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terça-feira, 1 de março de 2016

Curtir, compartilhar e engessar o pensamento.

“Quando eu falar JÁ o dia pode começar”. Essa frase simples, quase infantil, é a percepção que tenho de hoje, desses fenômenos da individualidade que se espalham na velocidade da luz. Estamos vendo nascer, anestesiados, uma geração das mais mimadas que já se teve notícia, decidida a escolher os rumos do mundo, mas, por outro lado, superficial como uma lâmina d’água, sem se aprofundar numa leitura (não só de livros e textos, mas de análise do contexto, de vida) dos assuntos que mais lhe interessam.

E como seres mergulhados na osmose social, temos  que nos precaver para não pegarmos esse vírus da mediocridade. O acesso às enxurradas de informação traz esse contrassenso do “se pode saber de tudo, mas não se sabe de nada”. Talvez pela facilidade das notícias à mão, através dos celulares, estejamos migrando o cérebro da cabeça para esse membro exterior ao nosso corpo. Mas, e o que vai substituir esse espaço vazio?

Tenho me assustado ultimamente com os discursos conservadores que se espalharam sobre os jovens. Fico me perguntando, quase que diariamente: Onde foi que erramos? Não tenho a resposta exata, mas acredito que a sensação de impunidade para a corrupção seja uma pista, um ponto para início de análise. Os escândalos de corrupção que são compartilhados pelos veículos estão no imaginário, abrindo espaço para (re)surgimento de ideias que pareciam superadas, como intervenção militar, por exemplo.

Mas quero caminhar mesmo sobre essa miopia do jovem, capaz de opinar sobre todos os assuntos, sem ter lido sobre nada. Esse novo olhar sobre o mundo me causa estranheza, mas me faz crer que talvez seja o caminho sem volta traçado pelas redes sociais. Hoje, nos abastecemos de manchetes compartilhadas por amigos/conhecidos, julgando ser aquela publicação nossa fonte da verdade – o limite do mergulho da informação, não se busca nada além. Pronto, a partir da postagem sobre o rompimento da barragem em Mariana, por exemplo, já se começa a tempestade de ideias mastigadas, sem ao menos saber que essa catástrofe aconteceu no interior de Minas Gerais (como já vi em sala de aula).

Está montado o cenário: acesso à informação, sem a possibilidade de leitura de uma matéria de jornal (ou revista, artigo,...) sequer. Assim, vamos construindo o mundo na nossa tela do computador, achando que as pautas e carências humanas são aquelas que coincidem com nossas relações virtuais, tendo a certeza que o que existe é só aquilo que o dedo alcança no “curtir” – que agora, pelo menos, se desdobra em outros botões de análise. (rs....).

            E vamos compartilhando por aí uma geração incapaz de montar argumentos para defender um ponto de vista, mas pronta para ter acesso sobre tudo; para ditar regras sociais, políticas, econômicas, cinematográficas, de culinária, etc. Mudar esse cenário é complicado, passa desde repensar a relação dos pais com os filhos pequenos - julgando que o tablet é a solução para o filho dar um momento de paz à mesa durante o almoço - ; até a certeza que os movimentos da Terra e as estações do ano vão acontecer sem a opinião e a nossa vontade. O mundo vai além do umbigo, muito além, no real e no virtual.


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