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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Mundos Opostos 2 (continuação...).

[Caros amigos do ESCONDERIJO. Atendendo a pedidos, escrevo aqui a continuação do texto do "Mundos Opostos" (http://escondidin.blogspot.com/2009/01/mundos-opostos.html), publicado aqui mesmo nesse blog, no dia 20/01/2009. Espero que gostem do desenrolar da história. Aguardo o comentário de todos! Um abraço.]

Ele acordou doze horas depois, com uma dor de cabeça tremenda, uma ressaca terrível de suas perdas. Levantou meio zonzo e se deparou com o espelho que ficava ao lado do armário. Assustou-se com seu aspecto derrotado, envelhecera dez anos em apenas alguns dias. - Estou acabado - pensou. Tentou reorganizar seu pensamento naquele instante, tentou planejar um futuro digno, mas não conseguia imaginar sua vida sem sua esposa e sua filha. Como viveria agora?

Ligou a televisão num canal de notícias e foi para o banho. Enquanto ligava a ducha, ouviu lá de dentro os desdobramentos do acidente onde tudo aconteceu. Começou a cantarolar bem alto, só para não sofrer ainda mais com aquilo tudo. Trocou de roupa e pediu uma comida. - É hora de voltar para minha casa e repensar minha vida - falou alto.

Ele pagou suas despesas e saiu apressado da cidade. Quando atrevessava o viadulto para pegar a rodovia, avistou o casal do pedágio parado numa lanchonete. Estavam sem as filhas. Pensou em infinitas coisas em um segundo. Parecia passar uma história desconhecida em sua mente. Alguma coisa o levava àquele casal. Não conteve sua curiosidade e foi até lá para tentar descobrir sobre suas vidas.

Sentou no balcão ao lado dos dois e percebeu que estavam com um aspecto tranquilo, suave. Eles terminavam seus lanches e já se levantavam quando foram abordados por aquele desconhecido:

- Me desculpem a intromissão, mas outro dia no pedágio eu vi vocês dois com duas lindas meninas. Vocês não imaginam como fiquei pensando nas suas vidas....É difícil, acabei de perder miha filha e minha esposa - parou de falar, engasgado.

- Sinto muito pela sua perda... - afirmou o marido sendo interrompido pela esposa, que o empurrava para fora da lanchonete.

O silêncio foi profundo. Ele só pode observar os dois saindo em direção ao carro e a mulher olhando assustada para dentro da lanchonete. - Eu só queria saber das duas lindas meninas - afirmou cabisbaixo sem perceber que a garçonete não tirava o olho dele.

- Senhor, me desculpe - disse a jovem garçonete - acho que sei como ajudá-lo.
- Não minha filha, eu sou um caso perdido - respondeu sem encarar a jovem.
- Tudo bem, mas aquele casal acaba de voltar do Internato "Ursa Maior". Deixaram as duas filhas lá.
Ele olhou assustado para a garçonete, tentando entender a sua capacidade de ter essa informação assim, fresquinha. Antes que perguntasse qualquer coisa, a moça já adiantou:
- Aqui a gente ouve de tudo. É cada história que o senhor nem imagina - abriu um leve sorriso que, de alguma forma, reconfortou o professor.

Ele pegou o papel com o endereço do internato e partiu apressado sem saber o que iria encontrar. A garçonete ficou observando a partida do cliente e não parava de olhar a nota de cinquenta reais que ganhara como gurjeta. - Eu e minhas informações preciosas - pensou.

Ao chegar naquele bairro afastado, arborizado, com aspecto de interior de um país europeu, o professor se perguntava quais seriam os motivos que levaram os pais a deixarem as duas filhas ali, sozinhas e distantes deles. Questionava para si próprio a razão daquilo tudo, desde suas perdas ao abandono das meninas. - Vida ingrata - desabafou abrindo a porta do carro.

Percebeu que o lugar era dirigido por freiras de uma congregação que ele desconhecia - era ateu . Parou no portão de entrada da escola e ficou observando as crianças brincando num enorme pátio de grama, com muitos bancos e uma fonte no centro. Varreu com os olhos cada criança atrás das meninas do pedágio.

A freira já o chamava pela segunda vez:
- Senhor? Senhor? Está procurando alguém? - perguntou, impaciente.
- Ah, desculpe. É que.....eu, na verdade - mentalmente ele formulava a melhor mentira - dois amigos acabaram de deixar suas filhas aqui e eu não cheguei a tempo de despedir das pequenas. Será que a senhora... - antes que terminasse, a velha freira, vestida toda de branco, concluiu:
- Ah sei, o senhor está falando da Bianca e da Branca, não é senhor?
- Isso mesmo - afirmou um habilidoso professor de matemática.
- Elas estão lá em cima. Vou chamá-las - sorriu a simpática velhinha.

Pronto, ele não sabia como as duas reagiriam ao ver o desconhecido se passando como amigo da família. Pensou na encrenca que se metera, mas agora era tarde, a freira descia com as duas meninas de mãos dadas.

Ricardo, esse é o nome do professor, viu aquela imagem com uma emoção tremenda. Não conhecia aquelas duas princesinhas, mas tentava saber sobre suas vidas para se sentir melhor, continuar vivendo. Elas caminhavam com um olhar triste, olhos um pouco inchados, de quem acaba de passar algumas horas chorando.

