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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

2008 pra cá...

Há 9 anos eu criava esse blog. Nem lembro o motivo específico, mas lembro o contexto do já distante - impressionante - 2008.

Recém-formado em jornalismo, buscando espaço no mercado de trabalho, enquanto suava em manter a mente focada nos estudos para os variados concursos, o blog surgiu como um lugar para aquietar as angústias. 

Atrelado a essa zona de transição, tão complexa quando hoje analisada sobre a ótica geográfica, via o diploma do jornalismo, recém guardado na gaveta, perder importância nas empresas do ramo. Somado a essa desilusão, agustiava-me a sensação de ter escolhido, decidido e cursado algo que, na verdade, eu não me via atuando. Uau! 25 anos, formado, ainda vivendo com os pais e - hoje percebo - completamente perdido profissionalmente.

Olhando para trás, já me aproximando da meiuca dos trinta e poucos anos, vejo que aquele caldo de realidade/frustração me sufocava como um tsunami. Anestesiado, me refugiava na praticidade dos estudos para provas de concurso (sempre com duas, três e, no máximo, cinco vagas) para vagas de jornalismo e no blog - aqui mesmo, nesse ESCONDIDIN.

Escrever para mim sempre foi uma terapia, uma forma de organizar meu pensamento sobre determinado fato. Isso, admito, o jornalismo serviu como um treino, uma prática bastante repetitiva de sentar e suar. Pois, como aprendemos, a transpiração tem força muito mais intensa que o talento genial de Veríssimos da vida. Talvez por isso, quando ouço alguém falando (ou quando eu mesmo repito isso em sala de aula) que o estudo é algo que ninguém nos tira, eu logo associo a essa casca grossa que o jornalismo me ajudou a lapidar. A capacidade de externar nas letras aquilo que passa, de forma borbulhante, nas ideias.

Aqui nesse espaço, contando com os pouquíssimos, mas fieis leitores - em especial meu amigo Emílio e meu saudoso tio Assis (que apostava suas fichas azuis nessa letras que ainda engatinhavam) - fui traçando comentários, escrevendo crônicas, retratando, abusadamente, o que meus sentidos percebiam.

Terminar um texto é como completar um objetivo traçado num dia. Reler depois de um tempo então... é rir e até se esquecer que foi você que escreveu aquilo. Mas, como dizia lá em cima (lá vou eu organizando as ideias e escrevendo mais que a conta), 2008 era uma época que na internet os blogs se multiplicavam. Blogs e fotologs eram a moda, numa era de orkut (se não estou enganado), de um fortalecimento dessas relações virtuais. 

Aproveitei bastante as ferramentas dessa casinha digital, com enquetes muito votadas pelos 9 amigos, crônicas com continuação até a metade, enfim, me refugiei bastante tempo, gastando as palavras na telinha do velho PC.

9 anos depois, já imerso em outra realidade, professor de geografia, alguns anos mais velho, casado - muito bem, diga-se de passagem, as obrigações do cotidiano, mais as mudanças no perfil das redes virtuais, me fizeram deixar o querido blog mais escondido do que nunca.

Na inquieta dúvida de dar cabo a esse meio e externar as angústias em outro ambiente virtual, nunca consigo. Me considero uma pessoa bem desprendida de coisas materiais, mas só de pensar em fechar essa casinha e perder os textos que me retrataram ao longo desses anos... Ainda não é possível. 

Então, nessa conversa já sem pé nem cabeça, como diria vó, e já mais calmo quanto a angústia das letras que atormentavam aqui dentro, sigo, dentro da vagarosa presença virtual, postando algumas visões, muito mais pessoais, mas sempre, obviamente, convidando os amigos a lerem e dividirem os pontos de vista (que, agradeçamos à democracia, não devem ser iguais).

Para encerrar, li num texto do excelente jornalista Lúcio de Castro, dia desses, uma definição muito interessante sobre o jornalismo. Dizia a fera: "Antes disso, creio que vale te falar sobre o historiador inglês Edward Carr, autor da definição “que fatos históricos são como peixes no mar e historiadores são pescadores seletivos”, que escolhem os peixes que querem. Vale palavra por palavra para o jornalismo".

Foi um tiro certeiro na minha angústia na antiga profissão. Mesmo exercendo por pouco tempo (somando, não chegou a três anos), minha maior crítica e inconformidade era a empresa de comunicação tratar os fatos com uma isenção falaciosa e vender esse peixe para a população. E o jornalista, como meio, ter que passar essa imagem, mesmo sabendo que isso não é verdade: existe linha editorial, interesses de grandes anunciantes... Me sentia marionete, um ator passando um recado que não acredita para um público fiel. Como isso me fazia mal...

Hoje olho pra trás e vejo isso com clareza. O desafio da sala de aula talvez seja até maior, a responsabilidade eu não tenho dúvida que é. Mas, naquele espaço, posso, com todo caos, falta de incentivo político e social, entregar para o meu aluno toda minha verdade, sem falsas maquiagens. Me frustra muito quando não vejo resultado, mas minha consciência, acreditem, vai firme e forte na continuidade do trabalho.

1 comentários:

Emilio Lanna disse...

Estamos juntos, Carlinhos.
Fico feliz que você não vai fechar a casinha!
Abração!

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