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terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Causo do pernilongo.

Essa história é real, ou melhor, é realmente baseada numa história real; mas é ficção.
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Trabalho nesse prédio há quinze anos. Já vi cada coisa nas dependências do condomínio que Deus até duvidaria dessas palavras tão fiéis. Mas é verdade, de namoros proibidos a ladrões tentando invadir essa área; de tudo um pouco já passou pelos olhos desse humilde servo de Deus.

Mas outro dia... ah esse outro dia foi incrível! Se não sabem, moro num quartinho que fizeram aqui embaixo, coladinho com os carros – eles aqui costumam chamar de quartinho da garagem. Lá vivo com Lurdes, a flor mais formosura que o Homem lá de cima colocou na minha vida. Estamos juntos há 22 anos, não temos filho porque é barriga demais pra alimentar e temos espaço de menos pra criar um cabritinho novo. Mas vivemos bem, ela cuida da faxina de uns apartamentos do prédio e o resto, todo resto da estrutura imobiliária (faxina e serviço de jardinagem) sou eu o responsável – qualquer problema é só me procurar: Zé Pedro às ordens.

Pois bem, deixa eu contar logo esse caso do domingo da outra semana já que logo-logo volto pros meus afazeres. Olha – coçada nervosa na cabeça – era um domingo, por essa luz que ilumina que o que eu vi foi verdade. Tem um senhor que mora sozinho num apartamento aqui do prédio. Ele vive dando umas fugidas no fim de semana e só retorna no domingo – já se falou muito aqui pra onde ele tanto vai nos fins de semana, mas intrometo não, minha relação é profissional com os moradores... A verdade é que nesse dia saí de casa (meu cantinho e da Lurdes) no intervalo do fantástico, aquele programa da televisão, para molhar umas plantas secas de sede... Esse morador de nome meio americano - acho que é seu Iná, mas não sei pronunciar - estava encostando o carro na garagem...

Ao estacionar percebi que ele demorou demais para sair do carro; melhor ainda, isso tenho que dizer com toda humildade é que sei observar sem ser observado. O homi de nome das Américas parecia incomodado com a presença de um mosquito dentro do carro. Jesus, a briga do homi com o inseto estava ficando séria... Ele batia no vidro, tentava pegar o bicho com a palma das duas mãos e nada. Vich, lembrei na hora do conselho de minha velha mãe quando mudei pra cidade grande pra ganhar a vida: - Filho, esse povo de cidade fica meio bitolado. A gente não consegue compreender as coisas que eles fazem não – sábias palavras de mamãe (que Deus a tenha...) eram essas diante dessa cena tão inusitada.

Lurdes estranhou meu atraso e veio atrás de mim – é ciumenta a garrucha (apelido nosso), viu? Expliquei a situação e ela me ajudou a tentar compreender. Naquele momento da chegada de minha garrucha, o homi estava pulando de um banco para o outro do carro, já tinha aberto os dois vidros da frente (num complexo botãozinho preto) e nada de sair, ou melhor, e nada do tal do pernilongo entrar no carro e do homem das Américas sair de lá... Ele já estava com a testa suada, cara de brabo que só e o pobre do bicho parecia zombar do poderoso do 301.

Lurdes ria que era sem parar. E eu brigava com ela: - O muié, nós não podemos rir dos patrões não. A situação ali é séria, viu? – franzindo as sobrancelhas. Quase que tomei frente à situação, ia lá ajudar o pobre do homi, mas tive medo de ser chamado do enxerido, deixa seu América se resolver por lá...

As portas do motorista e do carona já tinham sido batidas em tentativas frustradas de sair de lá. O senhor das Américas estava em posição de ataque, quieto, como que olhando para a presa esperando o melhor momento do ataque.Lurdes mordia os panos de prato pra não soltar o riso. Pronto, depois de muito tempo, de muita luta e muito suor, o homi conseguiu sair do carro sem deixar o inseto entrar. Eu já ia em direção ao meu quartinho, quando Lurdes chamou minha atenção, vermelha que só, para o carro novamente: - Oiá lá, bem...

Num é que o homi tranquilamente se encaminhava para o porta-malas, pra pegar um troço qualquer lá, mas – juro por essa luz, meu Deus – todo o trajeto era observado de perto pelo inseto. Já relaxado e assoviando aquele tal do Peixe Vivo, Iná abriu o porta-malas, colocou a mochila nas costas e quando foi bater a porta, foi surpreendido pelo astuto do pernilongo. O bicho conseguiu entrar no carro, olhou pro homi do 301 e riu – juro que riu, Lurdes também viu, por essa luz que me ilumina!

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