbvYWF2RIeLwjT-OPbYzj0txJ/s400/flor+voa.jpg)

domingo, 30 de maio de 2010

Chapinha na mochila.

É amigos, não estranhem o título do post de hoje, é isso mesmo que vocês leram: Chapinha na mochila. 

Os anos vão passando, vamos envelhecendo e ficamos, cada dia mais, surpresos com as novidades da molecada. Outro dia eu voltava para minha casa do cursinho, de ônibus e, para variar e pelo tenso horário, o ônibus estava lotado de crianças indo para suas escolas. Fiquei ali na minha, sentado no fundão, mas só prestando atenção na conversa de duas meninas que aparentavam ter, no máximo, quinze anos. Uma delas, a mais bonitinha - mas bem metidinha (desculpem o pré-conceito, mas não consigo definir de outra maneira) - portava uma mochila enorme, quase do tamanho dela, e socada de objetos que (imaginei) fossem material de escola. 

Até aí tudo normal, papos de criança mesmo, coisas sobre os meninos da sala, sobre o celular novo..., até que a figurinha brada com todo pulmão: - Trouxe minha chapinha na mochila. Vou aproveitar que a gente vai chegar um pouco mais cedo para arrumar o cabelo no banheiro da escola.
- O que? - perguntei para mim mesmo. Fiquei assustado com o desenrolar da conversa: As duas ali, na maior naturalidade falando da esperteza de uma estar portando a tão sonhada chapinha de cabelo. Como as coisas estão mudadas!!

Tentei puxar na minha memória o tempo que eu tinha quinze anos. Puxa, minha vida se restringia ao colégio, muito futebol e umas (não muitas) paqueradas na escola. Até as meninas da minha sala, já se assanhando pela prenúncio de uma adolescência, não tinham aquele comportamento tão fútil, tão sem conteúdo, tão vazio.

Tudo bem, uns podem me chamar de velho, de conservador e até de preconceituoso, mas, para mim, não é algo natural uma criança de quinze anos levar chapinha para a escola. Vejam, caros amigos, como os valores estão distorcidos! Que adulto se tornará essa menina? Que importância ela dará a sua família, seu trabalho, seus amigos? Será ela uma vítima do nosso mundo cego pelo consumo, onde o que serve e quem serve é aquele que pode ter as coisas, ou parecer ter as coisas? 

Essas perguntas invadiram minha mente quando desci no meu ponto. Olhei com certa pena aquela menina indo embora dentro do ônibus. Fiquei pensando nos pais dela, no que ela tem, de fato como algo a ser valorizado na vida. Será exagero meu, meus caros?

Tive muita vontade de conversar com ela, perguntar o que de fato ela acha relevante? Qual a escala de importância em ter um celular de ponta, e cultivar uma amizade verdadeira?! Mas, claro, ainda não cheguei nesse estágio de insanidade. Fiquei assustado, confesso! As coisas materiais e os relacionamentos descartáveis estão tomando lugar de laços de verdade. Tudo se resume a nossa (horrível) lógica do consumo: - Compramos o aparelho mais moderno para sermos reconhecidos como parte de um grupo e utilizamos aquele objeto até que ele perca seu status. Em seguida, descartamos o aparelho substituindo-o por outro. 

Essa é a lógica do consumo! O pior, no entanto, é quando essa lógica começa a valer também para as relações pessoais: - Utilizamos (as vezes de forma inconsciente) a pessoa (ou grupo de pessoas) até achar outra (outras) mais interessante(s), descartamos a anterior e entramos novamente nesse triste ciclo de relações superficiais. E assim vamos descartando, não só os relacionamentos, como também nossas próprias vidas. E experiências verdadeiras e marcantes deixam de ser vividas, tudo em nome dessa futilidade contagiante.

(Imagem retirada do site: http://www.jjcabeleireiros.com.br/uploaded_images/chapinha-cabelo-taiff-760987.jpg)

segunda-feira, 3 de maio de 2010

...crescendo...

É curioso constatar como o amadurecimento é um caminho sem volta. Mas digo isso no sentido mais positivo do termo. Tirar lições de momentos difíceis, aprender com os problemas e percalços que a vida nos apresenta é inevitável e essencial para o crescimento.

Curioso: as vezes, no meio do olho do furacão, sofrendo por qualquer problema é que nos deparamos com forças interiores que, muitas vezes, jurávamos não ter. Esses momentos agudos de dor - as vezes durando algumas semanas ou meses - nos trazem lições mais definitivas do que anos vivendo na normalidade, com poucos obstáculos; tudo “controlado”.

