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segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Costurado.

Por um dia gostaria de ter este poder: costurar as pessoas às suas qualidades, a todos os seus atos de bem. Pegaria cada indivíduo, analisaria sua vida por um instante e separaria tudo o que fez de bom - os defeitos estão fora de cogitação. Para não cometer equívocos e injustiças, começaria esta experiência comigo mesmo.


No entanto, olhando para mim, fica claro como é difícil fazermos avaliações de nós mesmos, separando o bom do ruim. É complicado termos posições críticas em relação as nossas atitudes, sermos juízes isentos de atos (e porque não idéias) praticados por nós mesmos. Afinal de contas, pelo menos teoricamente, sempre fazemos o melhor, o que julgamos mais correto, a perfeição mesmo (sem rodeio, pois nunca achamos que estamos errados).


Então - com agulha e quilômetros de linha na mão - comecei a separar meus atos "de bem", de homem direito, perfeitamente adaptado a rotina do ser consciente, humano, preocupado com o meio ambiente e eticetaras da boa conduta da vida em sociedade.


Quando olhei para o lado, a pilha de qualidades (vamos chamar assim, ok?) já atingia umas três vezes a minha altura. Resolvi parar e tentar entender o que eu estava fazendo.


Parei... Comecei então a analisar cada pedaço que formava aquela pilha. Será mesmo que eu era dono daquilo tudo?


Percebi que as coisas não são bem assim, que não é possível pegar um ser humano e tentar extrair dele - puro e simplesmente - atos ou sentimentos que são constituídos de forma muito complexa. Não se pode, na verdade, utilizar uma estatística exata para avaliar e classificar as atitudes de uma pessoa, pois muita coisa está envolvida neste jogo.


Para cada atitude que julgo correta, que tenho certeza de ter feito da melhor maneira, posso ter atingido alguém, ter passado por cima de alguma regra para me sentir bem; consciência mais que limpa.


Comecei, então, a desfazer aquela pilha, a descosturar o que já havia começado e a entender que cada parte daquilo pertencia a um mundo complexo, ligado a outros fatos, a outros indivíduos.
Não foi difícil, mesmo depois desse trabalho, observar os defeitos que eu não percebia antes. Eles borbulhavam aos montes, como que querendo me dizer que estão comigo a todo momento. Entendi o recado; percebi a necessidade de possuí-los também, na mesma proporção que minhas virtudes. Só não ousarei - mais uma vez - em separar esses dois irmãos tão diferentes. Não tenho esse direito. Por isso, posso dizer que hoje, me orgulho das minha qualidades, mas não abro mão dos meus defeitos.

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