Bianca, a mais nova, não largava a boneca de pano. Branca, dois anos mais velha, vinha segurando a mão da irmã e analisando o estranho que ficava cada vez mais perto.

A freira se aproximou de Ricardo e disse:
- Aqui estão as princesinhas - afastou-se uns três passos, distância suficiente para Ricardo ficar sozinho com as irmãs.
- Vocês não devem lembrar de mim, né? - sorriu Ricardo.
- Não - respondeu Branca balançando a cabeça.
- Eu sou amigo do pai de vocês, sabe? Eu vim aqui para falar que ele e a mamãe amam muito vocês duas, tá bom? - perguntou afirmando Ricardo, tentando ganhar a confiança das meninas.
- Mas por que eles não querem mais morar com a gente? - perguntou quase chorando a pequena Bianca.
- É que eles planejam trabalhar muito por um tempo, para depois vir aqui e levar vocês duas para uma casa bem legal, num lugar onde eles terão todo o tempo para curtirem vocês duas.

As duas esboçaram um sorriso. Pareciam imaginar aquela cena, com a família numa boa casa e as duas num lindo quarto, cheio de bonecas.

- Como é o nome dessa boneca linda? - quebrou o clima Ricardo.
- Lara. Ela está de vestido novo - disse a pequena Bianca mostrando a roupa para um assustado Ricardo, que olhava perplexo para a boneca.
- Lara?! Ela tem um nome lindo, sabia? O mesmo nome da minha filha... - ele segurou o choro e abraçou apertado as duas meninas que retribuiram o abraço, enquanto a freira se aproximava para levá-las de volta.
- Elas precisam ir, senhor - afirmou a velhinha, pegando as duas pelas mãos.

Ricardo beijou o rosto de cada uma das meninas e antes de se virar para partir chamou a freira e disse:
- Se em algum final de semana os pais delas não puderem vir visitá-las, a senhora me liga que eu venho aqui e fico, pelo menos por alguns minutos, fazendo companhia para as duas, tudo bem? - perguntou estendendo a mão com seu cartão.
- Sem problema - disse a freira pegando o cartão - O senhor só não tem autorização para sair com as meninas da escola, mas pode visitá-las quando quiser. Elas vão precisar de carinho mesmo - finalizou a senhora com um cumprimento e voltando para a escola com as meninas.

As duas se viraram, sorriram e deram tchau ao desconhecido. Ele sorriu e devolveu o aceno até elas desaparecerem lá dentro. Ricardo caminhou em direção ao carro numa mistura de riso e lágrima. Percebeu que sua vida ainda tinha algum sentido.

O amor por sua esposa e por sua filha seria todo canalisado, dali em diante, em levar um pouco mais de felicidade àquelas duas irmãs. Esse era um compromisso que tinha consigo mesmo.
- Tirarei forças para romper com minha solidão, tudo para ver o sorriso daquelas duas meninas. Não deixarei que o abandono de seus pais impeça que elas se sintam amadas - disse em voz alta para si mesmo, como que para ficar gravado em sua alma, enquanto acelerava o carro de volta pra casa.

10 comentários:

Anônimo disse...

Ô cara.
A história tá ficando muito boa. Boa mesmo. comece a planejar o capitulo três.
Estamos aguardando.
Um abraço.
Rubem
terapiadecutuvelo.blogspot.com

Ane disse...

Li na corrida, pois estou trabalhando... mais tarde passo aqui de novo para fazer um comentário melhor!

;)

assis horta disse...

Carlinhos, gostei muito, parabéns, estou esperando o terceiro. Pelo que espero vai ser espetacular, pois você tem talento.

Digho disse...

È UM TEXTO MUITO ENVOLVENTE DESPERTA CURIOSIDADE, AINDA MAIS PARA QUEM NAO LEU A 1ª PARTE COMO EU.SUCESSO COMO BLOG ABRAÇOS

Diógenes Daniel disse...

beem legal! Prende a atenção.

Rafael Horta disse...

Muito bom primo. Continue a história.

Anônimo disse...

Pode me passar seu e-mail, por favor?

Carlinhos Horta disse...

Meu e-mail:

cohgomes@gmail.com

Unknown disse...

POXA ASSISTI O UM E JA RELUTEI EM PENSAMENTOS O 2 , A CONTINUAÇÃO E A DEMONSTRAÇÃO DESSE FILME MOSTRA QUE NEM TUDO ESTA PERDIDO SEU TEXTO ESTA ESTUPENDO ADORARIA VER TUDO ISSO SEGUINDO EM UMA CONTINUIDADE CINEMATOGRÁFICA , SERIA ÓTIMO, MELHOR QUE MUITOS GRANDES GANHADORES DE OSCAR, PROSSIGA QUEM SABE A CONTINUAÇÃO BASEADA EM SUA HISTORIA DE CONTINUIDADE EM UM GRANDE EXEMPLO DE QUE MESMO FORÇAS DISTINTAS PODEM SIM TER UM MESMO RUMO UM MESMO DESTINO VOLTADO AS VONTADES DE TODOS PARABÉNS..... ESTAREI ACOMPANHANDO ...#MUNDOSOPOSTOSACONTINUAÇÃO

Unknown disse...

Achei muito top , e acho q o segundo filme será melhor q o primeiro.

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