E vamos aprendendo e amadurecendo sem perceber muito bem. O lado de dentro do ser humano vai sendo mudado pelos acontecimentos e, muitas vezes, não temos tempo (ou não queremos) para enxergar essas mudanças.

Lógico que seria mais fácil aprender as mesmas coisas nos momentos bons, como que nos alertando que não precisamos da dor para aprender isso tudo. Mas não, isso é impossível... Nas dificuldades é que lutamos fortemente para manter a rotina mais simples, para continuarmos olhando adiante para aquela luz que não se apaga.

O que se leva disso tudo? Nosso passado é definitivo, mas nosso presente e nosso futuro dependem dos passos que damos. E, para aqueles que acreditam em Deus (algo maior), como eu, há coisas no mundo que só Ele pode explicar. Mas, é claro, que as chaves do futuro também dependem das nossas escolhas.

Além disso, e para encerrar nosso bate-papo, como é bom ter amigos nesses momentos de dor. Eles funcionam como grandes molas de incentivo, não nos deixando ir ao chão, mesmo quando parece inevitável. Quem tem amigos de verdade entende essa relação (nisso eu sou um sortudo!). É dedicação - cada um de sua maneira - para toda hora.

E, como diz a música Mar de Gente, do Rappa:

“Brindo a casa,
Brindo a vida,
Meus amores,
Minha família”.

Amigos que se escondem por aqui, não deixem de comentar.


(Imagem retirada do site: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3-ob-xgjgSPaBTN11AulllvsHs_P-JfJGqlIZefepopJmGAQ5k4a3MUa2GjDteK3vtUvta01r80xUKyAa2xTqyPgsDmKwNrp_kr9E2PTeMzFUKZZHLuGPttG87TOGyIvYbEbX_2umlGc/s660/corrente-amizade.jpg)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Caminhando e sonhando...

Ações simultâneas nos acometem... Trevo de quatro folhas no bolso e vou caminhando... Vou lento, vou rápido, mas vou. De repente, através dos olhos úmidos, me deparo comigo mesmo atravessando a rua. Isso, uma cópia idêntica. Cópia não, sou eu mesmo em todos os sentidos. Como é curioso me ver vivendo... A roupa, o jeito de andar, as expressões, a coceira na cabeça; tudo ali na minha frente. Divirto-me com essa sensação. Tento provocar um encontro entre nós dois. "Nós" porque essa palavra é de primeira pessoa e, mesmo sendo dois, sou um só.

Confusão, um nó na cabeça de todos. Mas o encontro está aí. É bom perceber que faço parte da massa que anda rápida e individualmente em seu destino. Uns de óculos, outros, sem; uns com fones no ouvido, outros falando ao celular e eu, caminhando... Fiquei curioso e comecei a me seguir. Aonde iria esse sujeito tão próximo? O destino é o que menos interessava, o trajeto e o fazer o caminho era o que instigava.

Caminhei sorrateiro com medo de ser descoberto por mim mesmo. Orgulhei da gentileza que oferecia a uma senhora que atravessava com dificuldade a rua. - Eitâ homem bom, gente. Mas percebi "um quê" de preocupação em mim. Uma ruga forçada na testa, daquele franzir de quem está com algo (geralmente não muito bom) em mente. - Já vem a ansiedade me atacar novamente - pensei com meus botões. Mas não podia saber o que era. O negócio era caminhar, seguir...

Acordei todo suado. Olhei para o lado e vi o celular despertando (hoje em dia celular desperta e relógio faz ligação. Coisas da modernidade...). Não havia ninguém no meu quarto, muito menos um outro "eu" me observando. Não passou de um sonho. Ri de mim mesmo, ri do fato de me procurar no meu quarto e lamentei não ter ido até o final naquele sonho. Mas as vezes é melhor assim, deixa a mente vagar por esses campos da imaginação (parece até samba!). Levantei, tomei um banho e comecei o dia.

Ao sair de casa vi um sujeito parecido comigo. Tudo bem que nem parecia tanto, mas a clareza do sonho despertou novamente. Ele entrou no carro e seguiu seu caminho. Fiquei imaginando como seria a vida daquele sujeito. Pronto, enquanto o ônibus parava para eu entrar, eu já estava sonhando, só que agora acordado.



(Imagem retirada do site: http://nosasvoltascomahistoria.files.wordpress.com/2007/06/trevo.jpg)

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